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Leandro Vilar

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Os Povos Celtas

Os Celtas na realidade não consistiu em um único povo, mas sim num conjunto de povos de organização tribal, que compartilhavam alguns aspectos em comum, principalmente o caso da língua céltica, língua essa de origem indo-europeia, introduzida por volta do segundo milênio a.C na parte oriental da Europa, por povos vindos da Ásia Menor, e tais povos acabaram se miscigenando com os habitantes da Europa oriental e central, levando a difusão dessa língua e séculos depois ao surgimento dos Celtas. 

Nesse texto procurei abordar alguns aspectos gerais dos Povos Celtas, remetendo-se as suas origens, suas localizações, suas identidades, costumes e crenças, pois a história desses povos é ampla e bem diversificada.

Os Celtas surgem para a História

Os relatos históricos mais antigos conhecidos a respeito dos celtas pertencem ao  geógrafo grego Hecateu de Mileto (ca. 540 - ca. 475 a.C), o qual diz que próxima a colônia grega de Massília (atual Marselha no sul da França), na terras dos Lígures. Hecateu conta que a nordeste e noroeste dessas terras habitariam um povo chamado de Keltoi. Hecateu também chegou a mencionar uma suposta cidade desse povo, a qual ele chamava de Nirax, local este que os historiadores acreditam ser a antiga região de Noricum, que compreende hoje a província de Estíria no sul da Áustria

Mapa-múndia segundo Hecateu de Mileto (século VI-V a.C). Nota-se no mapa, que os celtas viveriam na parte ocidental da Europa, no que hoje corresponderia em grande parte a atual França. 
Outra fonte grega que fala a respeito desse povo, provêm do historiador grego Heródoto de Halicarnasso (480?-420 a.C), o qual em seu livro Histórias, Heródoto menciona brevemente a respeito dos celtas dizendo que eles viveriam na região onde nascia o rio Danúbio, um dos grandes rios que cruzam a Europa. Porém, devido a falta de conhecimento geográfico acerca da Europa, Heródoto acertou por um lado e errou por outro. Para ele, o rio Danúbio nasceria na Cordilheira dos Pirineus, hoje localizada no nordeste da Espanha e sudeste da França, porém o rio Danúbio, nasce na Alemanha. Além disso, a partir desse erro geográfico, para Heródoto os keltoi viveriam na Hispânia, nome dado a Península Ibérica, porém Heródoto não errara por completo; de fato algumas tribos celtas habitaram o nordeste do atual território da Espanha e possivelmente a região que hoje corresponde a Galícia no noroeste da Espanha e talvez o norte de Portugal. 

"Por muito mal informado que Heródoto estivesse sobre a localização do curso inicial do Danúbio, a crença da formação desse rio em território celta pode não se ter apoiado, meramente, na sua suposta associação com Pirene. Sobre o Danúbio Inferior dispunha Heródoto de informações muito mais completas. Sabia que podia ser subido por barcos numa grande extensão e que atravessava terras habitadas em todo o seu curso. Parece mais do que provável que, por esta via, chegassem notícias da existência daí o referirem-se ambas as fontes de informação a uma e mesma localização. Na verdade, as provas arqueológicas vão ao ponto de mostrar ter sido a região do Danúbio Superior a pátria dos Celtas, de onde uns tantos deles passaram primeiro a Hispânia, e um pouco mais tarde para Itália e para os Balcãs". (POWELL, 1974, p. 16).

O historiador grego Éforo de Cime (405-330 a.C), concordava em dizer que os Celtas habitavam o ocidente da Europa e as regiões centrais do continente.  Éforo considerava os Celtas como um dos quatro grandes povos bárbaros do mundo até então conhecido pelos gregos. Os outros povos eram os Citas, os Persas e os Líbios. Um século depois da morte de Éforo, o geógrafo grego Eratóstenes (276-194 a.C) dizia que os Celtas viviam espalhados por muitas terras que compreendiam a Europa Ocidental e Transalpina (que fica ao norte dos Alpes). 

Ancestralidade euro-asiática: Origens dos celtas

Pelo fato dos Celtas terem sido vários povos, não significa que surgiram de vários povos, embora tenham se misturados com outros povos, como será visto mais adiante. Hoje, graças ao desenvolvimento da história, da antropologia, da arqueologia e de outras ciências ao longo do século XX, possibilitou os historiadores e arqueólogos chegarem cada vez mais perto da origem dos povos celtas.

"Se se perguntasse à maioria dos arqueólogos qual lhes parecia ser o fundo cultural dos Celtas conhecidos historicamente, de Heródoto a César, não teriam a menor dificuldade em responder, especialmente se formados nas escolas do continente, que as extensas culturas baseadas no uso dos metais, conhecidas pelos nomes de Hallstatt e La Tène, substanciavam, geograficamente e cronologicamente, os relatos históricos". (POWELL, 1974, p. 28).

Por volta do segundo milênio a.C, comunidades agrícolas e pastoris vindas da Ásia Menor (hoje Turquia) adentraram o leste europeu onde se estabeleceram pela região chamada de Balcãs (região essa que compreendem os atuais países da Grécia, Macedônia, Bulgária, Albânia, Bósnia e Herzegovina, Kosovo, Montenegro, Sérvia, Croácia, e o sul da Eslovênia e da Romênia), no caso em questão tais habitantes asiáticos se limitaram a parte mais sudeste do continente, no que hoje corresponde a Bulgária. Antes desse povos da Ásia Menor chegarem a Europa, outros povos asiáticos de língua indo-europeia já haviam chegado ao continente e se miscigenados com os povos europeus. 


A península Balcânica ou Balcãs. Porta de entrada para vários povos asiáticos na Europa.
Esses novos emigrantes cruzaram o estreito de Dardanelos que separa a Ásia Menor da Europa, atrás de novos pastos e terras para se viver, pois o clima temperado da Europa naquela época era bem mais aconchegante e agradável que o clima da Anatólia (região semidesértica na parte ocidental da Ásia Menor) que havia ficado mais seco e quente. 

