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Leandro Vilar

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Ásia: berço de religiões: as religiões chinesas e japonesa

Nessa terceira parte do estudo sobre as religiões asiáticas dando continuidade ao projeto em se escrever sobre as várias formas de religião desse continente do qual se originou as atuais maiores religiões do mundo, conheceremos alguns aspectos da religiosidade chinesa e japonesa, que diferente do que alguns pensam não são iguais, pelo contrário, possuem mais diferenças do que semelhanças. 

Os outros artigos que compõem esse estudo, são:

"Religiões chinesas"

Uma característica das "religiões chinesas" é que elas misturam crenças e filosofias de vida. Ainda hoje isso consiste num debate problemático, pois antes do século XX, não havia um conceito de religião entre os chineses. Para eles, religião e filosofia de vida não eram algo desassociados, mas partes de um todo. Sendo assim, um chinês poderia ser budista, mas também viver segundo os costumes confucionistas e até mesmo acreditar no Tao. Não obstante, há historiadores das religiões que questionam o uso do termo "religiões chinesas", daí faço o mesmo e o uso entre parênteses. 

O Confucionismo e o Taoismo surgiram como filosofias de vida que séculos depois foram reformuladas e modificadas, passando a englobar preceitos religiosos, mas como será dito aqui, originalmente não se tratavam de religiões como concebemos tal conceito. Pois como mencionado, não havia essa distinção entre laicidade e religioso ou o próprio conceito de religião. 

Não obstante, ainda existe a chamada "religião tradicional chinesa", que na verdade seria um conjunto de crenças e práticas religiosas, envolvendo culto politeísta, totemismo, animismo, culto aos ancestrais, culto a animais sagrados, culto a locais sagrados, alquimia, magia, astrologia, etc. Além disso, em alguns livros os autores costumam englobar nesse estudo da religiosidade chinesa, o Budismo chinês e tibetano, no entanto, preferi não abordar o budismo aqui por se tratar de uma religião de origem indiana, a qual foi estudada na postagem sobre religiões indianas. Ainda assim é válido mencionar que as escolas budistas chinesas reformularam a doutrina budista original. 

"Religião tradicional chinesa":

1) Breve história


Não se sabe quando a "religião chinesa" surgiu, mas ela possui alguns milhares de anos de história. A chamada "religião tradicional chinesa" na verdade consiste num conjunto de tradições, cultos, cerimônias e credos que surgiram ao longo de séculos em diferentes regiões da China pré-imperial, numa época que havia vários reinos feudais e distintos povos viviam por aquelas terras que hoje são a China. Logo, há uma miríade de crenças que se desenvolveram nesse vasto território. 


O termo "religião tradicional chinesa" é questionado por alguns historiadores das religiões, e até mesmo recusado, pois num sentido prático, não estamos falando de uma religião propriamente dita, mas num conjunto de crenças religiosas, que são bem diferentes entre si, mas que são chamadas de "tradicional", por serem anteriores as filosofias do Taoismo e do Confucionismo. 

Challaye [1981] assinala que havia deuses locais para determinadas regiões, cidades, e até mesmo para vilas e aldeias, e estes deuses locais não eram cultuados em outros lugares. Por outro lado, havia deuses que eram cultuados por todas essas terras, mas a forma de culto poderia diferenciar. Antes da formação do império chinês no século III a.C não havia uma ideia de religião nacional, embora Challaye fale no sinismo ou shenismo termo criado por J. A. Elliot nos anos 50, para se referir ao culto aos shens (deuses, espíritos, divindades, animais sagrados, etc.). Logo, a "religião nacional chinesa" seria o shenismo em suas múltiplas representações, mas sendo bastante comum o culto aos deuses, aos antepassados, aos dragões e até a algumas pessoas que foram divinizadas. 


Atualmente a religião tradicional chinesa é a predominante na China, possuindo mais de 400 milhões de adeptos, embora a população do país seja de mais de 1,3 bilhão de habitantes, grande parte dos chineses se declaram agnósticos. Os budistas e taoistas representam uma parcela de alguns milhões, já o cristianismo e outras religiões possuem pouca expressividade no território chinês.


2) Aspectos religiosos


A religião e mitologia chinesa possuem uma gama de deuses e divindades, alguns são bastante antigos, existindo a milhares de anos, outros surgiram sob influência do budismo e do taoismo, e de sincretismo com religiões de países vizinhos. Ainda hoje em determinadas regiões da China, alguns deuses não são cultuados, em outros lugares há predileção com determinadas divindades. 


De acordo com a mitologia chinesa o universo foi criado pelo deus primordial chamado Pan Ku ou Pangu. Embora haja outros mitos de criação, a história de Pan Ku é a mais aceita pela maioria dos chineses. O gigantesco deus vivia dentro de um ovo em meio ao vazio primordial, mas após 18 mil anos ele saiu do ovo, e assim criou o Céu e a Terra, e posteriormente acabou morrendo, no entanto, as partes de seu corpo foram dando origem ao Sol, a Lua, as pedras, os mares, chuva, vento, florestas, montanhas, etc. Pan ku também foi o responsável por separar o Yin do Yang e, assim deu origem a todos os contrapostos que existem no universo. 



O deus primordial Pan Ku.
Após o surgimento do mundo, o Céu se tornou o principal deus para os chineses, passando a ser chamado de Shang Ti, Shangdi e Tian. Shangdi significa algo como "Soberano das Alturas", "Imperador das Alturas", o Altíssimo, "Deus Celestial". Por sua vez a palavra Tian é tanto usada para se referir ao deus, mas também como sinônimo de Céu e Paraíso. Os confucionistas e taoistas adotaram essa palavra para se referir ao "rei dos deuses chineses". 

Na prática, Pan Ku só possui o papel de criador do universo, mas Shangdi e os demais deuses é quem são venerados. Um fato curioso nesse aspecto, pois embora o céu seja considerado o lar de alguns deuses, e a representação de todo o divino, o deus Shangdi não é representando iconograficamente; os outros deuses possuem estátuas e pinturas, mas Shangdi não precisa disso, pois é o céu. 


Por sua vez durante a Dinastia Han e as suas sucessoras até o final do império em 1912, o imperador era considerado o "grão-sacerdote", o representante direto do deus Shangdi, daí os monarcas se autoproclamarem "Filhos do Céu". Tal representação não seu apenas por uma iniciativa dos monarcas em difundir essa imagem, mas na própria mitologia e tradição religiosa havia essa concepção de soberanos divinos. 


É creditado o surgimento da humanidade pela deusa Nu Kua (Nüwa, Nyuwa, etc.), representada metade mulher e metade serpente, a qual era casada com seu irmão Fu Xi, que também era metade homem e metade serpente. Embora existam outros mitos de criação do ser humano, Nu Kua e Fu Xi são considerados por muitos chineses os deuses responsáveis pela criação da humanidade. A deusa teria criado o ser humano, os moldado da terra amarela e lhes soprando o "ar da vida". Além desse feito criacionista, a deusa também foi responsável por concertar os Cinco Pilares que sustentam o Céu, após alguns demônios tentarem destruí-los na tentativa de "derrubar o Céu". 



Nu Kua e Fu Xi. 
Por sua vez, Fu Xi é considerado como o primeiro rei dos homens. Na literatura chinesa existem várias versões acerca dos chamados Três Soberanos Divinos e os Cinco Imperadores, líderes que teriam governado a China antes de 2200 a.C. Em alguns desses relatos Fu Xi e Nu Kua são considerados os primeiros soberanos, os quais após a criação da humanidade, passaram a governar o mundo. As histórias sobre o casal também dizem que eles testemunharam o Dilúvio, e foram incumbidos de criar a humanidade após a destruição do mundo pelas águas, o que sugere que não havia seres humanos antes do Dilúvio. 

Outro dos Três Soberanos Divinos era o deus Shennong, o responsável por ter ensinado a humanidade a agricultura, a medicina e talvez a alquimia e a magia. Shennong ainda hoje é cultuado, principalmente pelos camponeses, já que é o deus que zela pelos campos e os pastos. 


Quanto ao terceiro Soberano Divino, algumas fontes salientam que Nu Kua teria governado independente do marido, outros mencionam o deus do fogo Suiren e até o chamado Imperador Amarelo. Todavia, o interessante é que embora fossem deuses, segundo a tradição confucionista tais divindades acabaram morrendo após governarem por vários anos, o que sugere que eles teriam adotado a mortalidade para viver na Terra, e após concluírem sua missão, voltaram ao Céu. 



Pintura em papel do Imperador Amarelo (Huangdi). 
Acerca dos Cinco Imperadores os quais sucederam os Três Soberanos Divinos, a literatura varia seus nomes, onde ora o Imperador Amarelo (Huangdi) o mais famoso deles aparece nessa lista, e em outras ele não se encontra, e é considerado um dos Três Soberanos Divinos. Todavia listarei ele como um dos Cinco Imperadores:
  • Huangdi (Imperador Amarelo): teria governado por cem anos, por volta de 2697 a.C a 2597 a.C. Considerado o mais importante dos Cinco Imperadores, é visto por alguns como o "primeiro imperador" da China, o ancestral da Dinastia Han, o criador do governo imperial e do calendário chinês. Assim como todos os monarcas que o antecederam e que o sucederam, é descrito como um líder benevolente, culto, educado e sábio, tendo realizado um governo pacífico e próspero. Credita-se ao Imperador Amarelo vários ensinamentos sobre a medicina, a astrologia, astronomia, a alquimia e a magia. Existem um livro chamado Nei Jing ("Clássico do Imperador Amarelo") dividido em dois volumes, totalizando 81 capítulos, os quais abordam assuntos de medicina, que ainda hoje são estudados pela medicina tradicional chinesa, onde a tradição alega que tal livro foi escrito pelo próprio Huangdi. 
  • Zhuanxu: neto do Imperador Amarelo. Se credita ao seu governo a expansão das fronteiras chinesas e a união com clãs do oeste. Teria também deixado estudos para o calendário chinês, estudos de astrologia, astronomia, e decretado leis sociais, como a proibição que primos de primeiro grau se casassem. 
  • Ku: O imperador Ku é considerado como um artista nato tendo inventado vários instrumentos musicais, canções e danças. É lembrado como um patrono das artes. 
  • Yao: Teria governado até a idade de mais de cem anos, tendo sido depois de Huangdi um dos mais benevolentes, cultos e sábios dos Cinco Imperadores. 
  • Shun: Considerado o último dos Cinco Imperadores, era um dos ministros do Imperador Yao, e por ser um homem tão devoto, justo e correto com seu trabalho, foi nomeado pelo imperador Yao para ser seu sucessor. Em seu governo realizou reformas administrativas, burocráticas, legais, políticas, sociais, etc. Quando morreu iniciou-se a Dinastia Xia ou Hsia (séc. XXI-XVI a.C), sendo o primeiro rei chamado Yu, o qual não era filho de Shun, mas um ministro devoto e honrado, que ganhou as graças do monarca e foi nomeado seu sucessor. 
Após o governo dos Cinco Imperadores que eram descritos como homens mortais, mas devido aos seus feitos foram divinizados, se inicia a atual "era do mundo" sem governantes tão justos, retos, honestos e sábios como esses cinco. Todavia essa tradição foi mantida pelos reis e imperadores como forma de respaldar sua autoridade. De fato o imperador recebia culto por ser considerado um mensageiro entre os homens e os deuses, mas também por ser alguém abençoado com a graça do poder e do governo. O ato de governar não era apenas para os ricos e poderosos, mas também uma benção divina. 

