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Leandro Vilar

segunda-feira, 23 de março de 2015

Angkor: o último esplendor do Reino de Khmer

No Camboja medieval, o Reino dos Khmer vivenciou entre os séculos XII e XIV o esplendor de sua civilização, até entrar num declínio que menos de cem anos depois, as grandes construções da capital Angkor, não passavam de ruínas engolidas pela selva. Neste texto procurei contar um pouco da história dessa imponente cidade cambojana, motivo de lendas e debates arqueológicos e históricos, acerca de como os cambojanos teriam construído tais monumentais templos e outras edificações. 

Introdução:

Até meados do século XX, creditava-se a "descoberta" de Angkor ao francês Henri Mohout, que no final da década de 1850 realizou uma expedição ao Camboja, e ali encontrou essas antigas ruínas. Mohout ganhou fama internacional com essa descoberta. No entanto, a cidade embora em ruínas e tomada pela vegetação, ela nunca foi abandonada totalmente. Monges budistas e e membros de populações vizinhas ainda continuaram a visitar a cidade desde sua decadência no final da Idade Média. Todavia, a cidade deixou de ser habitada. 

No entanto, os primeiros europeus que tomaram conhecimento dessa antiga cidade, foram os portugueses no século XVI. O cronista Diogo do Couto, em seu livro Décadas, relatou acerca das ruínas de Angkor. Ele conta que no ano de 1550, alguns portugueses em companhia do rei do Camboja, Ang Chan I (1505-1556), enquanto caçavam nas densas florestas, se depararam com antigas ruínas de pedra. De acordo com meistre, com a "redescoberta" de Angkor, o rei ordenou que a cidade fosse reabitada, e ela continuou a ser habitada até 1594, quando novamente foi abandonada de vez.

Em uma carta datada de 1599, o padre Carvalho, de origem espanhola, escrevendo sobre as riquezas do reino cambojano, fez menção a antigas ruínas de uma grande cidade de pedra, com opulentos templos e pagodes (tipo de templo budista) que lembravam dos japoneses (AZIZ, 1978, p. 17). 

No século XVII os relatos de europeus sobre Angkor continuam a surgir; o padre espanhol Gabriel de Santo Antônio, em uma carta, falou da existência de uma antiga cidade que supostamente teria sido construída por Alexandre, o Grande ou pelos romanos, pois não se acreditava que os cambojanos possuíssem tecnologia e conhecimento para erguer aquela cidade de pedra. Em 1793, o padre Langenois, missionário francês em Battambang, escreveu que Angkor teria sido construída pelos Malabares (povo da costa do Malabar na Índia), por volta do século I a.C. 

"Nos séculos XVII e XVIII, os monumentos de Angkor são, portanto, bem conhecidos dos missionários europeus. Suas narrativas, mais ou menos fantasistas, se reduzem a algumas frases admirativas, mas duas idéias importantes se depreendem de seus relatos: Angkor é uma espécie de capital religiosa, muito conhecida na Indochina; e ignora-se quem a construiu". (AZIZ, 1978, p. 19). 

Henri Mohout
O interesse dous europeus por Angkor só vingou na segunda metade do século XIX. Primeiro com um relato do padre Bouilleveaux, que publicou sua pequena relação em 1857 na França. Um ano após seu livreto ser publicado, chegava ao interior do Camboja, o naturalista Henri Mouhot (1826-1861). Sua expedição originalmente ao sudeste asiático visava pesquisas no campo da biologia, zoologia e geografia, pois Mouhot estava interessado em descobrir novas espécies vegetais e animais, e novas localidades. Em suas viagens através das selvas tropicais que o levaram a passar pelo Laos e Sião, Mohout chegou ao interior do Camboja, e se deparou com as ruínas de Ankgor. Na época ele pensou ter sido o primeiro europeu a ver aquilo, daí, ter sido considerado por algum tempo como o "descobridor" de Angkor. Mohout permaneceu algumas semanas explorando o local, fazendo uma série de anotações e desenhos, colhendo depoimentos dos nativos, inclusive escrevendo antigas histórias e lendas sobre o local, que posteriormente foram publicados na revista Le Tour du Monde, revista na época de grande circulação na França e em outras parte da Europa. 

Desenho de Henri Mohaut, retratando o Angkor Wat, 1860.
Na segunda metade do XIX, o interesse dos europeus por Angkor se intensificou; primeiro, pela ampla divulgação que alcançou os escritos de Mohout; segundo, pelo fato que o Camboja, Laos e Vietnã, foram se tornando protetorados franceses, o que facilitava a intervenção da Terceira República Francesa nestes países. Em 1863, o Camboja se tornou protetorado francês e no mesmo ano foi enviada a expedição de Ernest Doudart de Lagrée (1823-1868), a primeira do total de três, pois Lagrée, visitou o Camboja entre os anos de 1863 e 1867, realizando um vasto relatório sobre o país, além de uma descrição pormenorizada de Angkor. 

Mesmo com tais relatórios, ainda demoraria-se alguns anos até que se inicia-se os planos para revitalização e restauração da cidade. De acordo com Aziz (1978, p. 32-34), foi em 1897 que o Congresso Internacinal dos Orientalistas criou o Instituto de Pesquisas Asiáticas, cujo intuito era se promover expedições arqueológicas, históricas e antropológicas ao continente asiático. A partir desse instituto, em 1898, Paul Doumer fundou a Comissão Arqueológica da Indochina, especializada na região da Indochina francesa, China e Japão. Em 1907 foi criada o Conservatório de Angkor, órgão responsável especificamente pelo estudo do sítio arqueológico de Angkor.

A partir desse conservatório, os franceses começaram a promover no século XX, expedições regulares para se revitalizar a cidade. Primeiro se iniciou com a remoção da densa vegetação, pedras, lama e entulho, que tomaram o núcleo urbano, trabalho que levou anos para ser concluído. Para se ter noção desse colossal trabalho, em 1916, apenas uma parte do complexo central que abriga a Grande Praça e o Bayon (templo central), estavam limpos, o restante da cidade que talvez tenha abrigado centenas de milhares de pessoas, ainda estava encoberta pela floresta. 

Todavia, além dessa limpeza, foi também realizada a restauração de muros e parte das construções, principalmente as que ameaçavam tombar. Também se realizou uma massiva copilação dos desenhos, estátuas e escrituras, pois foram encontrados textos escritos em três línguas: sânscrito e páli (ambos idiomas indiananos) e antigo khmer (idioma local). O estudo linguístico se iniciou antes da restauração da cidade, a partir de cópias das escrituras que se conseguiu ainda no final do século XIX, mas tal trabalho só se intensificou com o andamento da revitalização da cidade. Mas graças a tais escritos, conseguiu se descobrir parte da história da cidade. 

O Reino de Khmer:

Os atuais cambojanos em parte são descendentes dos khmers, povo que teria migrado do norte da Indochina e da Índia, para a região do Camboja, mais especificamente nas terras do delta do rio Mekong; se misturando com os povos nativos. Não se sabe ao certo quando tal migração ocorreu, mas desde o século I d.C, já se encontram vestígios arqueológicos de vilas e cidades dos khmers no chamado Reino de Funan.

Mapa retratando os territórios dos reinos de Funan, Chemla e Champa por volta do ano 500.
Nos séculos que se seguem ao estabelecimento do Reino de Funan, os khmers lutaram com os Estados vizinhos de Chemla, Champa, Java, entre outros, pelo controle da região, sendo que foi no século IX, que se deu início a unificação da região. Ainda em 790, o rei khmer Jayavarman II rompeu sua submissão ao Reino de Java, retornando a Funan, para a cidade de Indrapura, a qual instituiu como capital inicial, pois ao longo de seu reinado, o rei morou em outras quatro cidades (Kuti, Hariharalaya, Amarendrapura e Mahendraparvata), sempre mudando sua corte e seu exército, pois durante seu governo Jayavarman II, promoveu campanhas de aliança e conquista. 

"Desde 802, data de sua ascensão ao trono cambojano, o poder de Jayavarman II na região do Tonle Sap é sólido e a obra da reunificação do país está quase concluída. Jayavarman II escolhe o Phnom Kulen, planalto gresífero que domina a planície de Angkor para ali fundar a última de suas cinco capitais Mahendraparvata. Nas alturas do Phnom Kulen que simboliza o monte Meru, Jayavarman II se faz sagrar "monarca universal" (Cakravartin) e "rei da montanha" recebendo de um padre brâmane, intermediário de Civa, o Linga fálico, símbolo do deus e essência da realeza". (AZIZ, 1978, p. 63).

Com tal ato, oficialmente o monarca khmer punha fim a vassalagem aos javaneses, declarava sua independência e sua reunificação com as cidades e vilas rebeldes, embora que alguns Estados vizinhos ainda não haviam sido conquistados ou declararam lealdade ao Cakravartin. Para alguns historiadores, Jayavarman II tornou-se de fato o fundador da Dinastia de Angkor, pois o rei instituiu a cidade de Angkor como nova capital, e segundo Aziz (1978, p. 64), o nome do reino foi trocado para Reino de Angkor

"Mas qual a origem desse nome? Angkor, do sânscrito Nagara, significa a capital, a cidade real. A partir do século IX, cada rei khmer constrói um templo, santuário consagrado aos deus protetor do reino que ele representa no curso da vida terrestre, e ao qual se identifica depois de morto". (MEISTRE, 1978, p. 65).

Mapa da região de Tonle Sap. As ruínas de Angkor ficam localizadas a norte da atual cidade de Siem Reap.
Mas para outros historiadores, a fundação da dinastia de Angkor só se efetivou mesmo anos depois com os filhos de Jayavarman II, Jayavarman III (850-877) e Indravarman I (877-889). Com o fim do reinado de Indravarman I no ano de 899, o Reino de Khmer se estendia para além do atual território do Camboja, e nos séculos seguintes continuaria a crescer. Todavia, estava estabelecida com esses três monarcas a Dinastia de Angkor.

A expanção da cidade de Angkor:

"A nordeste de Tonle Sap, grande lago situado no centro do Camboja, apenas emergindo da selva tropical, erguem-se os vestígios de Angkor. Altas torres de grés, largas calçadas debruadas de balaustradas imitando estranhos animais ou peronsangens monstruosos, pirâmides, vastas esplanadas de pedra forma uma verdadeira cidade abandonada, sulcada por fossos semientulhados ou poças de água estagnada". (AZIZ, 1978, p. 9-10). 

Embora tenha sido o rei Jayavarman II que iniciou a ocupação da área noroeste do lago Tonle Sap (Grande Lago), pois parece que não havia uma presença constante na região, foi apenas no final do século IX, no reinado de seu neto, Yashovarman I (889-890), foi que propriamente uma cidade foi erguida naquela região. Em 893, após concluir as obras de um templo no lago Indrataka, Yashovarman I decidiu fundar uma nova capital, a qual ele chamou de Yashodharapura, a qual consistiu do núcleo original da cidade de Angkor, em formato quadrilátero com cerca de 4 km de lado, totalizando uma área de 16 km quadrados.

"O rei khmer não busca somente a glória de associar seu nome à criação de uma cidade. Seu projeto, a um tempo político e religioso, prende-se ao próprio caráter de realeza khmer. Trata-se de "fundar uma residência sagrada cujo simbolismo devia estabelecer sobre a terra uma residência divina, irradiando sobre todo o reino", conforme afirma uma inscrição da época". (AZIZ, 1978, p. 70). 

O local de construção de Yashodharapura, foi o monte Phnom Bakheng, próximo ao rio Siem Reap. Phnom Bakheng se erguia numa vasta planície que séculos depois foi amplamente ocupada principalmente pelas plantações que abasteciam a grande população de Angkor como se supõe. Além desse monte, há outras duas importantes colinas na área: a Phnom Bok, a Phnom Krom e a Phnom Kulen. Além de campos favoráveis para a agricultura, a terra era fértil, havia abundância de pedras nestes montes, grande abundância de madeira e de caça, devido as densas florestas no entorno. Além disso, seguindo pelo rio Siem Reap se chegava ao lago Tonle Sap (também chamado de Grande Lago), local abundante em pescado. 