"Na Europa temperada, os mais antigos e importantes emigrantes neolíticos entraram vindos do Sueste, e tomaram posso das ricas e facilmente laboráveis terras de loess da bacia do Médio Danúbio, estendendo-se dali para o Reno e seus principais afluentes, para a confluência do Saale e do Elba e para as margens superiores do Oder". (POWELL, 1974, p. 29).

Mas um problema que ainda persiste nessa questão é que ainda hoje não se sabe ao certo quem foram esses povos asiáticos que se estabeleceram nos Balcãs. Ao longo dos séculos, dezenas de povos viveram e passaram pela Ásia Menor, e descobrir rastros de pessoas que ali viveram há quatro mil anos, não é uma tarefa fácil. No entanto, Powell [1974] aponta que estes emigrantes trouxeram consigo quatro algumas mudanças bem impactantes que contribuíram para moldar os povos europeus pelos séculos seguintes.

Tais povos trouxeram consigo a metalurgia à base do cobre e do bronze, pois até então, apenas na Grécia e em Creta a metalurgia era conhecida, o restante do continente a desconhecia; as pessoas ainda usavam armas e ferramentas feitas de pedra, embora que houvessem minas destes metais no continente, elas ainda não eram exploradas. A proximidade da Grécia, de Creta e das ilhas egeias, da Ásia Menor e do Egito, facilitou esse intercâmbio cultural. 

"Fosse qual fosse a sua língua, os primeiros metalúrgicos dos Balcãs exerceram uma grande influência na Europa Central, e um dos objectos mais característicos que negociavam e levaram para o norte foi o machado perfurado, de ou de bronze". (POWELL, 1974, p. 31).

Outro aspecto que tais povos trouxeram consigo foram novas técnicas de agricultura as quais contribuíram para melhorar a eficiência do plantio e da colheita e tornar cada vez mais sedentárias as populações, pois alguns povos europeus eram seminômades. Junto a agricultura veio também a criação do gado bovino, que já era conhecida em algumas áreas dos leste até o ocidente do continente, mas uma nova pecuária fora introduzida, a criação de cavalos. No entanto, os cavalos demoraram para serem difundidos pelo continente, pois a equitação era desconhecida em grande parte, e de certa forma os cavalos não eram apenas criados para servirem de meio de transporte e carga, mas também como alimento. Na Europa já haviam cavalos habitando a região oriental do continente, mas sua domesticação tardou a acontecer, logo, serviam como animais para serem caçados.

"Não é raro encontrar ossos de cavalo, juntamente com ossos de outros tipos de gado, inclusive de porcos, nas sepulturas de toda a zona da cultura considerada, mas mesmo o cavalo doméstico poderia ter começado por ser criado pela carne e pelo leite. Por outro lado, não é de se esperar que o tarpan (o pequeno cavalo euro-asiático em questão) tenha sido acrescentado indiscriminadamente aos rebanhos de reses para abater e, vistas as coisas praticamente, parece natural que o seu grande valor como besta de carga tenha sido reconhecido em data muito recuada". (POWELL, p. 1974, p. 33).

Um quarto aspecto que marca a influência dessas culturas estrangeiras, fora  introdução de outras línguas indo-europeias (família de centenas de línguas e dialetos desenvolvidos entre a Europa e a Ásia até o limite do Vale do Indo, no atual Paquistão), e uma dessas línguas dera origem a língua céltica, alguns séculos depois. 


Um quinto aspecto a ser considerado fora a introdução de um novo estilo de cerâmica, chamada campaniforme. Tal povo que introduziu tal estilo de cerâmica fora na época de sua "descoberta", chamados de "povo dos vasos". Sabe-se que tal povo além de agrícola era também pastoril, e possuía como principal arma, o arco e flecha, feitos de pontas de sílex. Tal povo também fora responsável por difundir a criação de ovelhas. As descobertas arqueológicas apontam que o "povo dos vasos" se espalhou pela Europa Ocidental, chegando ao sul da Alemanha e até mesmo à Grã-Bretanha. 




Vaso de cerâmica de estilo campaniforme. O nome campaniforme se deve ao fato de que o formato do vaso lembra alguns tipos de flores. Fora introduzido na Europa, há mais de três mil anos.


Assim, transcorridos praticamente mil anos desde a chegada desses povos asiáticos aos Balcãs e posteriormente a miscigenação destes com outros povos do leste e oeste da Europa, no centro do continente, hoje nos territórios que compreendem a Baviera e a Boêmia no sul da Alemanha e parte da Áustria, em terras nos arredores do Danúbio e de alguns de seus afluentes surgiu uma cultural chamada de Cultura de Hallstatt (900-500 a.C), nome esse dado pelo arqueólogo Johann Georg Ramasuer em meados do século XIX, a partir de escavações realizadas no sítio arqueológico de Hallstatt na Áustria. 


Ramasuer durante seus vários anos de pesquisa concluiu que tal cultura surgida por volta do século X a.C marcou o final da Idade do Bronze no centro da Europa e o início da Idade do Ferro. Entre o século X a.C e o VI a.C a Idade do Bronze terminou na Europa, dando espaço para a Idade do Ferro. Por volta do século V a.C foram descobertos túmulos contendo espadas, escudos e adagas de ferro, carroças com rodas de bronze, além de joias em ouro e prata, e até mesmo cerâmicas importadas da Itália e da Grécia, tal fato aponta a existência de um comércio primitivo entre a Europa Central e as penínsulas itálica e grega.


Gravura retratando tumbas da Cultura de Hallstatt.

A Cultura de Hallstatt acabou originando por volta do século V a.C a chamada Cultura de La Tène (V-I a.C), nome que deriva do sítio arqueológico de La Tène, localizado na Suíça, descoberto no século XIX por Hans Kopp. Tal cultura se espalhou pela França, sul da Alemanha, Suíça, sul da Áustria, norte da Itália, chegando até mesmo a República Checa e a Hungria. No entanto o que ambas as culturas de Hallstatt e La Tène possuem em comum, é o fato que ambas falavam a língua céltica e possuía costumes e hábitos em comum. 