Mas além do culto aos deuses e aos imperadores, heróis de guerra como Guan Yu receberam culto, grandes mestres como Confúcio e Lao Tse também foram cultuados, assim como, se realiza culto em locais sagrados, culto para os antepassados, culto para animais sagrados, sendo nesse caso o dragão o principal deles. Mas antes de falar sobre os dragões, é necessário comentar o culto aos antepassados o qual ainda é uma das base das religião tradicional chinesa. 


Para os chineses os espíritos (shen) se manifestam de várias formas e sob várias aparências. Espíritos de pessoas, animais, plantas, de elementos da natureza como a água, fogo, ar, terra, pedras, madeira, metal, luz, escuridão, estrelas, etc. Espíritos que podem ser bons ou ruins, os quais surgem como demônios. No entanto, para os chineses o respeito e reverência aos ancestrais é algo marcante da sua sociedade, logo, prestar oferendas, sacrifícios e orações consiste numa forma de se honrar a memória dos familiares, mas também de pedir que eles zelem pelos vivos. 


Quando uma pessoa consegue uma graça (vai ter um filho, conseguiu um emprego, ganhou um prêmio, se curou de uma doença grave, etc.) se presta oferendas e sacrifícios aos ancestrais. "Quando um homem realiza qualquer proeza, enobrece não seus descendentes, mas seus antepassados". (CHALLAYE, 1981, p. 96). Nessa concepção, o que você tem hoje, seja sua casa, seja sua fazenda, seja alguns de seus pertences, foi deixado pelos seus antepassados. É normal as famílias tradicionais viverem na mesma casa por várias gerações, isso reforça esse laço com os antepassados. 



Senhora fazendo oração para um familiar falecido. 
Inicialmente como Challaye [1981, p. 96] fala, primeiro se cultuava principalmente os ancestrais maternos, mas posteriormente se passou a dá maior atenção aos ancestrais paternos. De qualquer forma hoje ambos recebem cultos, e esses ritos são bastante pessoais e familiares, transmitidos de geração a geração, pois sacerdotes não participam nesse tipo de rito. As pessoas possuem em casa um altar onde se colocam as oferendas que em geral são flores, frutas, grãos, incenso, alimentos vegetais, mas também pode haver carne de peixe, de frango e até carne vermelha como cabras e porcos. Esse rito também pode ser realizado nos cemitérios, diretamente nos túmulos. 

A religião tradicional chinesa embora se fundamente no culto aos antepassados, na adoração de Shangdi, no respeito ao próximo, na convivência pacífica, na preservação do qi ou ki (energia vital), na concepção da dualidade universal (yin e yang), na existência de deuses, espíritos e demônios, em algumas das suas crenças se enxerga aspectos do totemismo (culto a animais, plantas, lugares, símbolos, astros, etc.), animismo (crença que tudo no universo possui um espírito (anima)) e do xamanismo (ritos de ligação com o mundo espiritual, uso da magia, etc.). 


Os chineses adeptos da religião tradicional também visitam templos dedicados aos deuses ou outras divindades, para prestar oferendas, sacrifícios, orações, agradecer por milagres, dádivas ou solicitar por bençãos. O importante é manter a tradição e seguir seus mandamentos de uma vida justa, harmoniosa e dedicada. Se acredita que aquele que mantém em prática os ensinamentos, recebera as bençãos dos deuses e sua proteção, mas aqueles que ofendem os deuses, serão castigados por isso. Os deuses dão, os deuses tiram. 



Templo de Xuanyuan dedicado ao Imperador Amarelo (Huangdi). Shaanxi, China. 
Os chineses acreditam em um Paraíso (Tian) e no Inferno, este localizado nas profundezas da terra. A ideia de karma não é compartilhada por essas crenças, embora, que algumas delas fazem menção a reencarnação, mas a reencarnação não é uma lei universal como visto nas religiões indianas, no caso da religião chinesa a pessoa só irá reencarnar depois de algum certo tempo, isso se vier a reencarnar. 

Quanto aos dragões, os quais são famosos no mundo pela tradição e atenção que os chineses, mas também japoneses e coreanos lhes dão, são para estes povos bem mais do que monstros ou criaturas fantásticas, como visto no Ocidente. Para os chineses os dragões (long) são seres divinos estando associados aos deuses e as forças da natureza. Os dragões basicamente podem ser representandos nas seguintes categorias: celestiais, terrenos, guardiões de tesouros e os guardiões imperiais. 



Estátua de um dragão chinês em um parque em Xangai. 
Desde tempos antigos o povo chinês reconhece sua ligação com os dragões, os próprios imperadores traziam em suas bandeiras imagens dessas criaturas, e ainda hoje o dragão é um símbolo nacional chinês. Na mitologia e religião chinesa os dragões são vistos como criadores da natureza, como deuses, como espíritos superiores, como responsáveis pelos fenômenos climáticos (chuva, ventos, seca, tempestades), responsáveis por fenômenos geológicos (erupções vulcânicas, terremotos). São os guardiões dos tesouros dos deuses, são os guardiões do imperador. O dragão consiste num dos 12 signos do zodíaco chinês, assim como, é um dos anos do calendário chinês. 


Mural dos Nove Dragões, no Parque Behai, Pequim. 
Além de sua ligação divina e com a natureza, o dragão é um símbolo de poder, um símbolo de autoridade, símbolo de força, de boa sorte, de proteção e até de vida. Alguns templos possuem estátuas de dragões, algumas pessoas carregam amuletos com forma de dragões. O governo socialista chinês utiliza um dragão vermelho nesse sentido. 

A famosa dança do dragão que ainda hoje é celebrada, representa a imagem positiva dessas criaturas reptilianas. A dança do dragão geralmente é celebrada próximo ao Ano Novo chinês, em eventos de cultura chinesa, ou para se celebrar a abertura de lojas, parques, instituições, prédios, empresas, escolas, hospitais, etc. A dança do dragão é uma forma de se pedir aos dragões por fertilidade, prosperidade, paz e boa sorte. 



Encenação da dança do dragão. 
A dança antigamente fazia parte dos festejos associados a Corte imperial, prestando homenagem aos dragões mas também ao imperador. Ela também era feita para se agradecer pelas boas colheitas. Hoje consiste numa dança folclórica popular não apenas na China, mas também nos países onde possuem comunidades chinesas. A dança do dragão é bastante popular ao lado da dança do leão

Confucionismo religioso:

1) Breve história


Confucionismo é o termo dado a doutrina filosófica baseada nos ensinamentos do mestre Chi'en Kung, mais conhecido como Kung fu-tse ("Mestre Kung"), que por sua vez ficou conhecido no Ocidente através da latinização de seu nome, Confúcio. Originalmente seus ensinamentos consistiam e ainda consistem numa filosofia de vida, no entanto, alguns aproveitaram para adaptar seus ensinamentos para a religiosidade chinesa, no que originou o confucionismo religioso.


Não se sabe muitos detalhes sobre a vida de Confúcio (551-479 a.C), e por algum tempo se cogitou que ele talvez não tenha sido uma pessoa real. As biografias nos informam que Confúcio nasceu no Reino de Lu, pertencendo a uma família da pequena nobreza que na época estava pobre. Seus pais morreram ainda cedo, e Confúcio sendo o filho mais velho, passou a cuidar de seus irmãos e manter a casa, no entanto, por volta dos 15 anos ele começou a se dedicar aos estudos, e aos 21 ele já era preceptor dos filhos de algumas pessoas ricas, depois se tornou preceptor dos filhos da nobreza. Confúcio também passou a trabalhar na vida palaciana, atuando em cargos de secretária, justiça e administração, chegando aos 51 anos ao cargo de ministro. 



Confúcio numa pintura chinesa do século XVIII. 
Após se desentender com o Duque de Lu acabou pedindo demissão e passou a viajar para os reinos vizinhos em companhia de alguns de seus discípulos a fim de oferecer seus serviços a outro nobre. Na viagem notou que nos outros reinos a situação de descortesia era igual em Lu, então decidiu voltar para sua terra natal e permaneceu o restante da vida. 


“Confúcio teve um efeito decisivo no desenvolvimento da China. Após sua morte, os discípulos começaram a difundir e ampliar suas idéias. O confucionismo acabou se tornando uma espécie de religião estatal da China, chegando muitas vezes a atacar outras religiões, como o budismo e o taoísmo. Foram construídos templos em honra a Confúcio e se ofereciam sacrifícios a ele na primavera e no outono, assim como se ofereciam sacrifícios ao Céu. Apesar disso, deve-se enfatizar que o confucionismo nunca havia sido uma religião independente”. (GAARDER, 2000, p. 84). 