No século seguinte novas construções foram sendo erigidas, no entanto, foram nos séculos XI ao começo do XIII, que a cidade mais cresceu e chegou ao seu ápice como centro político, econômico e religioso do Império Khmer.

Em meados do século XI, o império voltou a se estabilizar após algumas décadas de crises políticas, relacionadas a sucessão real, guerras civis e algumas invasões, embora que nesse tempo, alguns monarcas aproveitaram para expandir os domínios do Império de Khmer ou de Angkor (como alguns se referem). 

"O longo reinado de Suryavarman I, que dura até 1050, é assinalado pela consolidação do poder central sobre as províncias. Homem enérgico, o rei anexa definitivamente ao império khmer toda a parte meridional do Sião, de Lopburi, a Ligor, e a maior parte do Laos meridional, até Luang Prabang. A administração das províncias é acompanhada de perto pelo rei, que exige de seus funcionários um juramento anual prestado diante do fogo e os atributos reais". (AZIZ, 1978, p. 79).

Com essa estabilidade política, administrativa e econômica, o monarca passou a dar maior atenção a obras pelo país. No entanto, um dos marcos do seu governo, foi a difusão do Budismo, pois embora já houvessem mosteiros budistas no império, o Hinduísmo ainda era maioria, mas nos dois séculos seguintes se verá uma inversão, onde o Budismo se tornará a religião oficial do Estado e de grande parte da população, embora não signifique e o Hinduísmo e seus vários deuses foram abandonados, pois preceitos tradicionais como se batizar nome de cidades e de reis com nomes indianos, associados a deuses como Vishnu, Shiva, Brahma, Indra, etc., além do fato de se erigir templos a tais deuses, ainda continuou a ser normalmente feito. 

Com a morte de Suryavarman I, seu filho Udayadityavarman II assume o trono. Durante seu reinado, o novo monarca realizou novas obras em Angkor, sendo uma de suas primeiras obras, a ordem para se construir um novo templo-montanha (tais templos aludiam ao Monte Meru, considerado a morada terrena do deus Shiva). Esse novo templo-montanha foi chamado de Baphuon, e foi construído na Grande Praça da cidade. 

O templo Baphuon construído em meados do século XI, durante uma reforma.
"Gigantesco monumento cuja pirâmide mede na base 120 por 100 metros, com uma altura total de 50 metros, o Baphuon constitui uma das mais formosas manifestações do gênio khmer. Sobre os muros dos numerosos pavilhões que fazem parte do templo, baixos-relevos figuram cenas míticas, ou representam homens e animais, combates ou cenas palacianas, esboçando assim, em largas pinceladas, um quadro da vida cotidinaa do Camboja da época". (AZIZ, 1978, p. 81).

Outra grande obra que o rei Udayadityavarman II ordenou, foi a construção de um segundo baray (grande reservatório), dessa vez localizado no oeste da cidade, pois já havia um no leste, o qual foi construído no reinado de Indravarman I em fins do século IX. Os dois baray eram usados para abastecer a cidade, mas principalmente para a rizicultura (plantação de arroz), pois os arrozais dependem de grande quantidade de água, pois tal planta é plantada dentro d'água. E sendo o arroz a base da alimentação no Extremo Oriente, havia essa grande dependência pelo arroz. O Baray Ocidental era maior do que o Oriental (o qual possuía 3,8 km de comprimento por 800 metros de largura), possuindo 8 km de comprimento e 2,2 km de largura, totalizando 40 milhões metros cúbicos de água.


Vista áerea do Baray Ocidental.
"Além do mais, como nos vai mostrar o arquiteto Henrique Stierlin, tudo está perfeitamente planificado desde essa primeira realização. "O baray", escreve esse autor, "encontra desde o início sua forma clássica: tem cerca de quatro vezes mais comprimento do que largura e se insere perpendicularmanente sobre a rampa que desce para o lago e sobre o curso do rio Roluos que serve para o alimentar. Essa disposição perpendicular resulta de uma observação judiciosa: se o lago aritificial fosse quadrado em vez de alongado, o dique meridional teria de ser mais alto que o setentrional, para compensar a inclinalão do terreno". (AZIZ, 1978, p. 119).

O trabalho realizado pelo arquiteto Stierlin e publicado em 1941, foi o primeiro do tipo, e bastante significante, pois nos revelou que o conhecimento de engenharia dos khmers era muito mais avançado do que se supunha; além do fato, que isso desmentia antigas teorias de que foram os macedônios, romanos, indianos e chineses que teriam sido os responsáveis por tais construções. A engenharia khmer era tão avançada quanto de outros povos espalhados pelo mundo, e possívelmente mais avançada de que algumas nações europeias da mesma época.es

Com os dois barays, a cidade de Angkor dispunha de 75 milhões de metros cúbicos de água para abastecer as plantações e a população. De acordo com Aziz (1978, p. 125-129), a zona agrícola da cidade dispunha de pelo menos 60 hectares, na maioria usados para o cultivo do arroz, mas também se cultivava feijão, favas, bananas, laranjas, cebolas, peras, abóboras, beringelas, cana de áçucar, etc. Por sua vez, Stierlin estimou com base em alguns cálculos que a população da cidade e de sua periferia, teria chegado em meados do século XI a pelo menos 700 mil habitantes, embora nã exista precisão quanto a isso, tal quantidade não seria impossível, pois havia cidades indianas e chinesas naquele tempo, que já passavam de 1 milhão de habitantes. Para Stierlin essa população teria sido possível graças a grande quantidade de disponibilidade de comida e de água para sustentá-la.

Nesse grande lago artificial, foi construída uma ilha, na qual foi erguida um templo dedicado ao deus Vishnu. Tal templo foi chamado de Mebon Ocidental, cujas ruínas ainda se podem ver hoje em dia, embora a estátua de Vishnu deitado já não exista mais. De acordo com Stierlin, o baray Ocidental e o Mebon, teriam ao todo levado pelo menos cinco anos, pois o lago não foi escavado, mas ergueu-se muros e inundou-se a área, usando as águas do rio Roulos. Por tal técnica de construção, popou-se bastante tempo, mão de obra e recursos.


A ilha do Mebon no Baray Ocidental.
Embora essas sejam as duas grandes obras promovidas no governo de Udayadityavarman II, outras menores foram realizadas, como a construção de canais, pontes, estradas, casas, estátuas, pequenos templos, ruas, etc. Todavia, o rei teve que interromper sua atenção as reformas urbanísticas da capital devido a novas ameaças dos Champas, que iniciaram novas revoltas. Udayadityavarman II não conseguiu colocar fim a todas revoltas, sobrando para seu filho, o rei Harshavarman III solucioná-las, mas o novo monarca governou por poucos anos, falecendo em 1080. Com sua morte uma nova crise de sucessão real eclode perdurando até 1113, quando Suryavarman II assume o trono do país. Sob seu governo, a cidade de Angkor vivenciaria seu apogeu.

Antes de dá atenção a capital, Suryavarman II tratou de por um fim nas disputas familiares pelo trono de Khmer, tendo derrotado seus tios rebeldes que não o aceitavam como novo rei; além do fato, que ele também aproveitou para expandir os domínios de seu império, invadindo terras do atual Laos, Vietnã, Malásia, Tailândia e Myanmar. 


O Império Khmer durante o governo de Suryavarman II, após o ano de 1128.
"Suryavarman II aparece como o mais poderoso soberano da Ásia, ao lado do imperador da China, que o reconhece como seu grande vassalo". (AZIZ, 1978, p. 84). 

De fato, os khmers nunca chegaram a confrontar propriamente o poderio chinês, embora tenham lutado contra os siameses, vietnamitas, champas, burmas, malaios e até contra os mongóis no século XIII. Todavia, naquela primeira metade do século XII, o império retomava seu poder, prosperidade e glória. Para celebrar suas conquistas, o rei ordenou uma série de obras, dentre elas a mais famosa foi Angkor Wat

Vista área do templo de Angkor Wat em dia de visitação.
O nome Angkor Wat é um nome bem posterior, que literalmente significa "templo da capital". Hoje em dia, muitas pessoas tomam tal templo como sendo uma cidade, mas na prática ele era apenas um templo, que também possuiu funções palacianas. A cidade de Angkor se estendia por alguns quilômetros em torno da ilha que Angkor Wat fica localizado. Não se sabe quantas pessoas chegaram a morar na cidade, mas estimativas variam de 20 mil a 500 mil habitantes. 

O templo foi erguido em homenagem ao deus Vishnu, possuíndo cinco torres que aludem ao formato da lótus, flor sagrada no hinduísmo. Angkor Wat também é um templo-montanha como o Baphon, mas com o diferencial de ser um complexo bem maior, e o principal monumento desta cidade, hoje conhecido.

"Mais, porém, que as cenas esculpidas em suas paredes, o monumento de Angkor Vat, por si mesmo, exprime a grandesa do soberano que a construiu. As proporções imponentes, a harmonia das linhas, a perfeição nos adornos das pequenas pilastras, colunas, baixos-relevos que percorrem os muros em várias centenas de metros: tudo concorre para fazer Angkor Vat uma grandiosa obra-prima arquitetônica à altura da ambição de Suryavarman II. No conjunto, esse templo, situado no ângulo sudeste do monte Bakheng, é colossofal: cobre uma área de 200 hectares". (AZIZ, 1978, p. 87).

No tópico seguinte, falarei mais especificamente de Angkor Wat, mas no momento, prossigamos com o desenvolvimento da cidade. Nos últimos anos do reinado de Suryavarman II, o velho monarca voltou a ter problemas nas fronteiras, além de novas revoltas provindas dos Chams. Com sua morte em 1150, o país vivenciava um momento difícil, que só viria a piorar pelos trinta anos seguintes, nos quais reis foram impossando e destronados em período de cinco anos em média. Os Chams recobrariam suas forças em no ano de 1177 invadiram e saquearam Angkor. 

Em seguida, nomearam seus próprios reis para governar o império. Os Chams permaneceram na capital até 1181, quando o príncipe Jayavarman consegue expulsá-los. Com a expulsão e derrota da revolta dos Chams, o príncipe é proclamado rei, tornando-se Jayavarman VII. Sob seu reinado, Angkor viveria seu último esplendor como capital do Império Khmer.

"Salvador da nação khmer, restaurador de Angkor, Jayavarman VII foi incontestavelmente o mais orgulhoso, o mais sedento de glória de todos os reis cambojanos. Mas esse guerreiro impetuoso é a outra face de um fino político, capaz de uma paciência infinta na espera do momento favorável à ação. Por último - aspecto mais desconcertante de sua personalidade complexa - o rei khmer é de um temperamento profundamente religioso, quase místico. Nele, o homem de ação, o homem de meditação e o místico coexistem numa surpreendente mescla". (AZIZ, 1978, p. 97). 

Além de ter sido saqueada, parte da cidade foi destruída, logo, o novo soberano decide construir um novo centro da cidade, que ficou conhecido pelo nome de Angkor Thom. O novo centro era cercada por muralhas de quatro quilômetros de extensão, se encontrando dentro de um quadrilátero. Se no governo de Saruyavarman II, o palácio ficava na ilha de Angkor Wat, no governo de Jayavarman VII, a corte foi transferida para o centro de Angkor Thom, local mais guarnecido, devido as muralhas, pois é preciso lembrar que a cidade de Angkor não dispunha de fortificações, e tal condição contribuiu para a capital ter sido facilmente conquistada. 

"A cidade de Jayavarman VII, Angkor Thom, é delimitada por um formidável fosso de quatro quilômetros de lado e 100 metros de de largo, protegido por uma sólida muralha de pedra. Duas grandes avenidas, de eixo leste-oeste e norte-sul, dividem a cidade em quatro bairros e terminam em quatro portas monumentais. Uma quinta porta, do lado leste, chamada Porta das Vitórias, permite acesso direto à Grande Praça de Angkor Thom". (AZIZ, 1978, p. 186). 