Se voltarmos ao relato de Hecateu de Mileto no século VI a.C, onde ele apontava a região que os celtas habitavam, a mesma coincide com o local onde essas culturas existiam e continuavam a existir, logo, os historiadores, arqueólogos e antropólogos chegaram a conclusão que as culturas de Hallstatt e de La Tène seriam a origem dos Povos Celtas.



Em verde a disseminação inicial da Cultura de Hallstatt. Em amarelo o núcleo inicial da Cultura de La Tène. Em Vermelho a extensão máxima do território dos povos celtas no século III a.C. 

Embora ainda haja debates acerca se todos os povos celtas teriam se originado de ambas as culturas anteriormente citadas, alguns historiadores chegaram a conclusão que alguns povos celtas, foram na realidade originados da miscigenação com outros povos que já habitavam tais terras. Sobre isso, será o tema da próxima parte deste trabalho.

A expansão territorial: Conhecendo os povos celtas

1) Gálias

"Cerca de um quarto de século após a morte de Heródoto, foi o Norte de Itália invadido por bárbaros chegados através dos passos alpinos. Estes invasores eram celtas, como se vê pelos seus nomes e descrição, mas os Romanos chamavam-lhes Galli, donde derivou Gallia Cisalpina e Transalpina. Políbio, escrevendo mais de dois séculos depois, refere-s aos invasores como Galatae, palavra largamente empregada pelos autores gregos. Por outro lado reconheceram Diodoro da Sículo, César, Estrabão e Pausânias serem Galli e Galatae nomes equivalentes a Keltoi/Celtae, e César esclarece que os Galli do seu tempo davam a si mesmos o nome de Celtae". (POWELL, 1974, p. 20).

As Gálias foram grandes porções territóriais que cobriram um vasto território da Europa Ocidental, mas em geral suas populações eram chamadas de gauleses pelos romanos, embora que algumas tribos possuíssem uma identidade própria e se referiam por outros nomes, como o caso dos belgashelvécios e os avernos. Mas para entendermos melhor isso, é preciso antes apresentar a disposição geográfica das Gálias na Europa pré-cristã (pois durante o Império Romano, a Gálias foram redivididas territorialmente).


Mapa romano retratando as Gálias e os territórios da Bretanha e da Germania no ano de 58 a.C. A divisão em Aquitânia, Bélgica e Narbonensis fora dada pelos romanos, pois originalmente tudo isso era chamado Gália Cabeluda, Céltica ou Gália Transalpina. 
Os romanos já sabiam da origem dos gauleses, graças aos textos gregos, embora nunca foram de ir visitá-los. Na História, há poucos relatos sobre expedições oficiais romanas à região da Céltica, também chamada Gália Transalpina ou Gália Ulterior. Por volta do final do século V a.C os gauleses atravessaram os Alpes e passaram a ocuparem a região da planície do rio do Pó, hoje no norte da atual Itália. em 390 a.C os gauleses invadiram e saquearam Roma, porém nas décadas seguintes se estabeleceram definitivamente no norte da península itálica, chegando até mesmo a conquistarem a antiga Etrúria, região onde viviam os etruscos. Regiões italianas hoje como a Lombardia, a Bolonha e a Toscana, nesse período foram ocupadas pelos gauleses. Toda essa região ficaria conhecida como Gália Cisalpina ("aquém dos Alpes"). No século II a.C, os romanos conseguiriam conquistar a Gália Cisalpina, pelo menos grande parte dela. Tornado-a um caminho para a próxima conquista, a Gália Transalpina.

Além dessas "duas Gálias", os romanos designavam mais três: a Gália Belga (localizada no que hoje seria o norte da atual França e parte do sul da atual Alemanha, como também parte dos territórios da atual Bélgica e da Holanda); a Aquitânia, localizada no sudoeste da atual França, e a Província Romana, mais tarde chamada Narbonensis, região controlada pelos romanos, pois existiam ali antigas colônias gregas os quais os romanos aproveitaram para firmar como ponto de base para dominar aquela região. A todo esse conjunto, os romanos chamavam a Céltica, a Bélgica e a Aquitânia de "três Gálias" ou Gália Cabeluda. De acordo com os relatos de Júlio César (100-44 a.C) os celtas-belgas ou belgas, foram os gauleses mais difíceis de serem conquistados, pois eram tidos como ferozes guerreiros. César deixou tais relatos de suas campanhas pelas Gálias em seu livro Comentarii de Bello Gallico (Comentários sobre a Guerra da Gália).

Fora a partir da grande iniciativa de Júlio César na época que ainda era cônsul,  solicitou ao Senado que oficializa-se sua ida para conquistar a Gália Cabeluda. César como sendo um homem ambicioso, prepotente e ávido por glória e poder, conseguiu o direito de liderar legiões para se conquistar os gauleses. Do ano de 58 a.C até 52 a.C praticamente toda a Gália Cabeluda fora conquistada por Júlio César. Algumas cidades ainda permaneceram de certa forma "independentes" do julgo romano, embora se mantivessem como tributárias à República. Outras cidades foram assimiladas pelos romanos e tiveram até mesmo os nomes mudados. E por fim uma terceira opção fora a destruição. As legiões de César cometeram verdadeiras barbaridades na Guerra da Gália. Historiadores acreditam que centenas de milhares de gauleses foram mortos, incluindo mulheres e crianças. 

Pintura retratando a rendição de Vercingetórix à Júlio César. Vercingetórix fora um líder averno que trouxe vários problemas para os romanos por cerca de dois anos. Com a sua rendição em 52 a.C, os romanos conquistaram a Gália. Pois de certa forma, os exércitos de Vercingetórix eram as últimas esperanças dos gauleses. 

Sendo finalmente conquistada pelos romanos, nos séculos seguintes que vieram com o império, os gauleses foram perdendo cada vez mais sua identidade cultural, a língua céltica fora substituída pelo latim vulgar e depois por outros idiomas que chegaram com povos invasores vindos da Germania e do leste. Os costumes foram "romanizados". 