2) Aspectos religiosos


Na prática Confúcio pouco escreveu e falou sobre religião, basicamente ele dava ênfase a três questões religiosas: reconhecer no Céu a fonte de toda a divindade no mundo, pois era no céu que viviam os deuses. Realizar os ritos diários e o culto aos antepassados, prezar por uma vida justa, honrosa, disciplinada, dedicada, honesta, solidária, sábia e amorosa. Excetuando-se essas três questões religiosas, Confúcio não debateu outros temas religiosos. Ele evitava em falar em guerra, em religião, embora no caso da religião, dizia que os homens deveriam sempre se guiar pelo Caminho (Tao). 


"Os assuntos sobre os quais o Mestre não discorria eram milagres, violência, desordem e espíritos". (CONFÚCIO, 2010, p. VII. 21).



“Confúcio não se opunha, de modo nenhum, à religião popular, e não duvidava que os deuses e os espíritos existissem. Acreditava que um ser sobrenatural o inspirava: "O Céu deu à luz a virtude dentro de mim". Só que o Céu para ele não era um Deus pessoal. Ainda que este lhe desse inspiração e direção, Confúcio não fundamentou sua ética em mandamentos morais transmitidos por Deus. O mais importante para Confúcio era que os deuses deviam ser cultuados adequadamente, que os rituais, os sacrifícios e as cerimônias deviam ser realizados corretamente, pois isso demonstrava a piedade filial da pessoa. Mas ele não estava interessado em assuntos religiosos ou metafísicos. Consta que ele disse: "Mostre respeito pelos deuses, mas mantenha-os à distância". E quando lhe perguntaram sobre a vida após a morte, respondeu: "Quando não se compreende nem sequer a vida, como se pode compreender a morte?"”. (GAARDER, 2000, p. 86). 

A ideia de rito para Confúcio não se limitava apenas ao âmbito religioso, mas também ao âmbito cerimonial, comportamental, moral e cívico. 



Uma vez perguntaram para Confúcio como ele conseguira chegar tão longe na vida, já que o mesmo havia nascido numa família pobre, e embora não fosse um homem rico, não possuísse muitos servos e nem um cargo alto no Estado, era um homem respeitado, procurado e requisitado por muitos. Confúcio disse que não havia segredo nenhum em sua carreira, ele disse que se dedicou aos estudos para chegar até onde chegou. Confúcio dizia que a educação era contínua, ela não terminava na escola, mas seguia o indivíduo pelo resto da vida, e nesse caso você deveria sempre procurar se atualizar sobre o conhecimento e aprender coisas novas. Além de manter uma educação contínua, Confúcio também dizia que o indivíduo devia estudar a fundo os ritos (li) e as Odes


Os ritos eram um conjunto de leis que ditavam algumas práticas morais, religiosas e sociais, as quais Confúcio dizia que eram necessárias para o desenvolvimento do caráter e para se conhecer o legado dos ancestrais os quais ele dizia terem sido mais sábios do que homens da época em que viveu. Quanto as Odes, estas consistiam um conjunto poético de trezentos versos, nos quais abrangiam vários assuntos, através de uma linguagem metafórica e poética, que eram vistos como essenciais para um homem saber falar bem. Contudo, Confúcio fazia uma ressalva nesta questão. Não bastava apenas a pessoa saber recitar de cor aqueles versos, ela deveria procurar entender seus significados e saber usá-los nas conversas. 


“A fim de alcançar a harmonia com o tao, o homem precisa de conhecimento e compreensão, o que ele pode obter estudando o passado, a tradição. Esta ensina ao indivíduo as regras de comportamento correto, a celebração fiel dos rituais e das cerimônias religiosas, e qual é seu devido lugar na sociedade. Confúcio via o homem como naturalmente bom e pensava que todo mal brota da falta de conhecimento. A educação, portanto, implica transmitir os conhecimentos corretos”. (GAARDER, 2000, p. 85). 

Diferente da religião tradicional, do taoismo religioso e do budismo, o confucionismo religioso não foi uma religião popular, ou em outros termos, não foi uma religião que se difundiu entre as camadas sociais, notou-se que ele ficou restrito principalmente a realeza, mais especificamente a Corte, daí como Gaarder [2000] e Challaye [1981] mencionam, o confucionismo religioso foi uma uma "religião estatal". 


Durante a Dinastia Han um sincretismo religioso com o pensamento filosófico de Confúcio foi formado, o imperador que se designava "filho do Céu", algo que lhe concedia um "direito divino" de governar era o celebrante do culto, o qual ora era feito para os antepassados, mas também feio ao Céu e a própria pessoa do imperador, o qual era visto como divino. Não havia sacerdotes, mas eram funcionários do palácio, incumbidos de organizar e presidir os ritos e cerimônias. Apenas a Corte participava dessas celebrações.


Embora tenha sido com os Han que o confucionismo religioso tenha surgido, as dinastias seguintes mantiveram tal sincretismo religioso até o fim do império chinês em 1912. No entanto, vale ressalvar que além do Céu e do imperador, outros deuses e divindades eram cultuados, mas de forma diferente da religião tradicional. O próprio Confúcio passou a ser venerado, não como um deus, mas como um "homem santo", tendo sido considerado o "grande mestre", o "mestre dos mestres". No caso do taoismo, seu fundador Lao Tse também foi venerado, mas tornou-se uma divindade. 



Templo de Confúcio em Nanjing, capital da província de Jiangsu, China. 
Confúcio recebeu estátuas, altares, templos, onde nestes se realizam ritos religiosos, mas também atuavam como escolas confucionistas para o estudo da sua filosofia. Fora do palácio na capital a população não absorveu o confucionismo religioso da mesma forma, houve épocas que os imperadores tentaram impor tal religiosidade ao povo, assim como, houve confucionistas que atacaram a religião tradicional, o taoismo e o budismo. O lado filosófico da doutrina de Confúcio foi melhor aceito em alguns locais da China e até mesmo migrou para a Coreia e o Japão.


A importância do confucionismo na Corte chinesa foi tão marcante que por séculos os funcionários reais para se candidatar a alguns cargos, tinham que fazer um "concurso", no qual entre as matérias estudadas estava se ler o cânone confuciano, formado por cinco livros:
  • I Ching (Livro das Mutações): Consiste numa obra bastante antiga, talvez o mais antigo livro de origem chinesa conhecido. A obra aborda aspectos ritualísticos, religiosos, filosóficos, mágicos, esotéricos, astrológicos, etc. O I Ching é um livro complexo, pois ao longo de séculos vários tipos de interpretações lhes foram dadas; uns o utilizaram como uma espécie de oráculo, para outros, a obra possuía "fórmulas mágicas", em outros casos foi visto mais como um livro de filosofia do que religioso. A ideia de mutação está associada a mudança, ou seja, o universo está em constante mudança, a vida é feita de mudanças, isso acaba sendo absorvido pela filosofia do yin e yang. 
  • Shijing (Livro de Poesias): a tradição confucionista diz que tal livro foi organizado por Confúcio, o qual era um grande admirador de poesia. O livro reúne mais de 300 poemas escritos provavelmente entre os séculos XI a.C e VII a.C, os quais estão divididos em poemas românticos, odes e hinos, nos quais se exaltam as figuras de alguns governantes, como também expressam questões religiosas e cerimoniais. Pelo que parece alguns dos hinos eram cantados durante alguns ritos. 
  • Shujing ou Shangshu (Livro de Documentos): consiste numa coletânea de discursos políticos de quatro dinastias: Yu, Xia, Shang e Zhou, todas antecederam Confúcio. Parte da tradição confucionista alega que tal livro também teria sido organizado por Confúcio, e até mesmo recebeu comentários e prefácios feitos por ele. O livro possui 58 capítulos no qual traz conversas e ordens de reis aos seus ministros, generais e ao povo. Aborda temas da política e da guerra. 
  • Liji (Livro dos Ritos): aborda os ritos da Dinastia Zhou os quais foram adotados pela Dinastia Han. Confúcio dava muito ênfase a estes ritos, embora trate-se mais de práticas de etiqueta, postura e convivência, do que práticas religiosas. O livro também aborda assuntos de ordem política e social, debatendo questões do cotidiano, como o casamento, luto, estudo, trabalho, etc.
  • Anais da Primavera e do Outono: trata-se de uma coletânea de comentários sobre o Período da Primavera e do Outono (722-481 a.C) época na qual Confúcio viveu. Os comentários abordam temas políticos, sociais e históricos. 
Com exceção do I Ching que possui um lado religioso, os demais livros são de caráter mais filosófico e moral para se compreender a administração e a política imperial. Mais um ponto para se assinalar o papel do confucionismo como filosofia adotada pelo Estado, e a tentativa da Corte de difundir uma religião embasada nessa filosofia. 

Taoismo religioso:

1) Breve história

O taoismo como forma religiosa começa a surgir por volta do século II a.C, se formalizando nos séculos seguintes. No entanto, a tradição taoista se credita sua origem há alguns séculos antes, quando teria nascido seu idealizador, o sábio Li Erh, que ficaria mais conhecido pelo nome de Lao Tse ou Lao Zi ("velho mestre"). Existem várias biografias sobre esse misterioso sábio chinês, e essas biografias em várias partes são discordantes, apontando datas para sua vida que variam do século XIV a.C a IV a.C. Além dessa imprecisão de quando ele teria nascido, tais relatos também indicam que o mestre teria vivido mais de cem anos, e outros falam de mais de duzentos anos de idade. 