Mapa da cidade de Angkor, com seus principais monumentos.
"A primeira realização de Jayavarman VII é um templo-cidade situado a sudoeste do baray oriental: o complexo de Ta Prohm. Construído em 1186 para abrigar a imagem e o culto funerário da rainha-mãe, Ta Prhom, segundo a inscrição de uma estela traduzida por Geroges Coedès, era ao mesmo tempo um templo, um mosteiro e uma cidade". (AZIZ, 1978, p. 183). 

Ruínas do templo do Ta Prhom. Conhecidas pelas raízes da árvore que cresceu sobre o telhado do templo.
"O rei fortifica os muros da cidade, que constituem assim verdadeiras defesas. No meio da urbe, ergue-se o monumental templo-montanha do Bayon, com suas 54 colossais torres com caras, orientadas para os quatro pontos cardeais. Em torno do Bayon, grandes terraços esculpidos, chamados de Terraços Reais, conduzem a outros templos ou mosteiros budistas dedicados à memória dos parentes do rei. Inumeráveis, esses templos ocupam a menor parcela de terreno ainda livre em Angkor: citemos Naak Pean, Preak Khan, Banteay Srei, Ta Prhom, construído em 1186 e dedicado à mãe do rei. Preah Khan, ao norte de Angkor Thom, é datado de 1191 e consagrado ao culto póstumo de seu pai". (AZIZ, 1978, p. 99). 

"No meio da capital Angkor Thom, ergue-se o templo-montanha de Jayavarman VII, o Bayon. Essa construção, extraordinária por sua riqueza em símbolos, se situa num estilo "antípoda" da clareza e legibilidade de Angkor Vat. Aliás suas complicadas estruturas revelam que o edifício sofreu repetidos remanejamentos numerosos retoques que vêm modificar o plano inicial". (AZIZ, 1978, p. 188-189). 


Foto das ruínas do templo do Bayon.
"O recinto é formado de uma galeria de duplo pórtico aberto para o exterior, de 140 po 130 metros. O muro interior dessa galeria é todo recopberto de baixos-relevos. Oss assuntos rperesentados vão desde cenas de batalhas contra os Chams até as cenas, mais numerosas, da vida do dia-a-dia no Camboja do século XIII. Assim, ao contrário do afresco a um tempo oficial e convencional de Angkor Vat, os baixos-relevos do Bayon revelam uma arte popular, espontânea e realista". (AZIZ, 1978, p. 189).

Mural em baixo-relevo no Bayon, retratando uma batalha naval entre os khmer contra os champs.
O rei Jayavarman VII era budista, e embora não tenha sido o primeiro monarca a decretar publicamente como sendo budista, mas foi em seu reinado, que o budismo se tornou religião oficial do Estado. 

"No santuário central do Bayon, a estátua do rei é venerada não sob a forma de Civa ou de Vishnu, mas sob os traços de um Buda-Rei. Esse avatar de Buda patenteia que, não obstante suas convicções budistas, o rei não renega as antigas crenças e os rituais hinduístas que legitimavam até então a realeza angkoriana. Sob a influência de Jayavarman VII, o culto secular do deus-rei se transforma e se adapta ao espírito secular do budismo". (AZIZ, 1978, p. 99). 

As torres com rostos no Bayon.
"Jayavarman VII realiza no decurso dos 40 anos de seu reinado uma obra considerável, e não somente nos mosteiros, nos hospitais, nas instituições sociais que se multiplicaram. Estradas ligando a capital aos principais centro provinciais, num país mais extenso do que nunca, foram construídas, o sistema de irrigação foi aperfeiçoado com a escavação dos dois novos barays ao norte de Angkor". (AZIZ, 1978, p. 103). 


O Império Khmer entre os séculos XII e XIII, quando atingiu sua máxima extensão territorial.
Angkor Wat:

Para encerrar o texto, falarei um pouco mais sobre o templo de Angkor Wat, por este ser o monumento mais conhecido dessa grande cidade medieval cambojana. 

Estima-se que a construção de Angkor Wat tenha durado 28 anos, tendo se iniciado em 1122 e terminado em 1150, mas alguns historiadores apontam datas anteriores, sugerindo que o templo teria sido concluído em 1144 ou 1145. De qualquer forma sua construção foi um processo bastante demorado. Antes da criaçção do Bayon, Angkor Wat era o maior templo que seria construído, um projeto que necessitou de grande quantidade de recursos e de mão de obra. Além disso, havia outro problema: a cidade estava abarrotada de construções, então o rei Suryavarman II decidiu construir seu novo templo nas redondezas da cidade, para isso, ele escolheu uma áre a sudeste dessa. 

"No interior de um retângulo de 1.500 por 1.300 metros, dedução feita do fosso do templo, de 200 metros de largura, a área disponível é de um quilômetro quadrado, ou seja, de um milhão de metros quadrados. O conjunto das construções reservadas ao culto não ocupa mais de 100 mil metros quadrados. As superfícieses restantes, isto é, as quatro quadras de terreno delimitadas pelas duas grandes vias axiais, teriam uma finalidade particular? A maioria dos historiadores supõe que, no século XII, o conjunto de Angkor Vat formava uma verdadeira cidade. Os altos dignatários de Suryavarman II, os funcionários, os sacerdotes, os servidores do templo tinham ali suas habitações, construídas de materiais leves. A superfície habitável de Angkor Vat devia conter uns 20 mil habitantes. O próprio Rei Suryavarman II decerto tinha ali seu palácio". (AZIZ, 1978, p. 164).

Vista áerea de Angkor Wat. Hoje apenas o templo e seu complexo perduram de pé. As demais construções em volta, foram encobertas pela floresta.
"O dique de 200 metros, depois a via axial de 350 metros forma assim uma longa perspectiva que é preciso percorrer para chegar ao templo. Angkor Vat, com seus três andares percorridos por galerias, realiza a síntese da duas fórmulas do templo-montanha khmer: pirâmide e o templo plano. Nos templos com pirâmide, o santuário se ergue no último andar de uma pirâmide de degraus, que sinmboliza os níveis hierárquicos da cidade divina". (AZIZ, 1978, P. 167).

O complexo do templo é cercado por um muro de laterita, medindo cinco metros de altura, e possuindo pórticos com 235 metros de comprimento. O templo central, chamado de Bakan possui três níveis, e se encontra sobre uma plataforma quadrangular de 258x352 metros, que representa o primeiro nível. A cada 50 metros há uma escadaria. Em torno do Bakan, se encontram galerias que o cercam, que consistem numa muralha interna. 

Em tais galerias se encontram esculturas em baixo-relevo, possuindo dezenas de metros de comprimento; de fato, tudo no templo foi projetado para ser grandioso. Os painéis em baixo-relevo são bastante extensos e retratam cenas reais como caçadas, batalhas e uma procissão na qual o rei Suryavarman II foi retratado. Nos temas mitológicas, estão representadas batalhas divinas, cenas dos poemas Ramayama e Mahabharata (obras bastante importantes na Índia) e uma representação dos céus e infernos da religião hindu. 


Friso em baixo-relevo, representando o rei Suryavarman II diante de seus súditos. Acredita-se que tal friso foi esculpido após a morte do rei e tenha sido alterado nos séculos seguintesm recebendo retoques e acréscimos. Consiste num vasto painel de quase cem metros de comprimento.
"O segundo andar, com 10 metros de altura, é igualmente circundado por uma glaeria pontilhada de torres nos cantos e fechada para o exterior e totalmente despojada de esculturas. Parece que o segundo andar só era acessível aos sacerdotes que se tinham retirado do mundo exterior. Esse segundo recinto de 100 por 45 metros contém o enorme embasamento de 13 metros de altura, 60 metros de largura, sobre o qual se eleva o xadrez das torres". (AZIZ, 1978, p. 170). 

Duas das cinco torres do Bakan.
"O terceiro andar do templo-montanha era acessível ao rei e aos grandes sacerdotes somente, pois é em sua torre central que se celebrava o culto da divindade suprema. Essa torre é ligada às torres dos cantos e às galerias exteriores por galerias sobre pilares, formando assim uma espécie de claustro de quatro pátios. Essa construção de pedra, apesar da imponente massa do embasamento, se eleva num único arremesso até o céu". (AZIZ, 1978, p. 170).


Foto de um dos pátios internos do Bakan.
Angkor Vat é, a um tempo, harmonia nas linhas gerais e minúcia nos mínimos pormenores, sobretudo na decoração. Pilastras, plintos, painéis: cada centímetro quadrado de pedra é, ou decorado, ou esculpido. O resultado é estupefaciente: quilômetros quarados de cinzelamento em motivos florais ou folhagens, quilômetros de molduras esculpidas sobre os degraus que debruam o grande fosso, 10 mil pináculos de pedra reunidos no rendilhado que coroa as cinco torres, 2000 apsaras (dançarinas) de tamanho natural, cada uma diferente da outra, ou ainda o grande painel de baixos-relevos, que cobre todo o muro interno da galeira do primeiro andar". (AZIZ, 1978, p. 172). 
Esculturas de apsaras em alto-relevo. As apsaras eram mulheres que segundo a mitologia hindu, habitavam os reinos celestes, nos quais viviam os deuses.
Um último ponto a mencionar sobre Angkor Wat, local que serviu de complexo sagrado e palaciano, teria sido também local do túmulo do rei Suryavarman II e talvez de outros nobres. 

"Existem, contudo, indícios vários, inexistentes em qualquer outro templo, que fariam atribuir ao edifício um caráter funerário. Temos, logo de início, a orientação para o oeste, direção dos mortos por excelência, ao passo que todos os demais templos khmers se abrem para o sol nascente. Por outro lado, a leitura dos baixos-relevos, entre os quais figura uma cena de julgamento dos mortos, se faz no sentido dos cortejos fúnebres, isto é, com o monumento à esquerda. Finalmente, escavações revelaram a existência de um poço que desce até o nível do solo e no qual foram descobertos depósitos de alicerces, sob a forma de discos de ouro". (AZIZ, 1978, p. 180).

A tese de que Angkor Wat também seria um monumento fúnebre, hoje em dia é bem mais aceita, embora ela date dos anos 30, tendo começado com os estudos do arqueólogo Jean Pzryluski e de Georges Coedès. Os restos mortais de Suryavarman II nunca foram encontrados, talvez esteja enterrado em alguma câmara secreta abaixo de Angkor Wat, ou talvez seu corpo tenha sido cremado. Não obstante, o templo não apenas serviu como local de culto aos deuses, mas também de culto ao rei, algo comum da cultura khmer, mas também serviu como monumento de lembrança a vida, reinado e feitos de Suryavarman II. Local este, onde as pessoas continuariam a visitar e prestar suas homenagens e oferendas ao deus-rei. 

Considerações finais:

Após a morte de Jarayavarman VII em 1219, o império começou a declinar lentamente. E tal declínio foi acentuado no século XIV, com a invasão dos Tais, que em contínuas ondas de ataques, saques e destruição foi subtraindo dos khmer seus territórios. Em 1353, o rei dos Tais, Ramadhipati, invadiu Angkor Thom, e torna a cidade capital de uma das suas províncias. Os tais passam a governar em Angkor por alguns anos até serem repelidos pelos khmers, os quais conseguiram recobrar o controle da capital. 

No ano de 1431, o rei do Sião, Paramaraja II conquista Angkor e expulsando a família real khmer. Os khmer não conseguiriam reconquistar a capital, então viajam para o sul e fundam uma nova capital, chamada Phnom Penh. Desse ponto em diante, Angkor deixou de ser a capital Khmer, e gradativamente foi sendo abandonada pelos siameses. Um século depois, Angkor estava completamente engolida pela selva.