2) Celtiberia

Por volta do século VI a.C alguns celtas vindos da Aquitânia cruzaram os Pirineus e adentraram na Hispânia ou Ibéria, lá eles se estabeleceram próximo do centro da península e depois migraram para o leste, embora ainda é incerto os locais que eles habitaram, pois além dos iberos, povo nativo desta península estarem espalhados por essa, outros povos também ali habitavam, e fora a partir dessa miscigenação entre os celtas e os iberos, que surgiu o povo celtibero.

De certa forma, sabe-se que tal povoamento celta ocorreu na Ibéria, pois como fora visto, Hecateu e Heródoto diziam que haviam celtas por estas terras, e no caso de Heródoto, esse acreditava que os celtas não seriam nativos da Europa Central, mas, sim da Península Ibérica. 

Mapa retratando os prováveis territórios originais das tribos celtiberos. Em vermelho, os árevacos; em laranja, os pelendones; em azul, os lusos; em verde claro, os belones; em verde, os lobetanos, em amarelos os tittos e em amarelo mostarda, os belos.

Sabe-se que tais tribos migraram para o leste, chegando até a costa. No noroeste da península surgiu a tribo dos galegos que habitavam a Galiza ou Galícia, e ao sul desta região, surgiu a Lusitânia, habitada pelos lusos ou lusitanos, antepassados dos portugueses. Entretanto, alguns historiadores questionam se os galegos teriam se originado de tribos celtiberas, ou na realidade seriam outro povo aparentado. No caso da Lusitânia, ainda há dúvidas se os celtiberos ocuparam a região, como alguns acreditam, embora que pesquisas apresentaram vários topônimos com nome celtas, porém não significa que os celtiberos ali viveram, mas que os povos que ali habitavam falavam celta. 

Por volta do século III a.C os cartagineses vindo da cidade-estado de Cartago  no norte da África, conquistaram parte da Hispânia como a península era conhecida na época. As tribos de celtiberos, iberos e outros povos foram expulsos para o norte da península, pois os cartagineses ocuparam preferencialmente o sul, pois dava acesso ao mar Mediterrâneo, e ficava mais perto do apoio de Cartago. No século II a.C, em 133 a.C, os romanos conquistaram a Hispânia. Com a derrota dos cartagineses após três sofríveis guerras, a Hispânia ficara vulnerável a cobiça dos romanos. 

Os celtiberos e os demais povos da península foram "romanizados" e posteriormente sofreram a influência cultural de outros povos, como dos visigodos e posteriormente dos mouros

3) Bretanha e Irlanda

Os bretões diferente dos que muitos devem pensar não foram um povo originário da Bretanha que hoje conhecemos como Grã-Bretanha, mas os bretões eram uma tribo celta, originária da Bretanha, localizada na Gália Transalpina ou Céltica, que por volta do século VIII a.C iniciaram migrações para a ilha que ficaria conhecida também como Bretanha.

A região da Bretanha (Bretagne) na atual França. Tal região é o lar de origem dos bretões.
Vestígios arqueológicos encontrados ao longo das margens lamacentas do Tamisa e no sul da atual Inglaterra, apontam cerâmica, ferramentas, armas, etc., fabricados pelos celtas, tais objetos indicam que ou havia um comércio recorrente entre a ilha e o continente, ou famílias celtas-bretãs estavam iniciando uma migração em massa para a ilha. Sabe-se que tal migração ocorreu, e durou por pelo menos até o século I a.C.

"Os primeiros emigrantes para o Sul da Grã-Bretanha, resultantes da expansão dos campos de urnas, eram refugiados do Norte da França, que é possível identificar pela sua cerâmica feitas no estilo da Idade do Bronze média francesa. Encontraram-se em Kent provas de tais colonizações, mas, na parte inicial do século VIII a.C, tinham começado imigrações mais sérias e em grande escala. As terras de cré do Sul da Inglaterra foram as mais afectadas, e o grosso das provas vem de Sussex, Dorset e Wiltshire". (POWELL, 1974, p. 54). 

Por volta de 638 a.C os gregos antigos receberam informações sobre a existência das grandes atuais ilhas da Grã-Bretanha e da Irlanda. Por volta dessa época corriam por Massilia, colônia grega no que hoje é atualmente Marselha na França, os relatos de um viajante grego chamado Coleu de Samos, o qual teria escrito o Périplo. Diz-se que tal crônica Périplo fora escrita na cidade de Tartesso, localizada as margens do rio Guadalquivir no sul da atual Espanha, onde Coleu tivera a oportunidade de visitar e depois acompanhar um navio da cidade em viagem para além das Colunas de Hércules (Estreito de Gibraltar), navegando depois para o norte até as ilhas Oestrymnides, onde nesse arquipélago haviam duas grandes ilhas, Ierne e Álbion

"É esta a referência mais antiga à Irlanda e á Grã-Bretanha, sendo aquelas formas gregas de nomes que sobreviviam entre os nativos, que falavam o ramo irlandês do céltico. O Ériu do irlandês antigo e Éire do moderno derivaram de uma forma anterior que deu Ierne em grego, sendo o nome Albu empregado em irlandês, com o significado de Grã-Bretanha até o século X". (POWELL, 1974, p.25). 

Entre os anos de 325 e 323 a.C o viajante grego Píteas, partindo de Massília fora o segundo grego a relatar uma viagem até as ilhas de Álbion e Ierne, mas na ocasião de sua viagem, o arquipélago era chamado de Ilhas Pretanic, e a maior das ilhas, hoje a Grã-Bretanha era chamada naquela época de Pritani ou Priteni. Termos também utilizados para designar seus habitantes, os pritani. Hoje sabe-se que tais palavras são de origem céltica, porém para os antigos gregos e romanos, os bretões e irlandeses não seriam celtas, pois seriam "diferentes" dos gauleses. Para os romanos o fato dos costumes dos bretões, irlandeses não se parecerem com os gauleses que habitualmente eles conheciam, os diferenciavam, porém, linguisticamente e geneticamente, ambos os povos eram celtas. 

De qualquer forma, fora a partir de um erro de interpretação ou escrita pelos gregos ou romanos, que as palavras Pritani se tornou Britain, ou Britanni, ou Britannia. Quando Júlio César em 56-55 a.C visitou a ilha, ele referiu-se em seu livro como sendo aquela ilha chamada de Britannia e seus habitantes de bretões. 