Lao Tse montado em seu búfalo e acompanhado de um discípulo. A representação do mestre sobre um búfalo se tornou recorrente na iconografia chinesa antiga, embora não saibamos se realmente ele fazia isso. 
Na prática os historiadores hoje consideram que Lao Tse provavelmente foi uma figura lendária, pois suas biografias não são confiáveis, além de que o suposto livro que ainda hoje lhe é atribuído, o Tao Te Chang, aparenta ter sido escrito por mais de uma pessoa, e provavelmente não deva ser a mesma versão que Lao Tse teria escrito. Primeiro, o livro é na verdade um livreto, e hoje ele está dividido em 81 capítulos, mas sendo bastante curtos, consistindo em parágrafos reflexivos no que num estudo filosófico propriamente. Hoje as atuais versões deste livro costumam trazer prefácios, introduções, comentários, estudos, etc., para complementar a brevidade desse relato, mas embora seja curto não significa que seja simplista ou de fácil leitura. As reflexões propostas por Lao Tse em alguns casos são bastante profundas, e segundo Kramers [1999] a versão mais antiga descoberta data do século III a.C. 

Se tomarmos a biografia do historiador Sse-ma Chien, o qual escreveu Shi chi ("apontamentos históricos"), Lao Tse teria nascido no século VI a.C e morrido no século V a.C ou IV a.C. Logo, com essa base, o livro que hoje dispomos não seria sua versão original, mas uma versão que poderia ter sofrido alterações nestes dois ou três séculos, pois era comum naquele tempo os discípulos acrescentarem comentários e anotações nas obras e ensinamentos de seus mestres, o próprio livro de Confúcio como foi visto, não fora escrito por ele, mas por seus discípulos. 

Mas independente de Lao Tse ter sido uma pessoa real ou não, seu livro não foi escrito no intuito de criar uma nova religião, mas de se repensar alguns aspectos da vida fosse pelo âmbito religioso, político, social e moral. Por volta do século II a.C e nos séculos seguintes, o taoismo começou a ganhar suas crenças nas quais entre elas o próprio Lao Tse tornou-se um ser divinizado e receptível a culto. Algumas seitas taoistas posteriormente ergueram templos ao seu "fundador" e até mesmo o colocaram a altura de outros deuses de seu panteão. 

2) Aspectos religiosos

O Tao Te Ching (Livro do Caminho e da Verdade) embora não seja o único livro do taoismo, seja para sua vertente religiosa ou filosófica, ainda assim, consiste na base de seus ensinamentos. Os dois aspectos fundamentais apresentados nesse livros são o Tao ("ordem universal", "caminho") e o Te ("força", "virtude"). Estes não consistem em conceitos criados por Lao Tse ou algum de seus seguidores, mas conceitos que já existiam na sociedade chinesa a bastante tempo, o próprio Confúcio como visto, os menciona, no entanto, sob o pensamento de Lao Tse tais conceitos tomaram novos significados. 

"O Tao é a ordem do mundo, o princípio eterno do qual procedem todos os fenômenos. A unidade é superior à multiplicidade. O mundo provém de uma união do ser, yang, e do não-ser, yin. Os fenômenos são puras aparências. Tudo é relativo". (CHALLAYE, 1983, p. 102).

Para Lao Tse o Tao primeiro se representava como uma "ordem universal", uma essência cósmica impossível de ser definida e totalmente compreendida, pois o Tao é eterno e absoluto. Nessa concepção ele imagina tal "ordem" como algo superior aos próprios deuses, pois os deuses seriam frutos do Tao, assim como todo o restante do universo. Não obstante, o taoismo enfatiza muito a ideia de dualidade, que é representada pelo yin e o yang, onde o "todo" é formado pelos seus contrapostos, macho e fêmea, bondade e maldade, dia e noite, claro e escuro, cheio e vazio, paz e violência, vida e morte, belo e feio, alegre e triste, amor e ódio, dor e prazer, quente e frio, molhado e seco, alto e baixo, gordo e magro, etc. Daí se dizer que tudo é relativo.


O tei-gi, o símbolo mais conhecido do conceito de Yin e Yang. 
“Quando os seres sob o céu reconhecem o belo como belo
Então isso já se tornou um mal
E reconhecendo o bem como bem
Então já não seria um bem

A existência e a inexistência geram-se uma pela outra
O difícil e o fácil completam-se um ao outro
O longo e o curto estabelecem-se um pelo outro
O alto e o baixo inclinam-se um pelo outro
O som e a tonalidade são juntos um com o outro
O antes e o depois seguem-se um ao outro

Portanto

O Homem Sagrado realiza a obra pela não-ação
E pratica o ensinamento através da não-palavra
Os dez mil seres fazem, mas não para se realizar
Iniciam a realização mas não a possuem
Concluem a obra sem se apegar
E justamente por realizarem sem apego


Não passam”
(Tao Te Ching - capítulo 2)

Embora o Tao seja descrito como algo indefinível por completo, imensurável e de difícil compreensão, não significa que não se possa entendê-lo, pelo menos uma parte dele.

“A diferença mais importante entre a concepção de Lao-Tse sobre o tao e as outras é que Lao-Tse acreditava ser impossível descrever o tao de maneira direta e racional. "O tao que pode ser descrito não é o tao real", disse ele. Isso significa que o homem não pode investigar ou estudar a verdadeira natureza do tao, não pode usar o intelecto para compreendê-lo. Ele deve meditar, imerso numa tranqüilidade sem nexos e esquecer todos os seus pensamentos a respeito de coisas externas, como o lucro e o progresso na vida. Só então irá alcançar a união com o tao e será preenchido pelo te, a força vital”. (GAARDER, 2000, p. 87). 

Nesse ponto o Tao ganha seu segundo sentido, o de "caminho", onde para se compreender o Tao é preciso seguir o seu "caminho", mas como se seguiria esse tal caminho? A resposta se encontra no princípio do Wu Wei (não-ação, não interferir, não agir).

O taoismo prega que o caminho do Tao é natural, ou seja, ele ocorrerá de alguma forma, logo, por mais que você busque conhecimento, procure por instrução, busque por revelações, se esforce até mesmo meditando, não significa que você descobrirá esse caminho. A grande questão do taoismo trata que não é através do esforço que você conseguirá alcançar o Tao, mas sim através da simplicidade. 

Segundo Challaye [1981] as três virtudes do caminho do Tao são: 
  • simplicidade, 
  • humildade,
  • piedade. 
Viva de forma simples, sem luxo, sem preocupação de enriquecimento, sem esforços excessivos, sem ambições, sem ganância, sem inveja, sem maldade, sem vícios. 


“O que é mantido cheio não permanece até o fim
O que é intencionalmente polido não é um tesouro eterno
Uma sala cheia de ouro e jade é difícil de ser guardada
Riqueza e nobreza somadas à arrogância
Trazem para si a própria culpa
Concluir o nome, terminar a obra, retirar o corpo


Este é o Caminho do Céu”
(Tao Te Ching - capítulo 9)

Procure viver diariamente cada dia por vez, não viva de forma estressada e apressada, sinta a harmonia da natureza, entre em sintonia com a natureza, tenha piedade pelos outros, viva de forma pacífica, justa, honesta, sábia, fiel e solidária. 

"A bondade sublime é como a água

A água, na sua bondade, beneficia os dez mil seres sem preferência
Permanece nos lugares desprezados pelos outros
Por isso assemelha-se ao Caminho
Viva com bondade na terra
Pense com bondade, como um lago
Conviva com bondade, como irmãos
Fale com a bondade de quem tem palavra
Governe com a bondade de quem tem ordem
Realize com a bondade de quem é capaz
Aja com bondade todo o tempo

Não dispute, assim não haverá rivalidade"
(Tao Te Ching - capítulo 8)

Essas três virtudes marcam a ideia do wu wei, pois para o taoismo quando acabamos ficando presos a tais tendências muita coisa acaba por ser posta de lado, muita coisa acaba passando e, por outro lado, também acabamos ficando "cegos" para outros acontecimentos. O não-agir não significa não fazer nada, mas significa viver de forma simples como comentado acima.

"O Homem Sagrado não tem coração
Toma o povo como seu coração
Com os bons faço o bem
Com os que não são bons faço o bem também
Adquirindo o bem
Com os sinceros sou sincero
Com os que não são sinceros sou sincero também
Adquirindo a sinceridade
O Homem Sagrado sob o céu
Age cautelosamente fundindo os corações do mundo
O povo todo com olhos e ouvidos atentos
O Homem Sagrado os trata como crianças" 
(Tao Te Ching – capítulo 49)

Embora dessa forma que expliquei se possa entender um pouco o que seria o Tao e o Te, pois o Te seria essa virtude, essa força em se seguir uma vida simples como assinalado, no entanto, Lao Tse em alguns de suas opiniões era bastante radical. 

“O taoismo implica passividade e não atividade. Para um sábio taoista, a ação mais importante é a "não-ação". Isso obviamente tem uma grande influência em sua visão da vida comunitária. Enquanto Confúcio desejava educar o homem por meio do conhecimento, Lao-Tse preferia que as pessoas permanecessem ingênuas e simples, como crianças. Enquanto Confúcio ansiava por regras e sistemas fixos na política, Lao-Tse acreditava que o homem deveria interferir o mínimo possível no desdobramento natural dos fatos. Confúcio queria uma administração bem-ordenada, mas Lao-Tse acreditava que qualquer administração é má. "Quanto mais leis e mandamentos existirem, mais bandidos e ladrões haverá", diz o Tao Te Ching”. (GAARDER, 2000, p. 87).