Graças as reformas realizadas ao longo do século XX, a cidade de Angkor hoje pode ser visitada, e isso foi facilitado com a construção do aeroporto internacional de Siem Reap, o qual fica próximo a antiga cidade. Não obstante, a UNESCO em 1992 decretou a cidade como Patrimônio da Humanidade, uma das mais preciosas relíquias arquitetônicas, arqueológicas e históricas do Camboja. A cidade hoje em dia, consiste num grande sítio arqueológico e ponto turístico, no entanto, alguns monges budistas moram na região, legado, da influência budista desenvolvida no século XIII. Existe também povoações de pescadores e pequenos agricultores vivendo nas redondezas dos barays

NOTA: O nome Camboja vem de Kambuja, antigo gentílico usado pelos cambojanos. Por sua vez tal gentílico é uma referência ao mítico fundador desse povo, o indiano Kambu Svayambhuva, rei dos Arya Deça. Segundo o mito, após perder sua amada esposa Mera, a qual teria sido criada pessoalmente pelo deus Shiva, Kambu, desolado, renunciou ao trono e vagou pelo sudeste asiático em desamparo, até chegar a região do que hoje é o centro do Camboja. Lá ele encontrou uma grande caverna que era habitada por Nagas (serpentes místicas que poderiam assumir a forma humana). Kambu posteriormente é recebido pelo rei daqueles Nagas, então acaba se casando com uma das princesas, da sua união teve origem o povo dos kambujas. 
NOTA 2: Existem algumas lendas que falam sobre a criação da cidade de Angkor. Uma delas, diz que o príncipe Preah Ket Mealea, filho de Indra, um dia visitou o palácio celeste de seu pai, e ficou fascinado com tais construções. O príncipe pediu ao seu pai que este empresta-se um de seus arquitetos; Indra escolheu Pisnukar, o qual teria projetado a cidade de Angkor. Essa lenda é conhecida como a lenda do "Arquiteto celestial". Outra lenda, diz que foi um rei celeste chamado Pra-Enn quem teria construído a cidade; uma terceira lenda, refere-se a um "rei leproso", e um quarta lenda, diz que foram gigantes que ergueram a cidade de pedra.

Referências Bibliográficas:
AZIZ, Philippe. Angkor e as civilizações birmanesa e tai. Tradução de Albertino Pinheiro Júnior. Rio de Janeiro, Otto Pierre Editores, 1978.

sexta-feira, 13 de março de 2015

Nero, o difamado?

O imperador Nero é um dos imperadores romanos mais conhecidos na História, principalmente associado a trágicos acontecimentos como ter ordenado a morte de sua mãe, ter ordenado que cristãos fossem jogados aos leões nas arenas, e supostamente ter tocado lira enquanto via parte da cidade de Roma arder em chamas. De fato Nero acabou se tornando paranoico, mas antes de isso ocorrer, ele era um bom homem, mas que teve o infortúnio de nascer numa família complicada, interesseira e traiçoeira. Neste texto procurei contar um pouco da história de sua vida, tendo como foco os acontecimentos que moldaram drasticamente seu caráter. 

Uma infância conturbada:

Curiosamente Nero não se chamava assim quando nasceu; seu nome de nascença era Lúcio Demécio Enobarbo, um nome em homenagem ao seu pai e a família deste. O pai de Nero era Gneu Domício Enobarbo (?-40), o qual pertencia a importante e rica família dos Enobarbo, os quais possuíam grande influência na vida pública romana, tendo nomeado sete cônsules, um triunfo e dois censores, segundo informou Suetônio. Além dessa influência política, os Enobarbo eram conhecidos por serem ruivos e terem olhos claros, algo que Nero herdou, pois ele tinha cabelos castanhos escuros, barba ruiva e olhos azuis. 

Estátua do rosto de Nero.
Ainda por parte de pai, Nero descendia do primeiro imperador romano, César Augusto (sobrinho-neto de Júlio César). Em termos genealógicos, ele era bisneto do primeiro imperador, sendo descendente deste por via paterna a partir da irmã de Augusto, chamada Octávia. Já por via materna, Nero era filho de Agripina, a Jovem (16-59), mulher bela, dissimulada, ambiciosa e ardilosa. Agripina era filha de Agripina, a Velha e Germânico

Sua mãe era neta de Augusto, e seu pai era um importante e honrado general. Agripina teve como irmãos, Júlia Drusila e Júlia Lívila, Druso e Nero, além de ser irmã de Gaius, o qual viria a ser o imperador Calígula (12-41). Por tais condições, Nero era descendente de Augusto por via paterna e materna, o que concedia sua legitimidade como membro da família imperial romana. 

Estátua de Agripina Menor, mãe de Nero.
Aos doze anos Agripina foi dada como esposa a Domício Enobarbo, por interesses políticos. O casamento foi tratado não por seu pai, mas pelo imperador Tibério (42 a.C - 37 d.C). No entanto, embora os dois tenham se casado na ocasião, não passaram a viver juntos, pois ambos não se amavam. Apenas nove anos depois foi que Agripina engravidou, e no mesmo ano, o imperador Tibério faleceu, e foi sucedido por Calígula (FRANZERO, 1958, p. 14-15). Pelo fato do novo imperador ser irmão de Agripina, Domício procurou se reaproximar de sua esposa e até deu o nome de sua família para o menino. No entanto, ele nunca foi um pai presente. Ele morreu no ano 40, quando seu filho só tinha 3 anos de idade. 


Calígula
Com a morte do marido, Agripina permaneceu viúva alguns anos, não apenas por escolha, mas também devido ao ciúmes de seu irmão Calígula, conhecido por manter relações incestuosas com as irmãs. Calígula descobriu que sua irmã possuía um amante, chamado Lépido, o qual era um dos ministros dele, e supostamente planejavam uma conspiração. Logo, o imperador ordenou a morte de Lépido e exilou sua irmã para a ilha de Ponza, mas se não bastasse tais atos, ele ordenou que Nero fosse retirado da guarda dela, e o enviou para ser criado pela tia paterna Domícia Lépida. Nero tinha três anos na época. No entanto, sua separação da mãe não durou muito. No ano seguinte, Calígula foi assassinado por Cássio Quéreas um dos membros da Guarda Pretoriana (a guarda real do imperador). Como o imperador não havia deixado herdeiros, a Guarda Pretoriana decidiu eleger como sucessor um dos parentes do falecido imperador, o escolhido foi seu tio Cláudio. Sob o governo do novo monarca, uma das medidas que ele tomou, foi mandar trazer sua sobrinha Agripina de volta, e reavê-la com o filho (FRANZERO, 1958, p. 18).

Embora Calígula fosse conhecido por suas loucuras, depravação e insensatez, pelo fato de Nero ter convivido tão pouco tempo com este, é improvável que tenha sofrido grande influência por parte dele, no entanto, a influência por parte de seu tio-avô Cláudio foi maior, embora ele não foi um homem louco, mas foi considerado um governante tolo e politicamente fraco. Todavia, sob o governo de seu tio, Nero e sua mãe desfrutariam de grande comodidade e segurança.

Dos 4 aos 10 anos de idade, Nero seria educado por um ex-escravo chamado Aniceto, e seria através de Aniceto que ele aprenderia a gostar de arte, especialmente de poesia, música e teatro (FRANZERO, 1958, p. 18-19). Aniceto era um homem que admirava a arte e gostava de ler poesia, ouvir boa música e ir ao teatro, lembrando que o teatro na época não era bem quisto pela elite e a nobreza, sendo considerado um espetáculo mais apropriado a plebe. De fato, ser ator naquela época era uma profissão sem status diferente do que vemos hoje em dia. 

Embora Nero se apresentasse, declamando poemas, tocando lira e cítara, atuando e possívelmente cantando, algo que alegrava o povo, nem todo mundo gostava de ver o imperador agindo daquela forma. Principalmente a elite, que achava aquilo indigno para imagem do monarca.

A medida que os anos foram se passando, Nero já era dono de uma pequena fortuna, parte deixada por seu pai e a outra pelo seu padrastro Crispo Passieno, com o qual a sua mãe ficou casada por poucos anos, até que esse faleceu (SUETÔNIO, 19_?, p. 159). Ao mesmo tempo, além de dono dessa fortuna, o garoto cada vez mais se interessava por música, poesia e teatro. Foi por essa época que ele começou a aprender a tocar lira.

O filho adotivo:

Com a morte do seu padrasto, sua mãe começou a procurar forma de garantir a Nero o direito ao trono, para isso, ela começou a conspirar de forma a se aproximar cada vez mais de seu tio, o imperador Cláudio.

"Mas Agripina tinha objetivos mais altos, e voltou-se para o liberto Narciso, que atuava como primeiro ministro do imperador Cláudio. Através de Narciso conseguiu insinuar-se junto ao imperador, que era facilmente vulnerável às artimanhas de mulheres habilidosas. Não demorou Cláudio a cair de amor por Agripina, tanto mais quanto aborrecido ele já estava de sua desagradável esposa Messalina". (FRANZERO, 1958, p. 18).

Mas antes que Agripina conquistasse sua ambição havia um grande empecilho no caminho: a imperatriz Messalina (17-48). Valéria Messalina foi a terceira esposa do imperador Cláudio que na época era um homem de meia idade. Deste casamento, o imperador teve dois filhos: Cláudia Octávia e Britânico. Britânico era o herdeiro do imperador, pois seu filho mais velho, Cláudio Druso, havia morrido anos antes. No entanto, Britânico era um garoto franzino e de saúde frágil, assim como seu pai, que era conhecido por ter uma aparência debilitada (as vezes ele sofria tremores, epilepsia), além de ser gago. 

Todavia, embora Messalina tivesse dado dois filhos ao imperador, o casal não se entendia bem. De fato, Cláudio não a amava como havia amado as esposas anteriores e viria a amar Agripina. Messalina que também não amava o marido da mesma forma, era conhecida por traí-lo, embora não saibamos se todos os boatos que Suetônio, Dião Cássio, Tácito entre outros autores romanos mencionam em seus livros, realmente tem um fundo de verdade, ou faziam parte da má fama que a imperatriz passou a nutrir . 

O imperador Cláudio. Tio-avô e padrasto de Nero.
Messalina foi assassinada no ano de 48, por supostamente conspirar contra o marido, e ter se "casado" com um de seus amantes, o senador Caio Silio. Não se sabe ao certo se Agripina esteve envolvida no assassinato de sua "rival", mas com a morte da imperatriz, o caminho estava livre para que ela pudesse conquistar de vez o amor do imperador, e isso não demorou para acontecer; no ano seguinte, Cláudio tomava Agripina como esposa, e em 50, ele reconheceu o sobrinho-neto como filho adotivo. 

Com esse reconhecimento, foi que oficialmente Lúcio Demécio passou a se chamar Nero Claúdio Druso Germânico. O nome Cláudio era homenagem ao seu pai; os nomes Nero e Druso, eram homenagens a tios, e o nome Germânico era uma homenagem ao avô (FRANZERO, 1958, p. 23). Se nos anos anteriores ele era conhecido pelo seu nome que se referia apenas a família paterna, agora ele passaria o restante da vida a ser reconhecido pelo seu nome referente a família materna. 


Além de ser reconhecido herdeiro legal (mas não sucessor, pois Britânico era o filho legítimo de sangue), Nero também recebeu a toga virilis, rito de passagem no qual tornava o menino maior de idade. Curiosamente tal rito era ministrado aos homens entre 16 e 17 anos, mas na época Nero tinha 14. Na ocasião uma grande festa foi realizada na cidade para se celebrar a maior idade de Nero. 

Foi por essa época da sua maior idade precoce que Nero havia mudado de tutor, passando o filósofo Sêneca (4 a.C - 64 d.C) a ser seu tutor, tendo sido uma exigência de sua mãe, a qual não gostava do fato de Aniceto está ensinando artes para seu filho. Sêneca foi um famoso orador, advogado, escritor, político e filósofo romano, tendo deixado alguns importantes livros. 

"Escolhendo Sêneca para preceptor de Nero, Agripina tinha os olhos voltados para o futuro. Naquele momento o poder era seu; mas que aconteceria quando Cláudio morresse? O futuro só seria certo se ela pudesse assegurar o trono a seu filho, e isto só lhe seria possível se atraísse para seu lado as asimpatias dos partidos moderados. Sêneca como mestre do jovem Neor era o homem sob medida para causar a necessária impressão". (FRANZERO, 1958, p. 29).