De qualquer forma, os bretões foram os responsáveis por introduzirem a "Idade de Ferro" no arquipélago britânico, além de também tornar a língua bretã (Brezhoneg) uma língua de origem céltica, uma das línguas mais faladas na ilha. No entanto devo fazer a ressalva, que a língua inglesa, não deriva da língua bretã, mas tem sua origem em idiomas germânicos. Por volta do III a.C, o metade do atual território da Inglaterra, incluindo o País de Gales e a Cornualha. Em ambas regiões, o bretão sofreu variações locais, dando origem ao galês e ao côrnico. Também é mencionável o fato que ainda no III a.C a Irlanda já tinha sido praticamente ocupada pelos bretões, e sua língua deu origem ao irlandês antigo ou gaélico, e nas Ilhas de Man, surgiu o gaélico manês. Os bretões que se fixaram na Irlanda e ali se misturaram com os escotos e outros povos locais, deram origem aos irlandeses ou gaélicos.  


Em vermelho os bretões, em verde os irlandeses (ou gaéis) e em azul os pictos.
Na Escócia, os bretões confrontaram os pictos, povo nativo. Por volta do século V d.C os pictos que haviam se miscigenado com os bretões e os irlandeses, passaram a adotar uma variante da língua bretã, principalmente da ramificação do irlandês antigo ou gaélico, dando origem ao gaélico escocês, língua hoje praticamente em desuso, pois poucos são aqueles que ainda a falam. 

Dos séculos III a.C ao I a.C as últimas levas de migrações célticas chegaram a Bretanha, dessa vez foram os belgas que se fixaram no sul da ilha, embora que não tiveram grande impacto cultural em toda a ilha, pois até mesmo sua variante linguística o "belga" não conseguira sobrepujar o bretão que era amplamente falado na ilha, nem os romanos conseguiram impor com sucesso o latim. Posteriormente por volta dos séculos V e VI já da Era Cristã, as invasões dos anglos, dos saxões de outros povos, vindos da Germania, levaria a expulsão dos romanos por estes e assimilação da Bretanha pelos novos conquistadores, os quais seus idiomas dariam origem a língua inglesa. 

Mas antes de findar essa parte, uma questão interessante a ser dita é que a língua irlandesa antiga, fora praticamente a terceira língua do continente europeu a ter forma escrita e ser amplamente difundida, embora que apenas em seu território. A língua grega e a língua latina predominaram em parte da Europa como sendo até então os únicos idiomas europeus escritos, mas o terceiro fora o irlandês. Relatos de textos escritos em pedra, datam o século IV, e até mesmo quando a Irlanda começou a ser cristianizada a partir do século VII, haviam monges irlandeses que chegaram a traduzir trechos da Bíblia para o irlandês e até mesmo a pregar em irlandês, isso revela como era forte a identidade linguística daquele povo. 

"Os mais antigos exemplos sobreviventes do irlandês escrito encontram-se em livros religiosos dos séculos VIII e IX, onde o texto latino está acompanhado de notas explicativas, e por vezes de outros comentários, na língua local dos monges contemporâneos. Estes livros religiosos fornecem o mais importante padrão aferidor cronológico da linguagem dos textos preservados unicamente em manuscritos posteriores". (POWELL, 1974, p. 62). 


No mapa estão representados algumas línguas de origem céltica que ainda hoje são faladas. Em roxo, o bretão; em laranja o côrnico; em amarelo, o galês; em vermelho, o gaélico manês; em verde o gaélico ou irlandês antigo; em azul o gaélico escocês.  

4) Panônia

A Panônia era uma antiga região localizada na Europa Central, em torno do rio Danúbio, a qual posteriormente se expandira englobando hoje o que é o território da Áustria, parte do norte da atual Eslovênia e o oeste da atual Hungria. Alguns historiadores consideram que os panônios fossem um povo surgido a partir da miscigenação entre tribos celtas e ilírias que habitavam a região há alguns séculos. Pois os panônios possuíam em seu dialeto, algumas palavras em comum com as línguas célticas faladas na Gália, no entanto, em outras questões culturais, eles eram bem diferentes.


A região da antiga Panônia antes de ser conquistada pelos romanos. Em volta pode-se ver Estados vizinhos como Noricum, a Dalmácia, a Moesia e o Reino da Dácia. 
A respeito das tribos celtas que vagavam por estas terras e que não chegaram a se misturar com os povos nativos, ainda pouco se sabe. Porém, há relatos gregos que dizem que no século IV a.C, mercenários celtas eram empregados na Macedônia e na região do Peloponeso na Grécia. Alguns desses relatos como aponta Powell [1974] datam de 369 a.C. De fato, existem outros relatos que também apontam ataques de grupos de saqueadores de celta no norte da Macedônia e da Grécia. 

"No ano de 325 a.C, quando Alexandre Magno andava em campanha na Bulgária recebeu deputações de todos os povos que viviam perto do Danúbio Inferior, e entre estes vinha uma embaixada de Celtas, que eram referidos como do Adriático". (POWELL, 1974, p. 22). 

Sabe-se que no século III a.C, tribos celtas continuaram a atacar os macedônios e os gregos, incluindo o famoso ataque a cidade de Delfos, onde tal cidade conhecida pelo Oráculo de Apolo fora parcialmente saqueada. Nos relatos gregos, os mesmos dizem que os líderes celtas que realizaram tais ataques chamavam-se Bólgios e BrenoDepois desses episódios, algumas tribos continuaram a avançar pelos Balcãs, inclusive migrado para o norte, em direção a terras que hoje pertencem a atual Ucrânia e ao sul da Polônia. Ainda hoje existe uma região ali chamada de Galícia, em referência aos galatae ou gálatas, celtas que ali se estabeleceram brevemente entre os séculos III ou II a.C. Embora não se saiba ao certo quanto tempo essas tribos ali permaneceram.