Embora o Tao Te Ching seja o principal livro, alguns dos outros livros utilizados pelo taoismo sejam para questões de ordem filosófica ou religiosa são:

  • I Ching ("Livro das Mutações"): Consiste numa obra bastante antiga, talvez o mais antigo livro de origem chinesa conhecido. A obra aborda aspectos ritualísticos, religiosos, filosóficos, mágicos, esotéricos, astrológicos, etc. O I Ching é um livro complexo, pois ao longo de séculos vários tipos de interpretações lhes foram dadas; uns o utilizaram como uma espécie de oráculo, para outros, a obra possuía "fórmulas mágicas", em outros casos foi visto mais como um livro de filosofia do que religioso. A ideia de mutação está associada a mudança, ou seja, o universo está em constante mudança, a vida é feita de mudanças, isso acaba sendo absorvido pela filosofia do yin e yang. De qualquer forma consiste numa das bases da religião taoista. Além disso, o próprio I Ching influenciou tanto Lao Tse quanto Confúcio. 
  • Chuang Tse ou Zhuangzi: Consiste numa coletânea de livros em prosa e poesia creditados ao mestre Chuang Tse ou Zuangzi, o qual teria sido um seguidor devoto de Lao Tse, tendo vivido por volta do século IV a.C ou III a.C. Sua obra expressa assuntos de cunho filosófico e moral numa linguagem bastante metafórica, e as vezes com um tom de ironia. Algumas das partes do livro consistem em breves histórias com lições de moral. 
  • Taozang ("Tesouro do Tao"): Também chamado de Daozang (onde Dao é uma variação para Tao) consiste numa coletânea de centenas de textos, produzidos ao longo de séculos. Durante a Dinastia Ming (1368-1644) mestres taoistas decidiram reunir os vários escritos e formarem essa coletânea, a qual posteriormente foi dividida em três partes (dong): Zhen, Xuan e Shen, os quais estão associados mais a questão ritualística e monástica, pois foram utilizados para a instrução do sacerdócio taoista. A primeira parte (Dongzhen) foca o aspecto da meditação, a segunda parte (Dongxuan) diz respeito aos ritos e, a terceira parte (Dongshen) reflete sobre os exorcismos e a iniciação ao sacerdócio. 
  • Huainanzi ("Os Mestre de Huainan"): Trata-se de uma coletânea de ensaios produzidas por oito mestres do Reino de Huainan, a pedido do rei Liu An. O livro consiste num estudo filosófico e literário sobre história, mitologia, religião, política, astronomia, natureza, etc. Aborda temas do taoismo, confucionismo, budismo, etc. É formado por 21 capítulos e foi escrito por volta do século II a.C. 
  • Baopozi ("O mestre que abraça a simplicidade"): Teria sido escrito pelo alquimista e filósofo Ge Hong entre os séculos III e IV. O livro com forte influência da filosofia taoista e também confucionista. O grande foco da obra se encontra em assuntos da alquimia chinesa, entre os quais a busca pelo elixir da imortalidade, tema que se tornou recorrente tanto da alquimia na China, quanto do esoterismo taoista. No entanto, a segunda parte do livro debate questões sociais e políticas, e alguns historiadores sugerem que não sejam de autoria de Ge Hong, por ser assuntos divergentes e a escrita diferente. 
No que diz respeito ao lado religioso no âmbito de culto e clero, diferentes seitas se formaram ao longo da história, adotando práticas monásticas distintas. Além disso, o taoismo religioso absorveu vários aspectos religiosos da religião chinesa tradicional como: o culto aos ancestrais, culto a deuses, deusas e outros seres divinos, onde se oferta incenso, velas, frutas, água, chá, alimentos vegetais (a carne fica de fora), flores, etc. No culto se realiza além das oferendas, meditações, orações, estudos, cânticos, danças, cerimônias, encenações, música, etc

O Templo do Céu em Pequim. Provavelmente o mais conhecido templo taoista. Foi fundado no século XV. Os imperadores costumavam ir ao templo orar por boas colheitas, orar aos ancestrais, pedir sabedoria, pedir respostas, etc. 
Do budismo o taoismo religioso também adaptou algumas crenças religiosas, como a ideia de reencarnação, onde algumas seitas taoistas dizem que Lao Tse teria reencarnado várias vezes, mas excetuando-se esse caso, não se considera a reencarnação da mesma forma como visto nas religiões indianas. O taoismo também se baseou no budismo para organizar a vida monástica, onde os monges fazem votos (castidade, pobreza, obediência, dedicação, etc.) parecidos com o dos monges budistas, embora a liturgia seja diferente. 

O próprio Lao Tse é considerado por algumas seitas taoistas como uma divindade, incorporado ao panteão de seus deuses, onde se encontra templos dedicado a sua pessoa e até ritos e culto.

Estátua de Lao Tse em um templo taoista. 
O taoismo religioso também se utiliza de práticas alquímicas, mágicas, e esotéricas; se utiliza da medicina tradicional chinesa e das artes marciais (por exemplo o kunf fu e o tai chi chuan), onde tais práticas são assimiladas seja na vida dos monges ou no dia a dia. No caso das práticas mágicas se nota o seu uso para a proteção do lar, proteção da família, proporcionamento de boa saúde, prosperidade, boa sorte, ritos para longevidade, fertilidade, etc. No Ocidente em alguns países também se nota o uso de práticas mágicas, por exemplo, no Brasil. 

Ritual taoista na Montanha Wudang. 
No taoismo como já foi visto tudo parte do Tao (nesse ponto ele se assemelha ao conceito de Brâman visto no Bramanismo e no Hinduísmo), no entanto, a partir do Tao surgiram os deuses e estes por sua vez criaram o universo, o mundo, a natureza, o ser humano, etc. Além de Lao-tse os taoistas cultuam os Quatro Imperadores Deuses, sendo o Imperador de Jade o mais importante deles; cultuam também os Oito Sábios Imortais, e alguns outros deuses. 

Diferente das religiões indianas onde existe um grande apego a uma vida ascética, no taoismo, não se ver essa tendência a uma vida ascética onde as pessoas se privam de vários aspectos da vida, neste caso, o taoismo é menos radical do que religiões como o budismo e o jainismo. Por exemplo, a ideia de karma não é compartilhada, acredita-se que em apenas uma única vida, se você viver de forma como dita os ensinamentos, você conseguirá trilhar o caminho do Tao e assim conquistar o seu lugar no Céu. 

Religião japonesa


Na categoria de religião no Japão, além do xintoísmo que é a religião nacional e original desse povo, engloba-se o zen budismo, o confucionismo religioso, o taoismo religioso, o cristianismo e algumas seitas religiosas, chamadas por alguns de "novas religiões japonesas" como o Seicho-no-iê, Igreja Messiânica Mundial, Instituição Religiosa Perfeita Liberdade, Tenrikyo, Soka Gakai, Reiyukai, Mahakari, etc., não serão mencionadas nesse trabalho devido a falta de fontes. Todavia, se conseguir suprir essa ausência, atualizarei o texto. 


Quanto ao zen budismo, confucionismo religioso, taoismo religioso e o cristianismo, preferi não trabalhar com eles, por não se tratar de religiões surgidas no Japão. Pois as "novas religiões japonesas" surgiram no país, ou foram criadas por japoneses, embora que algumas delas sejam sincretismos entre princípios xintoístas, cristãos, budistas e confucionistas. 


Xintoísmo

1) Breve história


O xintoísmo é a religião originária do Japão, existindo há mais de dois mil anos, embora que nestes mais de vinte séculos essa religião se transformou, assim como várias outras pelo mundo. O xintoísmo consiste numa religião de caráter politeísta, animista, totemista e com alguns aspectos xamanistas. Não possui um fundador, um credo estruturado, não possui livros sagrados; a doutrina é passada verbalmente. 


Como no caso da China, o termo xintô e xintoísmo são invenções europeias oriundas do século XIX, antes disso não havia um conceito de religião como hoje concebemos, além do fato de não haver uma noção clara entre práticas religiosas, pois um japonês poderia ser budista e xintoísta e até houve caso de serem cristãos também, ao mesmo tempo. 

Os imperadores japoneses alegam que sejam descendentes da deusa-sol Amaterasu, tendo o império japonês se iniciado em 660 a.C com o imperador Jimmu que teria governado de 660 a.C a 585 a.C, fundando o império no final do Período Jomon (8000-300 a.C). Todavia antes do imperador e na própria época dele, a religião praticada no país não era homogênea e também não se chamava xintoísmo. Na verdade não sabemos quais eram os termos que eles davam para sua fé. 



Pintura retratando Jimmu, o primeiro imperador japonês. 
Em diferentes cantos do arquipélago havia práticas animistas, totemistas e xamanistas que não eram realizadas em outras ilhas, algumas das divindades cultuadas eram locais para aqueles habitantes. O surgimento da família real com Jimmu foi o primeiro passo para se tentar criar uma região organizada, não seria nem tanto uma religião nacional, mas que mostrasse coesão, uma estrutura, já que não havia uma nação unificada ainda nesse tempo. 

No século VI d.C o budismo e o confucionismo adentraram o Japão advindos da Coreia, a qual já possuía ligação com os japoneses a mais tempo do que os chineses. Monges coreanos foram os responsáveis por levar a fé de Buda e a filosofia de Confúcio ao arquipélago nipônico. No século seguinte o governo japonês começou a firmar acordos diplomáticos e comerciais com o império chinês. Foi ainda nestes dois séculos que surgiu o termo xintoísmo. 


A palavra xinto vem do chinês shintô (shin = deuses + = caminho) que é traduzida como "Caminho dos deuses". Nessa época a língua japonesa não possuía um alfabeto próprio, logo, os eruditos usavam o alfabeto chinês para escrever em japonês, daí utilizar uma palavra chinesa que acabou sendo absolvida pela língua nipônica. Várias outras palavras chinesas e até coreanas também foram absorvidas pela língua japonesa. 


A criação do termo xinto foi uma forma de se diferenciar do Butsudô ("Caminho de Buda"), e por sua vez, também do Kongtô ("Caminho de Confúcio"). Logo, nesse período começa a surgir uma noção entre religião nativa e religião estrangeira. E essa diferenciação se dá principalmente por parte da Corte e do clero, os quais num primeiro momento não aceitam de forma amistosa a expansão dessas duas religiões. Todavia, séculos depois ambas as fés estariam profundamente enraizadas na cultura nipônica, que quando os portugueses chegaram no século XVI para pregar o cristianismo, se depararam com a flexibilidade da fé do japonês, o qual não via problema em até mesmo compartilhar de ritos, crenças e práticas das três religiões. 



"Não é raro, no Japão, o uso alternado de várias religiões. Uma criança pode ser abençoada pelos deuses num ritual xintoísta e ser enterrada num ritual budista. O casamento pode se realizar numa igreja cristã. Essa mistura de religiões encontrou expressão modernamente numa série de novas seitas, cultos e comunidades religiosas, o que levou o Japão moderno a ser chamado de laboratório religioso". (GAARDER, 2000, p. 88-89). 