Busto do filósofo Sêneca.
Sêneca por essa época dispunha de certo prestígio social perante o Senado e a elite romana, diferente do ex-escravo Aniceto e dos outros professores de Nero. Sêneca foi instruído a ensinar ao jovem príncipe, retórica, oratória, política, filosofia, história, moral, ética, etc. Nero gostava das aulas de oratória, pois gostava de ler os discursos dos grandes oradores e repetí-los; no entanto, as demais disciplinas não lhe interessavam, pois como outros adolescentes, ele preferia as artes e os esportes, gostando de ir ver as corridas de cavalo no Circo Máximo, e as apresentações de música e poesia nos teatros, além das peças em si. 

No ano de 53, aos 16 anos, Nero casou-se com sua prima Cláudia Octávia (39/40-62) que na época tinha treze anos de idade. No entanto, o casamento foi uma forma que Agripina arranjou de aproximar seu filho ainda mais do imperador, o tornando-o genro agora, além do fato de que em caso de Britânico morresse, Octávia era uma das herdeiras direta (havia uma outra filha, oriunda do segundo casamento de Claúdio, chamada Cláudia Antônia). Embora como será visto adiante, ela não foi uma das esposas que Nero mais amou. 

Estátua da cabeça da imperatriz Cláudia Octávia, primeira esposa de Nero.
O jovem imperador:

O ano de 54 foi um ano de reviravoltas na vidade do jovem Nero, que na época era um adolescente de 16 anos. No mês de outubro, durante um dos rotineiros banquetes que o velho imperador Cláudio (na época com 74 anos) costumava fazer, ele teria sido supostamente envenenado, como apontam vários dos historiadores romanos antigos, como Suetônio, Dião Cássio e Tácito, embora seja importante ressalvar que suas obras eram sensacionalistas. Ambos salientam que a imperatriz Agripina ordenou o envenenamento do marido, de forma a adiantar sua morte. O veneno teria sido colocado num prato de cogumelos, os quais o imperador comeu com grande apreciação (SUETÔNIO, 19_?, p. 157).

Quando o imperador Cláudio faleceu no dia 13 de outubro, ele não havia designado Nero como seu sucessor, logo, na prática Britânico deveria ser o novo imperador. No entanto, a conspiração arquitetada por Agripina, passou a atuar. Um dos comandantes da Guarda Pretoriana, chamado Sexto Afrânio Burro, proclamou ao lado de seus homens, Nero como novo imperador (lembrando que Cláudio foi eleito imperador por aclamação iniciada pelos pretoriano). Além de Burro, o ministro Palas (amante de Agripina), o filósofo Sêneca, e outros membros da Corte, também apoiaram a candidatura de Nero ao trono. Posteriormente, o Senado reconheceu que ele seria a melhor opção (Britânico era mais jovem e tinha a saúde frágil, sofrendo de epilepsia). 

Após os ritos fúnebres em honra do imperador, e de se ler o panegírico a sua pessoa, chegando ao ponto de deificá-lo, Nero foi convocado ao Senado, para tomar posse como imperador. Lá ele discursou agradecendo aos senadores, prometendo que o Senado voltaria a ter prestígio e autoridade como na época do imperador Augusto. Na ocasião, os senadores ofereceram-lhe o título de Pai da Pátria (título que Júlio César recebeu), mas Nero o recusou, por dizer ser ainda muito jovem (LISSNER, 1959, p. 171). De qualquer forma estava feito: Nero era o novo imperador de Roma.


Estátua de Nero sendo coroado imperador por sua mãe, Agripina.
"Fez Nero belas promessas. Declarou que, não conhecendo inimigos, não tendo sofrido nenhuma ofensa, subia ao trono de coração puro e liberto de qualquer idéia de vingança! Queria abolir o favoritismo, pôr fim à corrupção dos funcionários, deter a caça à prebendas e sanear a justiça. Pouco preocupado em empreender campanhas militares, garantia ao Senado total liberdade de ação. Como seus predecessores, invocava como modelo Augusto, única estrela verdadeiramente clemente na constelação dos césares romanos. Mas antes de realizar esses belos e louváveis propósitos, era indispensável regularizar os negócios de família! Britânico, o próprio filho do imperador Cláudio, continuava vivo, e talvez pudesse vingar o assassino de seu pai. Britânico existia, bem vivo, e sua existência contistuía perpétuo perigo para Nero". (LESSNER, 1959, p. 173).

A ameaça de Britânico não parecia ser algo evidente, pois o ingênuo garoto passou os meses seguintes, convivendo com sua madrasta e irmão adotivo. Não se sabe se ele suspeitava que seu pai foi assassinado, de qualquer forma, durante um banquete promovido por Nero, em fevereiro de 55, Britânico foi envenenado. Os relatos dizem que foi o próprio imperador que sugeriu o envenenamento. Todavia, com a morte de Britânico, e o afastamento de possíveis opositores, Nero assim conseguia se consolidar no trono, pois além de possuir influentes conselheiros, uma mãe manipuladora, ele possuía prestígio, pois o povo o adorava, pelo menos até então.

Os primeiros anos de reinado (54-59):

Nos primeiros anos de seu reinado, ele realizou um bom governo, graças ao apoio de seus ministros, conselheiros e funcionários, homens sensatos. O próprio Sêneca, que antes era apenas seu preceptor e o responsável por redigir os discursos do imperador, tornou-se conselheiro e passou a cuidar de questões de Estado. O pretoriano Afrânio Burro, tornou-se o Prefeito da Guarda Pretoriana, além de possuir grande influência sobre o Exército, o que garantia o apoio deste ao imperador, algo importante, pois nos anos seguintes, o Exército seria responsável por destronar alguns imperadores. O "ministro" Palas (amante de Agripina), manteve suas atividades de antes, assim como, outros funcionários capacitados, também permaneceram nos seus ofícios.

Por exemplo, Nero cogitou abandonar a província da Britânia, conquistada por Cláudio em 43, mas Sêneca lhe aconselhou que seria um erro deixar aquela longínqua província, a qual seu pai se dedicou a conquistar e obteve êxito. Além disso, a retirada das legiões da Britânia poderia incentivar revoltas nas províncias vizinhas da Gália e da Germânia. Nero acabou desistindo da ideia (FRANZERO, 1958, p. 54).

No que diz respeito a outros assuntos, Nero promoveu algumas reformas de ordem técnica, para se evitar falsificações, reformulou o valor de alguns tributos, diminuiu taxas; decretou que os litigantes deveriam pagar honorários para os advogados, mas nada para os tribunais, pois estes eram custeados pelo Estado; determinou que o Senado se torna-se uma Corte de Apelação (FRANZENO, 1958, p. 55).

Nero também estipulou normas urbanísticas, por exemplo, as insulas (apartamentos na qual a plebe morava), agora passariam a ser construídos mediante novas normas para evitar que fossem construídos de forma irregular, e assim ameaçassem cair. Além de também se evitar o risco de incêndios, algo comum na cidade (SUETÔNIO, 19_?, p. 164). O imperador também assinou decretos para a construção de ginásios, pontes, ruas, aquedutos, canais, um mercado, um teatro em um complexo de termas (GRABSKY, 2009, p. 52). Também fundou uma colônia para onde enviou os militares veteranos, lhe distribuindo lotes de terra. 

Para agradar o povo, Nero prosseguiu com a política do "pão e circo", realizando vários e vários espetáculos, desde corridas de cavalos no Circo Máximo, a luta de gladiadores, peças teatrais, apresentações de música, dança e poesia, etc (SUETÔNIO, 19_?, p. 161-163). Em alguns desses eventos, ele chegava a se apresentar, declamando poemas ou tocando lira, nos quais era aplaudido pelo povo (embora não saibamos se ele fosse um bom artista de fato). O imperador também passou a realizar concursos de música e poesia, distribuindo prêmios aos vitoriosos. 

Nero também procurou conceder regalias aos senadores, mas por outro lado, procurou combater o luxo excessivo, proibindo que os espetáculos e os banquetes custassem muito caro. Isso não agradou parte da elite, mas naquele momento, foi aceitável. No entanto, ele também impôs uma medida que não agradou a plebe, quando decretou que nas tavernas só se poderia ser vendida comidas frias, e não mais comidas quentes (LESSNER, 1959, p. 176).

Nero também interviu com mudanças na justiça, passando a presidir julgamentos e proferir sentenças. Suetônio diz que foi durante esses primeiros anos, que o imperador deu ordem para se executar os cristãos nas arenas, sendo estes punidos como outros criminosos, pois Nero considerava a "seita cristã" subversiva e uma ameaça a ordem de Roma. 

Frustrações amorosas:

Alguns podem se indagar: um jovem que é o imperador de Roma, que na prática possui tudo o que o dinheiro podia comprar, teria frustrações? Na verdade, sim. Nero vivenciou algumas dessas frustrações. 

Por volta de seus vinte anos, Nero ainda não havia tido um filho com Octávia, o fato da demora, se devia a condição que ele não gostava de sua esposa, e por isso nunca procurou fazer um filho com ela. Não obstante, o imperador acabou se apaixonando por uma liberta (ex-escrava) de nome Actéia

O fato dos imperadores possuírem amantes não era algo incomum, desde que eles não as tomassem como esposa, mas corriam boatos de que Nero pensava em se divorciar de Octávia e fazer Actéia sua nova imperatriz. Agripina quando soube dessa ideia, interviu para evitar que o filho cometesse tal loucura. Octávia era filha de Cláudio, e descendente da Família Real Júlio-Claudiana, era uma mulher de verdadeiro sangue real, diferente de uma liberta nascida da plebe, que Nero pretendia tornar imperatriz. 

Iniciada essa primeira frustação, Nero decidiu se vingar. Ele demitiu Palas, então tesoureiro real. Dessa forma mandava embora do palácio o amante de sua mãe. Palas deixou a contra-gosto seu cargo, suspeitando que fosse um ato de retaliação do imperador, motivado pela desaprovação de sua mãe quanto a sua ideia de divórcio. Mas isso não impediu que Agripina continuasse a exercer forte influência sobre o filho. Tempos depois, Nero desistiu de se casar com Actéia e acabou perdendo o interesse por essa.

Posteriormente, Nero acabou se apaixonando por uma mulher casada, chamada Lólia Popéia (30-65), descrita como uma bela, sedutora e educada mulher. Popéia era filha de Tito Lólio e Popéia Sabina. Popéia casou-se aos 14 anos com Rúfio Crispino, membro da ordem equestre, o qual trabalhou como comandante da Guarda Pretoriana durante o governo do imperador Cláudio, sendo substituído por Burro durante o governo de Nero. Crispino posteriormente faleceu, e Popéia se casou com o nobre Marco Sálvio Otão (32-69). Quando Otão tornou-se senador, e assim adentrou ao palácio, foi nesse momento que Nero conheceu sua bela esposa, a qual se diz que era uma loura natural, algo raro de se ver em Roma.

Estátua de Popéia, segunda esposa de Nero.
Ao conhecer Popéia, segundo informam Suetônio e Tácito, Nero ficou perdidamente apaixonado. O imperador que na época contava um pouco mais de 20 anos, começou a flertar com Popéia, até que ela finalmente cedeu as tentativas. No ano de 58, seu marido foi enviado para ser governador da Lusitânia (equivale a grande parte do atual território de Portugal). Otão para lá seguiu e deixou Popéia em Roma. 

No entanto, Nero diferente do que planejava para Actéia, não decidiu casar com Popéia de imediato, apenas em 62 é que ele a tomou como esposa, até lá, ela permaneceu como sua amante. Tal fato é importante a se mencionar, pois Tácito sugeriu que Nero teria mandado matar Agripina, porque Popéia havia sugerido isso para ele, pois alegava que a imperatriz-mãe nunca permitiria que eles se casassem. Tal relato, hoje é bastante questionado, pois algumas das atrocidades que Nero cometeu, segundo Tácito, foram devido a influência de sua amante. 