5) Galácia

A Galácia ou Galatia em grego, fora uma antiga região localizada na parte central da Ásia Menor, limitada ao norte pela Bitínia e a Paflagônia, ao sul pela Licaônia, ao leste pelo Ponto e a Capadócia, e a oeste pela Frísia


Mapa com a localização de algumas províncias romanas, incluindo a Galácia. 
Quando os celtas começaram a atacar os gregos ao longo do séculos IV a.C e III a.C, os gregos passaram a chamá-los de galatae ou gálatas, uma alusão a palavra latina galli (gaulês), os quais os romanos usavam para referi-los, embora que os gregos do século VI a.C utilizassem a palavra keltoi. De qualquer forma, após uma série de ataques a Grécia, como fora visto anteriormente, tais tribos errantes acabaram sendo expulsas pelos gregos e migraram em direção a Ásia Menor, não se sabe ao certo os motivos para terem ido se estabelecer em tal região. Os gálatas acabaram se estabelecendo na parte central da Ásia Menor, dando origem a Galácia. 

A capital da Galácia fora estabelecida na cidade de Ancira (atual Ancara, capital da Turquia), embora que havia também uma cidade sagrada, chamada Drunemeton. Os gálatas acabaram cortando laços com seus antepassados europeus. Durante o século II a.C, os romanos incentivaram os gregos da colônia de Pérgamo na Frísia a continuar a combater os gálatas, pois sabe-se que os gregos de Pérgamo por vários anos combateram os gálatas por questões territoriais, a final, eles eram os invasores. No ano de 25 a.C, os romanos finalmente vieram a conquistar a Galácia e o restante da Ásia Menor, os assimilando aos domínios do nascente império que havia sido instituído a apenas dois anos. 

No século I d.C, quando São Paulo redigira sua famosa Epístola aos Gálatas, os mesmos já há muito tempo falavam o grego e tinham costumes e hábitos orientais e não mais europeus. Porém, no século IV, São Jerônimo conta que alguns sacerdotes gálatas ainda falavam uma antiga língua, que dizia ser a língua de seus antepassados. 


Epístola aos Gálatas em uma Bíblia do século XVI. 
Considerações finais: 

Como deu para se notar neste breve texto, os Povos Celtas se espalharam pela Europa e pela Ásia Menor entre os séculos VIII a.C e II a.C, sendo que muito do que se sabe sobre sua história e costumes provêm de historiadores gregos e romanos, embora que os relatos dos gregos e romanos, sempre considerassem os celtas do ponto de vista negativo. Não obstante, outra importante fonte de relato sobre a vida e a estrutura social dos celtas provem dos escritos irlandeses, sendo que os irlandeses são descendentes de tribos celtas que ali se fixaram e se miscigenarem com os povos nativos. 

A língua céltica fora bem difundida pela Europa Central, Grã-Bretanha e Irlanda, no entanto, hoje a maioria dos falantes de línguas que descendem do celta, se encontram nessas ilhas e na região da Bretanha na França. Os demais locais onde os celtas povoaram e habitaram, praticamente não se fala mais alguma língua descendente devido principalmente a forte romanização que tais regiões sofreram. De qualquer forma, na Irlanda até o período medieval, os irlandeses ainda preservavam costumes e organizações sociais e estatais oriundas da época em que estavam sendo colonizados. 

Os romanos se por um lado foram responsáveis por deixarem importantes fontes sobre os celtas, especialmente os gauleses, também foram responsáveis por acabar com suas culturas, impondo a sua a tais povos e outros povos da Europa. Mesmo com a romanização, algumas tribos celtas migraram para a Germânia e para o que hoje é a Polônia e Dinamarca, pois foram encontrados vestígios arqueológicos apontando assentamentos celtas nessas nações, porém os celtas que ali se estabeleceram acabaram sendo assimilados pelos povos locais.

E amarelo a máxima extensão territorial alcançada pelos Povos Celtas até o século III a.C.
NOTA: A história em quadrinhos de Asterix, narram as aventuras de uma aldeia gaulesa no ano de 50 a.C, onde seus moradores que incluem Asterix e Obelix, vivem várias aventuras contra os romanos, como também de viajarem por outros locais da Europa, inclusive indo para o Egito e até mesmo a Índia. 
NOTA 2: Existem algumas histórias de Asterix que fazem referências a outras tribos celtas: como os belgas, os helvéticos, os avernos e os bretões. 
NOTA 3: Até o século XIV, alguns estudiosos irlandeses ainda sabiam escrever em irlandês antigo, e o próprio irlandês medieval se desenvolveu a partir da versão antiga. 
NOTA 3: Na Irlanda ainda é comum se ouvir histórias populares e do folclore, que remontam a Antiguidade ao período celta. Os druidas, bruxas, fadas e duendes, são personagens recorrentes dessas histórias.
NOTA 4: Algumas cidades hoje tiveram seus nomes originados de nomes celtas, por exemplo, Londiniom (Londres), Mediolanum (Milão), Lugdunum (Lyon) Vindobona (Viena), Bragantia (Bragança). Sabe-se que alguns destes nomes foram adotados pelos romanos ou foram latinizados como o caso de Lutécia (Paris). Acredita-se que a palavra lutetio que significava "lama" em latim, fora adotada a partir de uma  palavra gaulesa para "lama", pois durante a enchente o rio cobria a vila, e quando os níveis da água baixavam, todo o local se tornava um lamaçal. 

Referências Bibliográficas: 
POWELL, T. G. E. Os Celtas. São Paulo, Editora Verbo, 1974. 
Grande Enciclopédia Larousse Cultural, v. 4, São Paulo, Nova Cultural, 1998.
Grande Enciclopédia Larousse Cultural, v. 6, São Paulo, Nova Cultural, 1998.
Grande Enciclopédia Larousse Cultural, v. 8, São Paulo, Nova Cultural, 1998.
Grande Enciclopédia Larousse Cultural, v. 18, São Paulo, Nova Cultural, 1998.