No livro Japanese Religion (1972) os autores assinalaram que o xintoísmo podia ser classificado de cinco formas, as quais representavam diferentes aspectos de como seu culto e credo são realizados. 

  • Xintoísmo imperial (Kôshitsu shintô): diz respeito ao culto praticado pela Corte imperial. 
  • Xintoísmo dos santuários (Jinja shintô): a religião praticada e organizada nos santuários e templos.
  • Xintoísmo das seitas (Kyôha shintô): surgido entre 1876 e 1908 consistiu originalmente em 13 seitas as quais se formaram em oposição ao xintoísmo estatal, por discordarem do controle do Estado sobre a religião. 
  • Xintoísmo folclórico ou popular (Minkan shintô): trata-se da práticas religiosas feitas diariamente e aparte do rito imperial, dos santuários e das seitas. Algumas dessas práticas são locais e regionais.
  • Xintoísmo estatal (Kokka shintô): consistiu numa iniciativa do governo japonês entre 1868 a 1945 de tornar o xintoísmo a religião oficial do país, e uma forma de promover o nacionalismo (kokutai) através da religião, e reviver o culto ao imperador. 
“A origem do culto ao imperador se explica, em parte, pelas condições políticas do século passado. O Japão estava ameaçado pelo expansionismo ocidental e sentiu necessidade de reforçar no povo o caráter nacional. Ao mesmo tempo, a autoridade do imperador tinha sido solapada por líderes militares, os xoguns, que detinham o poder. Em 1867, um golpe de Estado deu ao imperador Meiji o controle do país; ele iniciou então uma renovação política e religiosa. O xintoísmo se tornou a religião estatal, ao passo que templos budistas foram derrubados e vários elementos budistas foram expurgados da cultura xintoísta. Retratos do imperador foram pendurados em todos os edifícios oficiais, nas escolas e nas fábricas, e as pessoas tinham de se curvar respeitosamente diante deles. Juntamente com o culto ao imperador veio à tona um forte nacionalismo. Essa foi a base para o crescente expansionismo japonês, que culminou na Segunda Guerra Mundial, quando o Japão se alinhou com a Alemanha”. (GAARDER, 2000, p. 91). 
 
Atualmente grande parte da população japonesa se declara ser xintoísta, e a segunda maior religião no país é o zen budismo. Todavia, nessas últimas décadas dos anos 70 para cá, aumentou o número de adeptos a novas religiões e até mesmo de agnósticos. Quanto ao cristianismo, segundo uma estimativa de 2012 da Igreja Católica, no país havia um pouco mais de 400 mil cristãos, embora o cristianismo corresponda a menos de 1% da população japonesa. Além disso, muitos japoneses se consideram xintoístas e budistas. 

2) Aspectos religiosos


Embora o xintoísmo possa ser dividido de algumas formas, ainda assim, ele no todo se fundamenta em questões centrais: culto aos kami (deuses), culto aos ancestrais, rituais de purificação e as cerimônias religiosas. Para entender algumas das diferenças surgidas na fé xintoísta, é necessário primeiro ter ciência de suas bases. 


“Costuma-se dizer que o xintoísmo possui diversos milhões de deuses, ou kamis, que se manifestam sob a forma de árvores, montanhas, rios, animais e seres humanos. Só que a palavra japonesa kami também pode ser traduzida como "espírito". O culto aos espíritos naturais e ancestrais sempre foi fundamental para o xintoísmo, desde os dias em que o Japão ainda era uma sociedade agrária. O culto aos antepassados se difundiu particularmente sob a influência do confucionismo chinês”. (GAARDER, 2000, p. 89). 

O xintoísmo surge da natureza como inspiração, daí a maioria dos deuses e espíritos estarem ligados a aspectos da natureza e seus fenômenos. Algo também visto em outras religiões, mas para os xintoístas todos os seres vivos surgem dos kami. A palavra kami em japonês é utilizada tanto para se referir aos deuses quanto as deusas, e serve para o singular e o plural, o que mostra sua versatilidade de emprego e uso, ao mesmo tempo em que reforça a ideia japonesa que os deuses e espíritos estão em todos os lugares. 

Alguns historiadores das religiões atentam que originalmente o termo kami não distinguia propriamente o que seria os deuses e os espíritos dos homens, dos animais, das plantas e da natureza. Para os primeiros xintoístas, tudo estava ligado aos kami, daí embora hoje alguns prefiram utilizar o termo mais especificamente para se referir apenas aos deuses e deusas, ainda há gente que utiliza a palavra no seu sentido geral. Para este estudo preferi utilizar kami no sentido de deuses. 

Na concepção japonesa os kami não são oniscientes e onipotentes, embora por não se saber de sua real forma, eles estão em todos os locais. Ainda hoje muitos templos não possuem imagens dos deuses, pois não se conhece a sua verdadeira forma. Os kami possuem poderes, já que controlam a natureza e influenciam a sorte e até o destino dos homens, mas seus poderes não são absolutos como visto em outras religiões. 

Há deuses bons, mas há deuses maus, embora que no geral os deuses prezem pela harmonia. Neste caso se diz que o deuses são seres puros, logo, para o ser humano realizar suas oferendas, orações e sacrifícios devem se purificar primeiro, pois os deuses não aceitam a impureza de corpo e de alma. As pessoas que descumprem isso, são punidas. 

A relação entre os deuses japoneses e o povo, segundo o livro Japanese Religion se dá através do conceito de oya-ko, ou seja, uma relação entre pais e filhos, onde os deuses são os pais e a humanidade os filhos. Pode parecer que não há diferença com outras religiões, mas se tomarmos as religiões abraâmicas, embora se diga que todos nós somos filhos de Deus, nossa relação com Ele não é entre pai e filho, mas entre Criador e criatura. Os japoneses tratam os deuses de forma pessoal, como se fossem familiares, mas mantendo o respeito. Nas religiões abraâmicas nos dirigimos a Deus como meu Senhor, mas não meu pai no sentido familiar, mas pai no sentido de autoridade. 

Na cosmologia japonesa, o mundo e alguns deuses foram criados pelo casal celestial Izanagi e Izanami, os quais também eram irmãos. A mitologia conta que os casal nasceu de outros deuses que geralmente não são mencionados os nomes, e estes viviam no Céu. Logo, foi incumbido aos irmãos-cônjuges descerem até o mundo no qual só existia água, então Izanagi criou a primeira ilha chamada Onogoro, e depois criara outras ilhas e continentes, assim como, as montanhas, a fauna e a flora. Num primeiro momento o casal tivera um filho que nasceu com deficiência, e foi chamado de Hiruko

Izanagi e Izanami.
Descontentes com o filho deformado, os deuses o largaram em um baco no mar, e a criança acabou perecendo. Outra versão diz que ele se tornou o deus Ebisu, deus dos pescadores e da saúde infantil, já que ele teria se curado de seus problemas físicos. De qualquer forma, os outros deuses culparam Izanami por não ter seguido arrisca os ritos da cerimônia de casamento (tal fato é importante para se entender a importância que essa religião dá para o cumprimento dos ritos), e por quebrar esses atos sagrados, ela foi punida com um filho doente. Assim os outros deuses pediram que o casal volta-se a ter novos filhos, então nasceram vários kami (aqui utilizado no sentido geral apresentado). 

O último filho que Izanami deu a luz foi o deus do fogo Kagutsuchi, o qual acabou fazendo a sua mãe morrer durante o parto. Aquilo deixou Izanagi tão desconsolado que ele acabou assassinando o próprio filho. Se nota aqui que os deuses não são perfeitos. Com a morte de sua esposa-irmã, Izanami decidiu ir ao Mundo Inferior (Yomi). Yomi não seria o Inferno como visto em outras religiões, mas o mundo sombrio para onde os mortos vão. Além de ser habitado pelos mortos, é também habitado por monstros e demônios.

Chegando a Yomi, Izanagi pretendia resgatar sua esposa e trazê-la de volta a vida, mas quando ele se deparou com o corpo monstruoso de sua falecida esposa, assim como, o aspecto repugnante dos demônios, ele acabou se apavorando, e decidiu fugir, sendo perseguido por tais criaturas. Ao voltar para a superfície, ele selou a passagem para Yomi. Izanagi além de ainda aterrorizado, ele se sentiu estando bastante impuro por ter adentrado aquele local sombrio e repugnante, então decidiu se lavar numa fonte. Durante o seu banho de purificação alguns deuses acabaram nascendo do poder de Izanami, entre eles a tríade japonesa.

Do olho esquerdo nasceu a deusa do sol Amaterasu, do olho direito nasceu o deus da lua Tsukuyomi, e do nariz surgiu Susanoo, o deus dos mares e tempestades. Dos três irmãos, Amaterasu figura como a principal divindade do panteão xintoísta principalmente por sua ligação com o culto ao imperador, no qual se diz que Jimmu seria descendente de um dos netos da deusa, o qual viveu entre a humanidade por ordem de sua avó, já que a deusa sempre procurou zelar pelo bem-estar da humanidade, então enviou o neto para guiar os homens.

Amaterasu a deusa-sol. 
A partir dessas histórias se nota o papel da observância dos ritos e das cerimônias, as quais devem ser devidamente cumpridas, assim como, a importância da purificação para se entender o conceito religioso do xintoísmo, o qual nesse ponto se assemelha a algumas religiões indianas, as quais também dão bastante atenção as práticas de purificação corporal e espiritual. 

Acerca da ideia de Céu e Inferno, no xintoísmo ela tem algumas diferenças. Os xintoístas acreditam na existência de três planos os quais existem em paralelo com essa realidade em que vivemos: 

  • Takama no Hara: consiste no lar dos deuses, ficando no plano celeste.
  • Yomi no Kuni: como já mencionado anteriormente, diz respeito ao mundo da escuridão, onde reside os mortos, monstros e demônios. 
  • Tokoyo no Kuni: consiste do "País do Além", o qual seria a terra para onde as almas boas iriam quando morressem. 
Nessa concepção teológica, se nota que o Céu é o lar dos deuses, embora seja dito que ele é bem parecido ao plano terreno, mas sendo perfeito, totalmente puro, sem dor, sem maldade. Para o xintoísta, quando se morre, sua alma não vai para o Takama no Hara, pois esse mundo é exclusivo dos deuses, logo, resta ir para o Yomi e o Tokoyo. 