O assassinato de Agripina:

A morte de Agripina ainda é uma questão que gera perguntas: quais teriam sido os verdadeiros motivos que levaram Nero ordenar a morte de sua mãe? Ele teria desenvolvido um grande ódio por essa, após anos de manipulação e de ter sua vida controlada por ela? Ele a teria matado, por sugestão de Popéia? Ainda hoje não se sabe os verdadeiros motivos, mas o que se sabe, é que de fato Agripina morreu no ano de 59. 


De acordo com Tácito em seus Anais (livro XIV), ele alega que o motivo de Nero ter mandado matar a mãe, deveu-se a pressão que Popéia fez para que ele se livrasse da mãe, e assim os dois poderiam finalmente se casar. Como dito anteriormente, muitos historiadores hoje contestam tal versão, mesmo assim, relataremos em resumo o que foi que Tácito escreveu. 

Segundo seu relato, Agripina, no ano de 59, estava passeando de barco no rio Baia, embarcação modia comoficada a mando de Nero, para que o teto desabasse e, assim matasse Agripina. De acordo com o relato, o teto desabou, matando Crepereio Galo, o qual trabalhava como administrador de Agripina. No entanto, Agripina que estava deitada num sofá, foi feriu apenas o ombro, pois a ponta do sofá impediu que o teto caísse completamente sobre ela. Mas além de se salvar, sua escrava Acerrônia também se salvou, mas ambas caíram na água. Acirrônia que teria fingido ser Agripina, gritando por socorro, teria sido morta pelos marinheiros. No entanto, a imperatriz-mãe se salvou.

Busto de Agripina.
Sabendo da notícia que sua mãe estava viva, Nero teria enviado Aniceto (seu antigo tutor), o qual em companhia do triário Hércules e do centurião Oloarite, estes invadiram a casa de Agripina e assassinaram. Pelo segundo consta o relato de Tácito. 

Já Suetônio (19_?, p. 176), conta que Nero tentou envenenar sua mãe, mas ela era muito cautelosa com isso, então ele planejou fazer que o dossel da cama desabasse e a matasse, mas isso foi descoberto. Então ele mandou fazer o teto do barco cair ou este afundar, mas Agripina conseguiu se salvar. Frustradas essas tentativas, ele mandou Aniceto matá-la. Mas com o diferencial que deve parecer que ela teria cometido assassinato. Suetônio prosseguiu dizendo que após receber a notícia que a imperatriz estava morta, Nero foi a casa dela, contemplar o cadáver, de forma a se certificar que ela realmente havia morrido. O autor completa, dizendo que ele pediu uma taça de vinho e ficou bebendo enquanto admirava o cadáver de sua mãe. 

Os remorsos de Nero após matar sua mãe. John William Waterhouse, 1878.
Ao certo ninguém sabe por quais motivos Agripina morreu, e como ela morreu. Mas após a morte dessa, Nero, pelo menos o que informa Suetônio, se é que podemos confiar mais em seu relato, diz que o imperador ficou paranoico, e dizia que ouvia a voz de sua mãe ou via seu fantasma. 

Divórcio e segundo casamento:

Passada a morte de Agripina, alguns anos transcorreram, e cada vez mais Nero mantinha Octávia distante, e Popéia próxima. Entre os anos de 60 a 62, seu governo começou a decair. Nero já não dava mais ouvidos a Sêneca, Burro e seus outros conselheiros; passou a ficar desinteressado pela política e a administração do Estado. Ele passou a se interessar mais pelos jogos, pelos espetáculos e pelas artes, gastando grandes somas de dinheiro nisso (FRANZERO, 1958, p. 84).

"Em breve o Palácio tornou-se ponto de reunião de poetas, escritores e artistas de toda sorte. Criou-se uma repartição especial para tratar com músicos, atores, artistas de pantomima, jograis e dançarinos". (FRANZERO, 1958, p. 87).

No entanto, o ano de 62 foi crucial em seu reinado. Neste ano Nero ordenou a execução de Octávia, a qual estava exilada na ilha de Pandateria. Nero alegou que Octávia era ésteril e supostamente teria cometido adultério. Logo, além do exílio, ele ordenou que uma assembleia fosse convocada para testemunhar contra a imperatriz, a acusando de adultério (Suetônio e Tácito dizem que ele ameaçou os membros, em caso de discordassem dele). Por tal acusação, ele declarou divórcio e a baniu de vez. 

Seus conselheiros, o Senado, a Corte e o povo não gostaram disso, Octávia era bem vista, embora não fosse uma mulher de presença. Posteriormente, Nero ordenou o assassinato de Octávia de forma que parecesse um suicídio, onde ela durante o banho, teria cortado os próprios pulsos, segundo informou Suetônio (19_?, p. 177). De qualquer forma, Octavia faleceu aos 22 anos, e não se sabe as reais causas de sua morte, e se realmente Nero mandou matá-la, ou Popéia teria algo com isso.

Segundo Suetônio, 12 dias depois da morte de Octávia, Nero se casou com Popéia, que na época estava grávida. O casamento não foi bem quisto, pois o imperador recém divorciado e de luto, não se resguardou, e nem tão pouco respeitou o período de luto. Lólia Popéia assumiu o nome de sua mãe, Popéia Sabina, tornando-se a nova imperatriz de Roma. 


As efígies de Nero e Popeia num tretadracma de prata, entre os anos de 63 e 64.
Em janeiro de 63, a primeira filha de Nero, Cláudia Antônia, nasceu. O imperador tão maravilhado com o nascimento de sua filha, lhe deu o título de augusta (divina) para ela e sua mãe, como também ordenou que jogos fossem realizados em homenagem a sua filha. Mas para seu infortúnio, Cláudia Augusta faleceu meses depois, por causas desconhecidas. 

A perda dos preceptores (62):

Além do casamento totalmente desaprovado, a situação em 62 também testemunhou novos reveses. Naquele ano, Afrânio Burro faleceu, logo, Nero perdia um de seus conselheiros mais fiéis, além de ter sido seu preceptor. Por sua vez, Sêneca, decidiu se aposentar, já estando desgostoso com as atitudes do imperador e o homem que ele havia se tornado. No entanto, Sêneca em suas cartas e memórias, não descreve o imperador sendo um tirano, mas tendo se tornado um homem contrário ao que ele ensinou. Nero havia se tornado arrogante, prepotente e soberbo. 

Com isso, Nero não contava mais com o apoio moral de sua mãe, de Burro e de Sêneca. O imperador de 25 anos, começou a perder sua popularidade e estima, pois embora promovesse vários jogos e espetáculos, continuando com a política do "pão e circo", as pessoas já não o vinham como antes, como o adorável adolescente que ele era quando tornou-se imperador. Os historiadores romanos dizem que nesse período Nero se tornou cada vez mais soberbo, e quando se apresentava, recitando poemas, tocando lira, cantando ou atuando, não aceitava nenhuma opinião contrária, e teria mandado agredir quem criticasse negativamente ele (provavelmente seja um exagero por parte destes autores, como campanha de difamar a imagem do imperador). 

Mas se por um lado, existe essa visão negativa legada pela historiografia romana a vida e reinado de Nero, sabe-se que realmente ele cometeu alguns atos bastante desaprováveis. Para manter seus caros espetáculos, Nero, começou a retirar dinheiro de onde não devia mexer, por exemplo, ele começou a cortar bonificações, a atrasar salários, aumentar impostos, fraudar a moeda (ele mandou diminuir a quantidade de prata na moeda), etc. Ainda assim, isso não impediu que os altos gastos diminuíssem e eles só viriam a crescer a partir de 64. 

O Incêndio de Roma (64):
 
No ano de 64 ocorreu o famoso Grande Incêndio de Roma, que ainda hoje se credita a ocorrência como tendo sido uma ordem do louco imperador Nero. Para se compreender o incêndio é preciso pensar em alguns aspectos: Nero não era louco como foi seu tio Calígula; além disso, sua fase de psicose só se iniciou no ano de 65, após ele descobrir uma conspiração contra ele, o deixando paranóico e bastante agressivo. No entanto, não podemos descartar o fato dele não ser mentalmente sã, pois ordenou a morte da mãe e da esposa, pelo menos, se acreditarmos que ele teria sido o responsável por tais ordens, como alegam os antigos relatos romanos, em geral bastante duvidosos.

Segundo, alegar que o imperador mandou incendiar a cidade para se livrar dos cristãos é um argumento falho. O número de cristãos era desconhecido, além disso, não era toda vez que Nero os enviava as arenas para serem executados. E neste caso ele não os enviava para o Coliseu, como ficou atestado em alguns filmes e erroneamente por algumas fontes. O Coliseu só foi construído vários anos após a morte de Nero, algo que será comentado ainda neste texto. 

Embora, ele não gostasse dos cristãos, ele nunca decretou uma política de perseguição a estes, como outros imperadores fizeram, como o caso de Diocleciano. Além disso, Nero não foi o único imperador romano a ordenar a execução de cristãos. 

O incêndio de Roma, 18 de julho de 64. Hubert Robert.
Terceiro, incendiar parte da cidade para matar os cristãos, não era algo sensato, pois muitas das insulas eram feitas de madeira, e o fogo facilmente se alastraria, algo que realmente ocorreu. Promover um incêndio criminoso era algo bastante arriscado, pois poderia destruir quase toda a cidade. 

Quarto, Nero podia ser soberbo, cruel, mas não era louco a esse ponto, muito menos ficar tocando lira enquanto via a cidade arder, imagem essa surgida em boatos e perpetrada na historiografia escandalosa e na literatura. Além disso, chegou-se a cogitar que o imperador teria culpado os cristãos pelo incêndio criminoso, como forma de acobertar suas ordens. Possívelmente isso possa ter ocorrido, mas não significa que foi o imperador que ordenou o incêndio, mas ele pode ter acusado os cristãos por tal acidente. 

De qualquer forma, não existe um consenso sobre o incêndio do ano de 64. Os relatos de autores da época do incêndio, como Sêneca, Plínio, o Velho, Flávio Josefo, Plutarco, SuetônioDião Crisóstomo, eles são contraditórios. Plínio diz que houve o incêndio, embora não tenha certeza se Nero teve algum envolvimento com este. Já Sêneca relata que Nero não teve nenhuma ligação com tal incêndio. Josefo, Plutarco e Crisóstomo, não mencionam tal incidente em seus relatos. 

Por sua vez, Suetônio e Dião Cássio, consideraram Nero como culpado pelo incêndio que durou seis dias e sete noites. No caso de Suetônio, ele chegou a escrever que os romanos alegavam terem visto Nero tocando sua lira, enquanto se encontrava numa torre contemplando a cidade arder em chamas. Já Tácito (Anais XV), relatou que Nero não teve nenhum envolvimento com o incêndio, além do fato de não estar em Roma, quando este começou. O imperador se encontrava com sua esposa, em sua vila, em Anzio

"Era o dia 13 de julho do ano 64 - quatrocentos e cinquenta anos depois do dia em que Roma fôra invadida pelos gauleses, e aniversário do dia em que os gauleses haviam incendiado a cidade. Durante a noite inteira, e nas noites subsequentes, o imperador visitou os bairros devastados, dando-se a conhecer e anunciando que seriam imediatamente trazidos para a cidade socorros e alimentos, que construiriam abrigos oara os sem-teto e que num breve prazo Roma seria reconstruída". (FRANZERO, 1958, p. 153).

Pintura retratando o incêndio de Roma, em julho de 64.
Se Tácito alegou que Nero não foi o responsável por aquele incêndio em julho, em seu relato, ele defende que o imperador preocupado com a segurança da cidade e seu povo, deixou Anzio e retornou a capital, a fim de comandar os grupos de resgate. Inclusive ele diz que o imperador andou pelas ruas, liderando pessoalmente os socorristas. Com o fim do incêndio, Nero ordenou que os entulhos fossem removidos, e comida, água e roupas fossem trazidos para os desabrigados e feridos, os quais foram alojados nas praças e campos da cidade. 