Links relacionados: 
Conhecendo os Celtas

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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Kirishitan: O Cristianismo chega ao Japão

No ano de 1543, três portugueses de nome Antônio da MotaFrancisco Zaimoto Antônio Peixoto, abordo de um junco chinês saído da colônia portuguesa de Macau na China, aportaram por volta do final do mês de junho na ilha de Tanexuma (hoje Tanegashima) no arquipélago japonês. Os três marinheiros foram os primeiros portugueses a pisarem no Japão, no entanto, eles não o "descobriram", pois o Japão já era conhecido a bastante tempo. Marco Polo no século XIII falou a respeito dessas ilhas e em 1492, Cristóvão Colombo em sua viagem para se encontrar uma rota marítima ocidental para as Índias, acreditava que acabaria chegando ou no Japão ou na China, mas no fim acabou chegando em terras desconhecidas que viriam a ser as Américas. 

De qualquer forma, o primeiro contato entre portugueses e japoneses fora a base de curiosidade, pois os japoneses nunca haviam visto um europeu até então, e os portugueses pensaram no momento que os japoneses fossem iguais aos chineses devido a aparência física, mas não tardaram a diferenciá-los devido ao idioma e aos costumes. Pois embora Marco Polo tenha relatado a respeito do Japão ele não chegou a visitar o arquipélago. Na ocasião conta-se que intrigados com as armas de fogo que os portugueses traziam consigo, um mercador japonês as comprou. Tais armas eram arcabuzes, que foram introduzidas no país, mudando a forma de como os japoneses passaram a guerrear

De qualquer forma, após o primeiro contato a Coroa Portuguesa fora avisada sobre aquelas ilhas, e tratou de iniciar nos anos seguintes comércio com aquele povo, pois de Macau para lá, a distância era curta. Além disso, o Japão possuía algumas fontes de prata que chamaram a atenção dos portugueses. No ano de 1549, o padre jesuíta Francisco Xavier (1506-1552), posteriormente canonizado, decidiu iniciar a pregação do cristianismo naquelas ilhas, no intuito de converter aqueles pagãos. E nesse ponto começa a história que aqui será narrada. 

O Japão feudal

Quando os portugueses chegaram ao país no ano de 1543 o Japão vivenciava o seu período feudal desde o século XII, embora alguns historiadores japoneses apontem que o período feudal tenha começado pelo menos desde o século X. De qualquer forma, nessa época o país vivenciava um dos períodos mais violentos e turbulentos de sua história, chamado de Sengoku jidai (1460-1560), uma época onde os imperadores desde o início do feudalismo haviam perdido sua autoridade sobre o país, e vários daimiôs (senhores feudais) se digladiavam para ampliar seus feudos ou no caso dos que eram leais a Coroa, tentavam reunificar o país. No caso dos daimiôs que não eram fiéis a Coroa, a meta era se reunir um poderoso exército e consolidar seus domínios sobre outros feudos, a fim de derrubar o imperador do poder e assumir o trono. 

"Como se pode ver, o Sengoku Jidai - que dura de fins do século XV ao término do XVI - politicamente constitui uma época de desintegração do Estado nacional". (YAMASHIRO, 1978, p. 90).

Ao mesmo tempo a sociedade japonesa se encontrava em um estado bem estratificado e bélico, a classe guerreira dos Samurais possuía grande autoridade e respeito no país, pois muitos dos daimiôs foram ou eram samurais, os mesmos eram os responsáveis pela paz, pela guerra, pela ordem, pela justiça e pelo governo. Os samurais detinham tanta autoridade, que se fossem ofendidos publicamente por qualquer pessoa de uma classe inferior, poderiam puni-la ali mesmo ou até matá-la, e não seria presos ou julgados por isso, pois estavam defendendo sua honra.  

"A transformação do Estado Ritsuryo em Estado Feudal (bakufu) não significa apenas a transferência do poder político das mãos dos nobres palacianos para as dos samurais em ascensão, com radical mudança no sistema social e econômico. Na verdade, verifica-se uma profunda modificação em toda sociedade nipônica - atingido todas as classes sociais - inclusive alteração sensível na mentalidade dos homens. Registra-se uma grande transformação nas esferas do pensamento e da cultura". (YAMASHIRO, 1978, p. 77).

Francisco Xavier chega ao Japão (1549)
São Francisco Xavier

Francisco Xavier nasceu em Navarra na Espanha, posteriormente fora estudar na Universidade de Paris onde conheceu São Inácio de Loyola (1491-1556). Ambos que eram dados as práticas eclesiásticas, juntos com outros estudantes, fundaram em 1534 a Companhia de Jesus (Societas Iesu), com o propósito missionário de difundir a fé cristã pelo mundo, através do ensino, da caridade e da evangelização. A companhia fora reconhecida oficialmente pela Igreja em 1540 em uma bula expedita pelo papa Paulo III. Em 1539 o navegador Pedro Mascarenhas (1470-1555) enviou um embaixador ao papa solicitando o envio de mais missionários para as Índias, pois os franciscanos que para lá foram enviados, estavam sobrecarregados de tarefas. O papa concordou com o pedido e avisou o rei de Portugal, D. João III o qual em 1540 tratou de enviar uma expedição. O português Simão Rodrigues e o espanhol Nicólas de Bobadilla foram os escolhidos. No entanto, nas vésperas da viagem, Bobadilla ficou gravemente doente, logo a viagem fora cancelada, e o rei enviou uma carta para o papa solicitando outro missionário. Na ocasião Loyola e os membros da Companhia de Jesus se encontravam em Roma, logo Loyola sugeriu ao papa enviar Francisco Xavier para essa missão no Oriente, assim em 1541, Francisco chegou a Portugal, no entanto, o rei mudara novamente a viagem, encarregando Rodrigues a permanecer em Lisboa, e no lugar elegeu dois outros nomes para acompanhar Francisco Xavier; o jesuíta italiano Paulo de Camerino e o português Francisco Mansilla

Em 1541 os três missionários aportaram em Moçambique onde residiram por alguns meses até conseguirem um navio para à Índia. Em 4 de maio e 1542, eles finalmente chegaram a Goa na Índia, onde foram recebidos pelo Bispo de Goa, João de Albuquerque e a Ordem Franciscana.