Originalmente só existiam o Takama no Hara e o Yomi, no entanto, o Mundo Inferior representado pelo Yomi não consistia numa concepção de Inferno. Lá embora fosse uma terra sombria e habitada por demônios, não significa que as almas padeceriam de tortura e punição, mas elas viveriam em um estado de melancolia, algo parecido com o Erebus no Hades para os gregos, os quais acreditavam que este local no Inferno seria a "planície das sombras" onde os mortos vagariam por essas terras áridas e sombrias. 

Quando o budismo e o cristianismo se fixaram no Japão, para transmitir o conceito de Inferno visto nas duas religiões, Yomi foi tomado como exemplo, recebendo dessas religiões estrangeiras os atributos infernais. No caso do budismo Yomi passou a ser um dos planos infernais que existem segundo a doutrina do zen budismo. Todavia, não significa que a população deixou de acreditar que o Yomi fosse o local de descanso para os mortos, os quais eram levados para lá, sendo guiados pelos shinigami (deus da morte). 

Entretanto, em dado momento da História surgiu a concepção de um terceiro plano, o Tokoyo no Kuni. Esse se desenvolveu principalmente através do xintoísmo popular. Nessa perspectiva o Yomi se torna um local destinado aos pecadores, e o Tokoyo passa a ser o paraíso, para onde as almas boas seguem através do oceano para essas terras de além mundo, onde desfrutaram de paz e felicidade. É válido também lembrar que alguns japoneses se consideram tanto xintoístas quanto budistas, logo, eles compartilha da ideia de Céu do budismo também. 

Entendido essas características passemos para falar um pouco sobre a importância dos ritos. Na tradição antiga do xintoísmo, antes de ser influenciado pelo budismo, confucionismo religioso e o cristianismo, se acreditava que todas as pessoas nasciam boas, que a maldade não era algo que fazia parte do ser humano. Nessa concepção os atos de maldade eram gerados por espíritos maus, os quais influenciavam as pessoas a se tornarem impuras e a corromperem os mandamentos dos deuses, dessa forma a pessoa passaria a cometer crimes e pecados. Logo os rituais de purificação eram uma tentativa de remover essas entidades maléficas e essas energias ruins. 

Embora o conceito de maldade (tsumi) tenha mudado hoje na concepção religiosa, o papel da purificação ainda se mantém. Seja no lar, na ida a um templo ou a participação de algum festejo religioso os xintoístas mais devotos tendem a seguir arrisca os ritos de purificação. 

Os ritos preliminares de purificação (kessai) consiste em só se alimentar de comidas que foram devidamente preparadas e purificadas pelo ritual do fogo. Após isso as pessoas deveriam ir se banhar no mar ou em um rio. As mulheres que estão em período de menstruação ou de luto recente estão dispensadas de realizar tais ritos. 

No entanto, muitos japoneses hoje não seguem a arrisca o kessai, não fazendo o preparo dos alimentos, não indo banhar-se no mar ou nos rios. Para compensar esse problema dos tempos modernos, os sacerdotes oferecem nos templos uma alternativa na qual as pessoas podem passar por essa purificação preliminar, ao visitar os templos ou santuários os sacerdotes pedem que os visitantes lavem as mãos e enxaguem a boca, além de receberem as bençãos dos clérigos. O kessai é entendido como um rito de purificação externa, o qual está associado a limpeza do corpo. 

Tendo purificado o corpo, se passa para o harai, a purificação do espírito. O harai normalmente é realizado pelos sacerdotes, no qual a pessoa se dirige aos templos para participar desse rito que envolve defumação por incenso, água, orações, o uso de objetos sagrados, os quais se acredita que deles emana as boas energias dos deuses, e tais objetos são utilizados para "espantar" os maus espíritos e "sugar" as energias negativas. Tais práticas também são vistas em outras religiões. 

Diferente da Índia onde os indianos em geral realizam os ritos de purificação diariamente, hoje em dia muitos japoneses não fazem o kessai diariamente, e nem o harai com regularidade. Mas se por um lado tais ritos não são seguidos com regularidade, os ritos de dedicação devem ser feitos com regularidade. Tais ritos consistem nas orações, preces e oferendas feitas aos deuses e aos antepassados.

Segundo os autores de Japanese religion, o início dos ritos de dedicação se dava oferecendo como oferenda, ramos da árvore sagrada sakaki, a qual é considerada um kami. Posteriormente se ofertava também os primeiros frutos e grãos da época da colheita. Hoje em dia é mais casual oferta-se arroz, saquê, incenso, chá, água, peixe, ramos de sakaki, tecidos e outros produtos ligados ao cerimonial xintoísta. 

Um altar com uma oferenda em arroz e um ramo de sakaki.
As oferendas são uma prática marcante do culto xintoísta, e são feitas tanto em casa, quanto nos templos e em locais sagrados. Junto as oferendas os devotos fazem suas preces (norito) nas quais se agradece aos deuses e aos antepassados por bençãos ou se pede por favores. O hábito de realizar cultos nos templos não é algo comum dessa religião. Como será visto adiante, os templos são locais de adoração, não locais de culto como as igrejas, sinagogas e mesquitas. 

No lar o culto se refere mais aos antepassados, neste caso ora-se aos ancestrais por proteção, saúde, boa sorte e prosperidade. Além de também ser uma forma de mostrar respeito e reconhecimento por eles. Neste caso nos lares xintoístas existe um altar dedicado a esse culto, chamado kamidana, o qual consiste numa miniatura de um templo onde se coloca os objetos religiosos e as oferendas. 



Embora existam outros tipos de altares, o kamidana pela influência do xintoísmo dos santuários, se tornou o altar mais comum hoje em dia no Japão, dividindo essa popularidade com o butsudan, o altar japonês budista. Sua aparência e organização podem variar, no entanto, ele resguarda algumas características básicas: 
  • O kamidana deve sempre ser colocado na parte alta da parede, de preferência que fique acima da cabeça. Ele deve ficar num recinto da casa que não circule muitas visitas, já que consiste num local de comunhão familiar com seus antepassados. Em caso de se morar num apartamento, normalmente se escreve numa folha de papel a palavra sora (céu) e cola a folha no teto, sobre o kamidana
  • O nome dos familiares é escrito em cartões de papel (ofuda) e são colocados no altar. Nos ofuda também constam orações e preces, as quais são colocadas também no altar. Quando as preces são atendidas, elas são removidas do altar após os familiares agradecem pela graça alcançada. Os demais ofuda também podem ser trocados com o tempo.
  • Nos altares xintoístas não é comum haver estátuas ou representações iconográficas dos deuses, como é visto na China e na Índia. Os xintoístas alegam que não se conhece a verdadeira forma dos deuses, logo, normalmente se utiliza objetos para simbolizar os deuses, o objeto mais comum é um espelho (kagami), uma referência ao presente que Amaterasu deu ao imperador Jimmu. 
  • Outros objetos são, tigelas e potes onde se põe as oferendas como arroz, frutas, saqué, água, chá, etc.
  • Há vasos onde se coloca flores, mas principalmente ramos de sikaku
  • Uma caixa (saisenbako) na qual se deposita dinheiro.
  • Uma corda feita de palha de arroz (shimenawa) adorna a parte superior do altar, embora nem todos os altares tragam essa corda.
  • Fotos de antepassados também são colocadas no kamidana, geralmente as fotos dos avós, bisavós, pais e dos entes mais queridos. 
  • Pode constar amuletos, talismãs ou outros objetos associados a proteção do lar e da família, ou que proporcionem boa sorte, saúde e prosperidade. 
Os objetos religiosos que se encontram no kamidana geralmente são conseguidos nos santuários, mas em caso de for um item familiar o qual se queira por no altar, é necessário levar esse objeto ao santuário para os sacerdotes o purificarem, ou o sacerdote vai ao lar para realizar o rito de purificação daquele objeto. 

Exemplos de kamidana.
Outra parte integrante da ritualística xintoísta diz respeito a ida aos templos e a participação nos festivais religiosos. Embora o xintoísta possa fazer suas orações aos deuses em casa, normalmente ele deixa as oferendas nos templos, os quais são considerados a morada dos kami

Por vários séculos os templos xintoístas não eram fixos, pois os japoneses acreditavam que os kami não possuíam uma morada fixa, logo, estavam em todos os lugares. No entanto, em determinadas épocas, simples santuários eram construídos para se realizar as cerimônias e festejos em honra de algum deus ou deusa, e quando tais ritos terminavam, o santuário era desconstruído ou demolido. 


Ainda hoje existem alguns santuários que são desconstruídos e reconstruídos, como caso do Santuário de Ise, dedicado principalmente a deusa Amaterasu, embora também possua templos para outros deuses. Hoje muito das construção são fixas, mas recebem reforma regularmente, no entanto, as edificações centrais, são desconstruídas e reconstruídas a cada vinte anos. 



Vista aérea de parte do Santuário de Ise, província de Mie.
Todavia, em determinada época passou a se deixar os santuários ficarem fixos, desde então no país existem milhares por todo o território nacional. Seus tamanhos e formas variam de local para local, mas o que eles tem em comum, é o fato que o santuário é considerado a casa de um kami, literalmente. 

Para se construir um santuário se realiza ritos de purificação para limpar a terra e o local onde tal construção será erguida, depois se convoca os deuses para ali habitar. Os santuários podem ter apenas uma estrutura ou várias, mas em geral são construções simples, embora haja os grandes templos, e por sua vez a arquitetura chinesa do budismo e do confucionismo influenciaram na arquitetura dos templos xintoístas. A ideia de templos majestosos e suntuosos não é bem vista pelos xintoístas, os quais pregam a humildade, e para eles, os deuses prezam mais a simplicidade do que o luxo.