Franzero (1958, p. 158-159), diz que na reconstrução das zonas destruídas, foi dada a ordem para que as casas fossem erguidas de forma padronizada e com pórticos; que as ruas fossem mais largas; que os prédios públicos seguissem também um padrão estrutural. O imperador também ordenou que poços fossem escavados em todos os bairros, para servirem não apenas como fonte d'água para uso cotidiano, mas para ajudar em caso de novos incêndios, pois havia problemas em se transportar água pela cidade, o que levou o imperador a decretar novas leis acerca do uso das fontes e tanques, decretando que passavam a serem todos de uso público, e não mais privado. 

Caso Nero tivesse ordenado o incêndio para varrer dos subúrbios a "ameaça dos cristãos", por que teria se importado em revitalizar a cidade? Se pensarmos que os cristãos não foram expulsos de Roma ou tão pouco sumiram. Além disso, a mesma população que habitava as áreas afetadas retornaram para tais locais ou foram habitar as novas zonas zoneadas. Além disso, se a ideia era desapropriar tais terrenos, não havia necessidade de um incêndio, bastava um decreto real para isso. 

Os infortúnios de 65:

O ano de 65 seria novamente um ano de problemas para o imperador. Naquele ano, o senador Caio Capúrnio Pisão, arquitetou uma conspiração para se realizar um golpe de Estado e depor Nero. É importante lembrar que o seu governo não era mais o mesmo desde 61. Nero havia perdido popularidade e estima. Parte do Senado, da Corte e do povo, estava descontente com suas ações, falta de empenho, altos gastos, ainda mais, após o incêndio no ano anterior, e o fato que o imperador mandou construir um novo palácio para si, chamado de Domus Aurea (Casa Dourada). Grande obra que foi concluída ainda em 65, da qual voltarei a falar adiante. 

Segundo Tácito (Anais XV), Pisão, com o auxílio do tribuno Súbrio Flávio e do centurião Sulpício Ásper, planejaram realizar o golpe de forma que eles ganhassem a confiança da Guarda Pretoriana, e essa os apoiasse na deposição de Nero. Tácito alegou que Pisão pretendia se tornar o novo imperador de Roma. Para arquitetar tal plano, políticos, militares e membros da Corte e de influência foram envolvidos, o que incluiu o poeta Lucano (amigo de Nero) e seu tio Sêneca. 

Um liberto de nome Mílico descobriu a conspiração e o relatou a Epafrodito, secretário do imperador. Nero quando soube dessa conspiração, tornou-se paranóico, e ordenou a execução dos traidores. No entanto, foi dada a ordem para que eles pudessem se suicidar, se assim preferissem. 

A paranóia de Nero, não se deu apenas pelo fato de descobrir que planejavam destroná-lo e provavelmente assassiná-lo, algo que o fez perder a confiança no Senado, no Exército e na Corte, mas também o fato de que amigos seus, como Lucano e Sêneca estavam envolvidos, embora não saibamos com certeza até onde os dois realmente tinham participação nisso, ou foram injustamente condenados. 

O fato é que Tácito, Suetônio, Dião, entre outros, relatam que Sêneca, Lucano e os outros conspiradores foram assassinados, ou exilados, ou obrigados a cometer suícidio. Tácito, deixou em seus Anais XV, uma lista com o nome dos envolvidos. 

Outro problema que acometeu o imperador naquele ano, diz respeito a morte de sua segunda esposa, Popéia Sabina. Acontecimento tão questionável quanto os outros assassinatos que Nero esteve supostamente ligado. De acordo com Suetônio (19_?, p. 177), Nero retornava tarde da noite, visivelmente embriagado, após passar horas assistindo a corrida de cavalos no Circo Máximo. Ao chegar no palácio, a imperatriz, que novamente estava grávida, teria reclamado com ele, o que fez iniciar uma grave discussão. 

Num ataque de fúria, Nero começou a bater na esposa e a derrubou no chão, e a chutou várias vezes na barriga. Popéia e a criança morreram ali, sendo espancadas pelo imperador. Tal acontecimento, não é tão improvável, pois infelizmente ele realmente ocorre, pois basta procurar no noticiário, casos que maridos agrediram a esposa até a morte; e sem necessariamente estarem embriagados. 

Suetônio em seu relato sensacionalista, prossegue que após a morte de Popéia, Nero teria obrigado Cláudia Antônia, a segunda filha do imperador Cláudio, a se casar com ele, mas ela teria recusado, então ele ordenou sua morte. De qualquer forma, não é certa a causa da morte de Popéia, pois apenas Suetônio, Tácito e Dião Cássio a mencionam, alegando que ela teria sido supostamente espancada pelo marido. 

Após a morte de Popéia, se foi Nero que a matou ou não, ele ficou bastante deprimido, e nunca mais seria o mesmo. Apenas naquele fatídico ano de 65, Nero havia descoberto uma conspiração, havia se tornado paranoico, pois passou a desconfiar de quase todo mundo; teria ordenado a execução de amigos; teria supostamente matado sua esposa e filho. Em outras palavras, o imperador estava abalado emocionalmente e mentalmente. 

O Domus Aurea: 

Pelo o que relatam os antigos historiadores romanos, o abalo de Nero parece que não foi constante, pois ainda no ano de 65 começaram as obras para se construir seu novo palácio. Algo que lhe tomou bastante atenção. Provavelmente as obras começaram com Popéia ainda viva. 


"A vista do espaço vazio deixado pela Casa de Passagem era uma grande tentação para Nero, dando-lhe a idéia de construir ali um novo Palácio. O Palatino dominava Roma. Era visível de todas as partes da cidade; e era o mais belo distrito de Roma. A Casa de Passagem ia do Palantino ao Célio, ultrapassando a Via Imperial. Seria absurdo deixá-lo feito um campo de ruínas". (FRANZERO, 1958, p. 159).

"Uma área imensa foi desocupada - um lote cinco vezez maior do que o do Palácio de Buckingham, contando com os jardins. Milhões de tijolos foram cozidos e milhares de pedreiros trabalharam durante longas horas para erquer parede após parede, aproveitando um material de construlão recentemente inventado - o concreto. Logo em seguida, vieram os pintores, que cobriram quilômetros de muros com afrescos de extrema delicadeza. Quando os vestígios da Casa Dourada foram redescobertos, nos séculos 15 e 16, grandes artistas renascentistas, como Rafael e Pinturicchio, foram até lá com suas tochas e se viram diante de uma arte clássica que nunca haviam imaginado. Aquilo mudou suas vidas artísticas e inspirou a própria Renascença" (GRABSKY, 2009, p. 52).

Nero contratou os arquitetos Severo e Celer para que desenhassem o imenso projeto. Segundo Suetônio, o palácio foi construído em sete meses, mas há dúvidas quanto a isso. Já Grabsky (2009, p. 52), diz que o palácio levou quatro anos para ser concluído. Não obstante, também provém da obra dele, os melhores relatos que se tem sobre o palácio; alguns exagerados, mas outros comprovados pelas descobertas arqueológicas, embora que grande parte do palácio ainda esteja soterrado, abaixo de várias outras construções antigas e modernas, além de que outras áreas, hoje, não passam de escombros. 

Não se sabe hoje as reais dimensões do terreno, alguns historiadores cogitam que o terreno do palácio teria entre 100 a 300 acres de área, isso se considerarmos se os relatos de que os jardins eram imensos, assim como, havia pomares, pastos, campos e bosques de caça, forem realmente fidedignos. Além do fato de haver um lago artificial, que realmente foi real, embora não se saiba as reais proporções. 

"Os muitos edifícios que compunham a Casa Dourada erguiam-se à margem de um lago artificial, bastante grande para permitir a navegação de pequenos barcos. Nos vastos jardins, formavam-se lagos e tanques de água doce e salgada, onde nadavam estranhos peixes. Mais adiante, toda sorte de animais e monstros originários das Índias e da Áfria se reuniam num pequeno jardim zoológico, tanto para divertimento como para o uso no Circo. [...]. A maior novidade era a existência de campos, de escuras florestas e ermos, cheios de animais selvagens, dentro do terreno pertencente à Casa". (FRANZERO, 1958, p. 166). 

Reconstituição hipotética do Domus Aurea de Nero.
Outra característica marcante do seu grande palácio, foi a estátua do próprio imperador, esculpida por Zenadoro, famoso escultor da época. A estátua era feita de metais, e teria entre 30 e 35 metros, de acordo com Plínio, o Velho e Suetônio. A imensa estátua ficaria localizada no pátio de entrada do palácio. Para alguns, a imponente estátua (a maior em toda a cidade) era o símbolo máximo da soberba do imperador. 

Durante o reinado de Adriano (117-138), o imperador ordenou a remoção da estátua de Nero, pois naquele tempo, o palácio já não existia mais, tendo sido derrubado, há várias décadas para dar espaço ao Coliseu, as Termas de Trajano, entre outras construções. Todavia, a grande estátua foi transportada para próximo do Templo de Vênus e Roma, do outro lado do Coliseu. Além de mudar de local a estátua, Adriano ordenou que ela fosse modificada, para se tornar a estátua do deus-sol Hélios. Para isso, fizeram uma coroa de raios. 

Gravura retratando a estátua de Nero, já transformada na estátua de Hélios. Percebe-se a localização da estátua entre o Templo de Vênus e Roma e o Coliseu.
Anos depois, durante o governo de Cômodo (180-192), o imperador mandou remover a cabeça da estátua, e colocar uma nova, que lembra-se a face do herói Hércules, personagem por qual o imperador tinha grande admiração. Segundo, Franzeno (1958, p. 160), a "estátua de Hércules" continuou a existir até o século VII. No entanto, ela foi comumente chamada de "Colosso", e tal nome acabou sendo usado para se referir ao Coliseu, pois originalmente ele era chamado de Anfiteatro Flaviano

Mas além de suntuosos jardins, de um grande lago artificial, de pomares, pastos e bosques, o palácio foi construído com grande quantidade de mármore, além de ser adornado com vários mosaicos e estátuas. Segundo Suetônio, Nero incumbiu Acrato e Carinas, de liderarem uma expedição a Grécia, Egito e outras das províncias orientais, a fim de comprarem ou "roubarem" relíquias (estátuas, mosaicos, joias, vasos, pedras preciosas, ouro, prata, etc.) tudo para adornar o imenso palácio. 

Detalhe de um afresco do Domus Aurea.
No entanto, após a morte de Nero, o palácio foi saqueado e destruído, sendo parte de seus escombros reutilizados em outras construções. No entanto, alguns recintos conseguiram suportar a destruição de mãos humanas e do tempo, e hoje podem ser vistos.

Últimos anos de governo (66-68):

No ano de 66 ocorreu uma grande revolta na província da Judeia, mas como Nero nunca se interessou por guerras e conquistas, ele não deu atenção a essa revolta, apenas dando ordem aos generais e o governador que resolvessem isso. Essa foi a primeira grande revolta dos judeus durante o governo romano, tendo se iniciado em 66 e terminado em 73. Percebe-se que a revolta durou vários anos, estendendo-se mesmo depois da morte de Nero. Pela falta de interesse do imperador, a revolta não conseguiu ser sufocada no ano de 66, então no ano seguinte ele despachou o general Vespasiano (o qual viria a se tornar imperador em 69), para resolver tal problema. 

Ainda no ano de 66, Nero voltou a se casar, dessa vez tomou como esposa Estatília Messalina, aparentada de Valéria Messalina, a terceira esposa do imperador Cláudio. Nero não amou Estatília da mesma forma que Popéia, nem se quer teve um filho com essa. Segundo Suetônio, com seu relato escandaloso, Nero teria ordenado a morte do marido de Estatília, chamado Marco Júlio Vestino Ático, para que assim, ele pudesse se casar com ela.  

Ainda no ano de 66, Nero recebeu a visita de nobres gregos, os quais convidaram o imperador a ir a Grécia, terra pela qual ele possuía grande admiração por sua história e cultura. Nero nunca havia viajado para fora da península itálica, embora tenha planejado ir para Alexandria, mas acabou desistindo da viagem. No entanto, ele decidiu ir para a Grécia, e no ano de 67, ele realizou tal viagem, tendo passado semanas viajando.

Busto de Nero. Destaque para sua barba, a qual diziam ser ruiva.
Nero visitou Olímpia, cidade onde eram celebrados os jogos Olímpicos, na ocasião recebeu várias honrarias. Visitou Atenas, Corinto entre outras cidades. Em cada cidade ele era celebrado e presenteado. Se em Roma, seu governo não era bem quisto, na Grécia, Nero era visto como um bom governante. Em Corinto, ele planejou fazer um canal que ligasse o Estreito de Corinto ao mar Egeu. No entanto, com sua morte em 68, as obras foram abandonadas, mas ainda hoje se pode ver uma estátua sua no estreito. A ideia do canal, era servir de atalho para os navios que partiam do mar Jônio para o Mar Egeu. Atualmente o canal existe, tendo sido construído no século XIX. 

Após sua agradável estada na Grécia, Nero retornou para Roma, onde encontrou um cenário bastante tenso. Desde o ano de 65, a relação do imperador com os nobres e os políticos não estava boa. Embora tenha descoberto uma conspiração, não se sabe se todos aqueles foram mortos ou exilados, realmente eram culpados, ou foram injustamente inseridos na conspiração por segundos. Além disso, havia também o fato de que Nero com a construção de seu novo palácio, vinha gastando enormes quantias de dinheiro dos cofres públicos, para ostentar seu ego de querer construir uma grande casa. 

A revolta na Judeia ainda continuava, e o imperador não lhe dava atenção. Algumas reformas econômicas e aumentos tributários, desagradaram os patrícios (a elite romana). A falta de interesse do monarca com os assuntos de Estado, era outro motivo assinalado pelo Senado. O imperador estava mais interessado com seus espetáculos, festas, as obras de seu palácio e sua viagem a Grécia. 

Galba
No final do ano de 67, o governador da Gália Lugdunense (consistia numa parte do território da atual França, cuja capital ficava em Lyon), Caio Júlio Vindice, decretou que não iria pagar os tributos ao imperador, rebelando-se contra este (CÁSSIO, 1914, p. 173). Nero ordenou que medidas fossem tomadas para derrotar a revolta de Vindice e retirá-lo do poder. Enquanto a revolta se desenrolava para o começo do ano de 68, outro governador romano, dessa vez o governador da província da Hispânia Tarraconense, Sérvio Sulpício Galba, aliou-se a Vindice, e decretou-lhe apoio a sua revolta, assim como, procurou conquistar aliados no Senado e no Corte. De fato, Galba seria proclamado imperador, logo após a morte de Nero. Vindice acabou sendo derrotado pelo general Lúcio Vergínio Rufo, governador da Germânia Superior (CÁSSIO, 1914, p. 177), no entanto, Galba mesmo tendo perdido seu aliado, ainda assim, prosseguiu com seus planos para depor Nero. Segundo Dião Cássio e Suetônio, Galba conseguiu conquistar o apoio do Senado e da Guarda Pretoriana, e o Senado declarou Galba como sucessor de Nero, ordenando que este renuncia-se ao cargo. Mas o imperador negou-se a renunciar e teria fugido. 

Ainda de acordo com Dião Cássio, Suetônio e Tácito, Nero teria se suicidado, em 9 de junho de 68, aos 31 anos de idade. Segundo Dião (1914, 193), Nero teria sido ajudado por Epafodrito, o qual teria dado o golpe final para se certificar que o imperador havia morrido ao cometer suicídio. Não se sabe ao certo se ele realmente cometeu suicídio ou foi asssassinado, pois tendo fugido, foi decretado sua captura. 

De qualquer forma, Nero faleceu ainda naquele ano. Com sua morte, o império vivenciou uma crise de alguns meses, pois embora Galba tenha assumido como imperador, outros não concordaram com isso, e assim se iniciou o chamado Ano dos Quatro Imperadores, o qual se sucedeu de julho de 68 a dezembro de 69, eclodindo numa guerra civil pela disputa do poder, onde Galba, Vitélio, Otão e Vespasiano se confrontaram para se tornar imperador de Roma.  

A infâmia dada a Nero

Nero entrou para a História sendo lembrado como um tirano, assassino, bissexual, depravado, louco, egocêntrico, soberbo, megalomaníaco, entre outros adjetivos degradantes. Mas será que realmente ele foi tudo isso ou ele acabou sendo injustiçado, e essa má fama se tornou bastante marcada em sua pessoa?

Não irei debater tal assunto, pois existem livros e outros trabalhos que abordam essa infâmia proporcionada por Nero. No entanto, traçarei um breve comentários sobre algumas das obras aqui usadas como fontes e referências. O livro de Suetônio, A Vida dos Doze Césares (121), História de Roma de Dião Cássio e Anais de Tácito, embora sejam algumas das mais importantes fontes que possuímos sobre a vida e reinado de Nero e dos primeiros imperadores romanos, além de outros acontecimentos referentes ao período republicano e imperial, são livros que devem ser lidos com bastante cautela.

"Foi exatamente essa elite política contrariada que escreveu a História que conhecemos atualmente, o que significa que é preciso ter cuidado para não aceitar tudo ao pé da letra. Os historiadores romanos tinham boas razões para denegrir a imagem de Nero - ele era o último de juma dinastia que precisava ser rejeitada para lançar uma luz mais favorável sobre aquelas que estavam por vir. Obviamente, relatos que continham sexo e violência já vendiam na época, tanto quanto hoje em dia. Não podemos dizer se Nero de fato matava pobres operários no caminho para casa ou se mandava donas-de-casa respeitáveis para bordéis às margens do rio Tibre". (GRABSKY, 2009, p. 52).

O livro de Suetônio é o mais sensacionalista desses três, relatando atos que chegam a beirar o absurdo. Por exemplo, a fama de louco, devasso, assassino, paranoico e psicótico que Nero possuiu, adveio bastante do relato de Suetônio, algo não visto tanto na obra de Dião, embora esse também escreva escandâlos sobre o imperador, além de acusá-lo de ter sido um tirano, um louco, assassino e depravado, responsável pela morte de familiares e pelo incêndio no ano de 64. Por sua vez, Tácito, foi mais imparcial, procurando ponderar se realmente Nero teria sido tudo aquilo que os boatos diziam. Para quem ler os seus Anais, notará que a visão de Nero apresentada por Tácito é menos escandalosa do que a mostrada por Suetônio, Dião, Plínio, o Velho, Plutarco, entre outros historiadores romanos.

Por outro lado, Tácito, Flávio Josefo, o imperador Trajano e Adriano, questionaram se Nero não teria sido difamado, tendo se exagerado sobre sua vida e até mesmo inventado-se mentiras escandalosas. No entanto, Nero não foi o único a sofrer com isso; Augusto, Tibério, Calígula e Cláudio também vivenciaram isso. De todos esses cinco primeiros imperadores (pois Nero foi o quinto), Calígula de fato realmente parece ter sido louco (estudos cogitam que ele fosse esquizofrênico), e de fato cometeu algumas bizarrices em seu breve reinado de quatro anos. 

No entanto, se Nero era louco, como é que ele conseguiu governar por 14 anos, já que seu tio Calígula mal governou por 4 anos? Além do fato de autores como o próprio Suetônio e Dião de Cássio, conhecidos por serem ferrenhos críticos do governo e vida do imperador, terem dito que alguns dos anos de seu reinado foram bons, e o império viveu em prosperidade?

Embora o início de seu governo, Nero foi amparado por seus conselheiros, ainda assim, se ele fosse louco, ele teria sido deposto ainda em 59, época que supostamente ordenou a morte da mãe, ou em 62, quando supostamente teria espancado sua esposa grávida até a morte? Apenas em 65 é que se descobriu uma conspiração para depô-lo, e em 68 o Senado se voltou contra ele definitivamente.

Suetônio (19_?, p. 189-190) diz que parte da população comemorou a morte de Nero, mas havia gente que se entristeceu por isso, e mesmo meses após seu sepultamento, havia gente que ia ao seu túmulo lhe levar flores e prestar homenagens, pois se Nero foi detestado pelo Senado, a Guarda Pretoriana e os patrícios, parece que ele não foi tão detestado pela plebe.

Outro motivo que levou a Nero a ser difamado, adveio do cristianismo, pelo fato dele ter ordenado a execução de cristãos. Vale lembrar como já foi dito aqui, que ele não foi o único imperador a fazer isso. Não obstante, existe também os relatos que supostamente Nero teria ordenado as mortes de São Pedro e São Paulo, embora haja um debate se realmente ambos os apóstolos morreram de fato em Roma, como a tradição cristã alega. Lembrando que durante parte do ano de 67, data que ambos os apóstolos teriam sido executados, Nero estava de viagem a Grécia, e nem um pouco interessado nos assuntos em Roma. 

Não obstante, a literatura e o cinema também contribuíram para difamá-lo. Todavia, não podemos chegar a uma conclusão se Nero realmente mandou matar Britânico, Agripina e Octávia, e se realmente matou Popéia; além de ter cometido outros absurdos. O mais recomendável é ter cautela com tudo isso, pois as próprias fontes que o tornaram infame, se contradizem entre si, além de ter havido historiadores do século I, II e III que questionaram a veracidade de tais relatos. 

Por fim, é preciso saber que no meio político, ou em assuntos que estejam relacionados aos direitos e interesses das classes dominantes, a difamação é uma arma. Martim Luther King Jr foi preso em Selma, por protestar contra o racismo e a proposta de se proibir que os negros votassem. Abraham Lincoln foi duramente criticado pela oposição, ao propor o fim da escravidão. Mahatma Gandhi foi chamado de rebelde ao confrontar o colonialismo britânico, e defender o fim da colonização na Índia. Nelson Mandela foi preso por ter se unido a um movimento contrário a política de segregação racial do Apartheid. Embora Nero não tenha sido um pacifista ou um homem que lutou pelos direitos das pessoas, suas medidas entraram em conflito com os interesses do Senado e da elite, quando decidiu intervir em assuntos relacionados a finanças, regalias e direitos dos ricos. 

No entanto, não podemos nem confirmar e nem desmentir plenamente alguns dos escanda-los que Nero esteve envolvido. Mas podemos duvidar e suspeitar de como estes foram descritos. 

NOTA: Embora tenha usado o livro de Franzero e de Lessner, estes devem também ser lidos com cautela, pois tais autores incorporaram muito do discurso escandaloso principalmente de Suetônio e Dião de Cássio. No caso da obra de Franzero, existem partes que foram descaradamente copiadas do livro de Suetônio. 
NOTA 2: Além de Nero, outro imperador que foi um grande admirador da cultura grega, foi Adriano.

Referências Bibliográficas:
CÁSSIO, Dião. Dio's Roma History - vol. VIII. Translation Earnest Cary. Londo, William Heinemann, 1914. 9v.
FRANZERO, Carlo M. Vida e Época de Nero. Tradução de Geir Campos e Moacyr Werneck de Castro. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1958. 
GRABSKY, Phil. O palácio dourado de Nero. Tradução de Julia Vidili. Revista História BBC, ano 1, n. 3, 2009, p. 50-53. 
LIBERATI, Anna Maria; BOURBON, Fabio. A Roma Antiga. Tradução de Alexandre Martins. Barcelona, Ediciones Folio, S.A, 2005. 
LISSNER, Ivar. Os Césares. Tradução Oscar Mendes. Belo Horizonte, Editora Itatiaia Limitada, 1959. 
ROSTOVZEFF, R. História de Roma. Tradução de Waltenair Dutra. 5a ed, Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1983. 
SUETÔNIO. Roma Galante: chronica escandalosa da côrte dos Doze Cezares. Tradução de Guilherme Rodrigues. Lisboa, João Romano Torres & Com, 19_?
TACITUS. The Annals, vol. XIV-XV. Translation Alfred John Church and William Jackson Brodribb. Disponível em: http://classics.mit.edu/Tacitus/annals.html