Normalmente os santuários eram construídos nas vilas ou em locais cercados pela natureza, florestas, montanhas, ilhas remotas, pois na crença japonesa a natureza possui um grande papel na vida do japonês. No entanto, com o crescimento das cidades e da vida urbana, passou a se construir santuários no perímetro urbano, mas para não se perder essa tradição e vínculo com o natural, vários destes templos são cercados por jardins, ou se localizam em parques florestais dentro das cidades. 

Dependendo do xintoísta, sua frequência aos templos varia, no entanto, muitos costumam a comparecer nestes locais sagrados para receberem os ritos de purificação espiritual (harai), deixar oferendas, pedir graças aos deuses, honrar as divindades, agradecer por promessas cumpridas, participar de alguma cerimônia, como apresentação de dança, música e artes cênicas, procissões, celebrações de batismo, casamento, funerais, etc. 


Os xintoístas acreditam que os deuses se alimentam, daí a maioria das oferendas serem comida e bebida, e as divindades também necessitam de entretenimento, por isso se realizar os eventos artísticos. 


Os templos se dividem basicamente em três espaços:

  • Haiden (sala de orações): normalmente a maior sala do templo, na qual os fiéis podem depositar suas oferendas e fazer suas preces e orações;
  • Heiden (sala de oferendas): reservada apenas para os sacerdotes os quais deixam as oferendas diárias aos kami;
  • Honden: consiste no recanto pessoal dos kami, onde se acredita que o kami resida. É o local mais sagrado dos santuários e templos, sendo proibido o acesso ao público, apenas os sacerdotes autorizados podem adentrar o recinto. Dentro do honden existe uma relíquia sagrada (shintai ou goshintai), normalmente espelhos, espadas ou joias, onde se acredita que a influência do deus se manifesta. Durante alguns festivais religiosos, o shintai é retirado do honden, posto numa caixa ou baú e levado em procissão. 
Tais espaços internos podem ser conjunto ou separados pela área do santuário. Além de tais localidades, exitem locais abertos para se deixar oferendas, se deixar preces, fontes, lago, córregos, caminhos, jardins, pontes, etc. Em muitos templos a presença de água seja em lago, piscinas, fontes, é recorrente, pois a água é um elemento de purificação.

O shintai do Santuário de Toshogu durante a celebração do Matsuri (Festival de Outono). 
Acerca do sacerdócio xintoísta, os sacerdotes (kannushi) não precisam se dedicar plenamente a vida do sacerdócio como em outras religiões. Eles podem se casar e ter famílias, e podem também exercer outros empregos e funções. No entanto, há alguns que preferem uma vida de plena dedicação. Antes da Era Meiji no século XIX, o sacerdócio era permitido apenas aos homens e era algo hereditário, havia famílias que se dedicavam a tal ofício. De 1868 a 1945 com o advento do xintoísmo estatal, os sacerdotes se tornaram funcionários públicos, sendo nomeados pelo Departamento de Assuntos Xintoístas, criado pelo governo para gerir a religião no país. 

Mas após o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e consequentemente a queda do xintoísmo estatal, foi criado a Associação dos Santuários Xintoístas (Jinja honchô) em 1946, a qual retomou sua autonomia perante ao Estado. Hoje em dia a Jinja honchô é quem administra os santuários e templos, e quem cuida da nomeação dos sacerdotes, o que inclui o direito de mulheres de agora entrarem para o sacerdócio. 



Um sacerdote executando um rito, sendo seguido por sacerdotisas. 
Na prática os sacerdotes são instruídos nos serviços realizados nos santuários, mas sua instrução é mais voltada para a realização dos ritos e cerimônias do que na pregação, pois como foi dito, nos templos não há essa ideia de pregação, e tão pouco os sacerdotes tem o hábito de pregar e instruir como visto em outras religiões. Os ensinamentos xintoístas são passados pela família, de geração a geração, isso se reforça com a ausência de um livro sagrado e um credo único. 

O sacerdócio xintoísta é hierarquizado e cada um dos templos possui um sumo-sacerdote ou grande sacerdote, o qual vive na localidade do santuário, no entanto, os demais clérigos vivem fora do santuário. Para o xintoísmo imperial, o imperador é o sumo-sacerdote, e a imperatriz a suma-sacerdote. No entanto, em tempos antigos, o sumo-sacerdote era o chefe de uma aldeia, vila ou cidade, ou algum nobre, hoje em dia tal caráter mudou, pois é necessário se fazer um curso para adentrar ao sacerdócio. 


Por fim para encerrar vejamos alguns dos principais festejos religiosos do xintoísmo, os quais também se misturam com feriados cívicos:

  • Ano Novo: é um dos festejos principais do xintoísmo, onde no primeiro dia de janeiro, os fiéis vão aos templos agradecer pelo ano que passou, e fazer suas preces para o ano que começa. 
  • Reisai: consiste numa celebração relacionada ao santuário, onde se celebra o aniversário de fundação, o dia de um kami, ou algum acontecimento histórico associado aquele local. Nessas datas costuma-se realizar procissões pelo terreno do santuário, celebrar jogos, danças, apresentações musicais e de teatro. 
  • Festas da Primavera (Haru matsuri): Originalmente associada ao início do período de plantio, tal aspecto ainda se conserva hoje, embora outros significados lhe são atribuídos. Os festejos começam pelos meses de fevereiro e março, ocorrendo em todo o país, através de distintos tipos de celebrações, onde se pede por prosperidade. 
  • Festas de Verão (Natsu matsuri): estão relacionadas aos expurgos das impurezas, seriam celebrações para a purificação. Também ocorrem por todo o país sob diferentes formas. 
  • Festas de Outono (Aki matsuri): consiste no complemento as festas de primavera, onde se agradece pelas colheitas, pelo trabalho, pelo alimento, etc. Ao lado dos outros festivais, ocorre em todo o país. 
  • Aniversário do imperador: é uma celebração que mescla preceitos religiosos e cívicos. O xintoísmo imperial é quem dá maior atenção a ritualística ligada a esse feriado, embora no país todo as pessoas também prestem suas homenagem aos monarca. 
NOTA: O dragão chinês é descrito como sendo uma junção de alguns animais: corpo de serpente, chifres de veado, orelhas de touro, olhos de coelho, garras de tigre, escamas de peixes. As cores dos dragões são também simbólicas para sua representação: em geral eles são azuis, amarelos, vermelhos, marrons e pretos. 
NOTA 2: Os chamados Reis Dragões são os governantes das quatro direções e dos quatro mares. Eles são Ao Kuang (Leste), Ao Qin (Sul), Ao Run (Oeste) e Ao Shun (Norte). Dos nove principais dragões chineses, os quatro Reis Dragões são os mais cultuados. 
NOTA 3: As 13 seitas xintoístas que sugiram entre 1876 e 1908 foram respectivamente da primeira a última: Kurozumikyô (1876), Shinto Shûseiha (1876), Izumo Ôyashirokyô (1882), Fusôkyô (1882), Jikkôkyô (1882), Shinto Taiseikyô (1882), Shinshûkyô (1882), Ontakekyô (1882), Shinto Taikyô (1886), Shinrikyô (1894), Misogikyô (1894), Konkôkyô (1900) e Tenrikyô (1908). 
NOTA 4: Para os xintoístas, Buda, Confúcio, Lao-Tse e os santos cristãos são kami (no sentido de serem espíritos iluminados). 
NOTA 5: Atualmente os cristãos japoneses chamam Deus de Kami-sama (Senhor Deus). 
NOTA 6: Entre os animais sagrados para os japoneses estão o dragão (ryu), a raposa (kyubbi), o urso e a carpa. 
NOTA 7: No final do século XIX o confucionista Kang Wuoei (1858-1927) propôs a criação da "Igreja de Confúcio", baseado na ideia cristã de igreja. Tal iniciativa não recebeu muitos adeptos, embora hoje existam essas igrejas pela China. 

Referências bibliográficas:
AEGERTER, Emmanuel. As grandes religiões. Tradução de Yolanda Leite. São Paulo, Difusão Europeia do Livro, 1957. 
CHALLAYE, Félicien. As grandes religiões. Tradução Alcântara Silveira. São Paulo, IBRASA, 1981. (Coleção Gnose - 1). 
CONFÚCIO. Os analectos. Tradução do chinês, introdução e notas, D. C. Lau. Tradução do inglês de Caroline Chang. Porto Alegre, L&PM, 2011. 
GAARDER, Jostein. O livro das religiões. Tradução Isa Mara Lando. 7a ed, São Paulo, Companhia das Letras, 2000. 
HORI, Ichiro; IKADO, Fujio; WAKIMOTO, Tsuneya; YANAGAWA, Keiichi (editores). Japanese religion. Tradução Yoshiya Abe e David Reid. Tóquio, Kondasha International LTD., 1974. 
KRAMERS, Robert Paul. Confúcio. In: BRUNNER-TRAUT, Emma. Os fundadores das grandes religiões. Tradução de Ivo Martinazzo. Petrópolis, Vozes, 1999. 
KRAMERS, Robert Paul. Lao-Tse. In: BRUNNER-TRAUT, Emma. Os fundadores das grandes religiões. Tradução de Ivo Martinazzo. Petrópolis, Vozes, 1999. 
LAO-TSE. Tao Te Ching: o livro que revela Deus. Tradução e notas de Huberto Rohden. São Paulo, Martin Claret, 2005. 

Link relacionado:

Confúcio

Link para download ou leitura dos livros:
I Ching - O Livro das Mutações (português)
Tao Te Ching (português)
Zhuangzi (português)

LINKS:

Sociedade Taoista do Brasil
Center for Daoist Studies
Templo Xintoísta do Brasil
Encyclopedia of Shinto
Tao Directory
Confucius - Stanford Encylopedia of Philosopy
Shinto - BBC religions
Taoism - BBC religions
História das Religiões - Xintoísmo (dublado em português)
História das Religiões - Confucionismo e Taoismo (dublado em português)

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