Entre 1543 e 1547, o padre Francisco Xavier coordenou e realizou várias expedições pela Índia, Sri Lanka, algumas ilhas da atual Indonésia, como Sumatra, Java, Molucas e Timor; em Malaca na atual Tailândia; onde realizara nesses anos a conversão de milhares de pessoas, como apontam alguns dados da época. Tal façanha rendera ao padre a alcunha de "O Apóstolo das Índias" e depois "O Apóstolo do Oriente"

Quando em 1547 de volta a Malaca ele conheceu o aventureiro português Fernão Mendes Pinto (1510/14-1583) o qual havia regressado de uma outra viagem que fizera ao Japão. Fernão Mendes é conhecido por sua obra Peregrinação, livro no qual relatou suas aventuras pela Ásia ao longo de duas décadas, embora hoje seu conteúdo em alguns casos seja duvidoso de credibilidade. De qualquer forma, na ocasião o aventureiro retornara do Japão acompanhado de um japonês de nome Angiró, o qual era acusado de homicídio, então acabara fugindo do país. Na ocasião, Angiró o qual sabia falar um pouco de português mostrou interesse na fé cristã, então no mesmo ano, Francisco Xavier o batizara, e ao mesmo tempo Angiró passara a adotar o nome cristão de Paulo de Santa Fé, decidindo se tornar também um missionário. 

Francisco Xavier passou o ano de 1548 na Índia, até que viajou para Malaca, de lá partira para Macau com o intuito de pegar um navio para ir ao Japão. Na ocasião, Paulo de Santa Fé, mais dois intérpretes japoneses, o padre Cosme de Torres  e o irmão João Fernandes seguiram junto, nessa que seria a primeira missão religiosa cristã no país. Em julho de 1549, o navio em que viajavam, chegou ao arquipélago japonês onde tivera que esperar autorização para atracar no porto da cidade de Kagoshima, capital da província de Kagoshima localizada na grande ilha de KyushuAutorização essa concedida em 15 de agosto

Em Kagoshima, um dos primeiros japoneses a se converter ao cristianismo fora um jovem homem que recebera o nome de Bernardo (?-1557), passando a ficar conhecido como Bernardo, o japonês ou Bernardo de Kagoshima. Bernardo assim como Angiró passou a seguir a missão de Francisco Xavier, como também a atuar como intérprete. Em 1552 chegou a Lisboa, sendo considerado o primeiro japonês a visitar a Europa, pelo que se tem notícia. Bernardo passaria o restante da vida morando na Europa, entre Portugal, Espanha e Itália. 

Em Kagoshima, Francisco e os demais passaram quase um ano hospedados na casa da família de Paulo de Santa Fé. Na província, Francisco Xavier conseguiu o apoio e a permissão do dáimio Shimazu Takahisa, para poder pregar na região. Takahisa acreditava que assim pode-se firmar acordos com os europeus. Antes do Natal de 1550, Francisco Xavier cogitou viajar para Quioto, na época capital do Japão, na tentativa de falar com o imperador, porém tal pedido fora negado por parte da Corte. Então ele retornou e passou o restante do ano na província de Yamaguchi. No ano de 1551, a missão seguiu para a antiga província de Bungo (atual prefeitura de Oita), onde Francisco Xavier conseguiu a autorização do daimiô para realizar suas pregações, como também conversou com alguns monges budistas e até mesmo convertera o daimiô para o cristianismo, como aponta Fernão Mendes Pinto.


Em verde a província de Kagoshima; em vermelho a antiga província de Bungo (atual Oita) e em azul a província de Yamaguchi.

"Saquay girão principal bonzo de Canafama [...] despois de conceder o que antes negaua, se pos em joelhos com as mãos leuantadas no meyo da praça que estaua cheya de gente &; perante todos disse chorando, a ty Eterno Iesu Christo Filho de Deos se rende a minha alma &; confesso aquy com a boca o que tenho fixo em meu coraçaõ, pelo que requeyro a todos quãtos me ouuem que digaõ às gentes com quem fallarem que me perdõe por quantas vezes lhe preguey por verdade o que agora estou vendo &; entendo que he falsidade &; mentira". (MONIZ, 1994, p. 33 apud PINTO, cap. CCXI, p. 660). 

Embora o daimiô de Bungo tenha se convertido ao cristianismo isso não significou que a missão de Francisco Xavier tivera grande êxito. A classe sacerdotal dos budistas, chamados de bonzos, eram contra tais pregações, por outro lado, parte da população desconfiava dos portugueses por os considerarem como bárbaros. O fato de nenhum dos missionários saber falar japonês com fluência prejudicou na missão, pois os intérpretes por mais que foram de grande auxílio, não compreendiam profundamente os ensinos cristãos católicos. 


Ao centro São Francisco Xavier, a esquerda Paulo de Santa Fé (Angiró) e na direita Bernardo, o japonês. Kagoshima.

O Ocidente encontra o Oriente: diferenças culturais

No Japão a religião predominante na época era o Budismo em suas várias seitas, especialmente a seita Zen. Além do budismo havia a religião nativa do Xintoísmo, com seus vários deuses, a qual é a religião oficial do país. Porém, os portugueses acabaram descobrindo que os japoneses não seriam fáceis de serem catequizados, algo que aconteceu com os indígenas no Brasil, ou com os africanos e outros povos asiáticos. No caso dos japoneses e também os chineses, estes eram bem conservadores em suas religiões, e não cederam de forma fácil para os missionários.

"Como reverso da medalha, o insucesso da cristianização no Japão é interpretado por A. Martins Janeira como uma forma de incompatibilidade cultural, traduzida em valores de natureza profunda, tais como os 'valores religiosos, morais, estéticos', entre outros". (MONIZ, 1994, p. 35).

Mas antes de continuar a abordar esse aspecto ideológico e religioso, é necessário apontar outros fatores que dificultaram a pregação no Japão. Enquanto os portugueses consideravam os japoneses como pagãos, os japoneses chamavam os portugueses de nanban ou nanban-jin "bárbaros do sul". O historiador Ruiz-de-Medina [1994] aponta que o termo nanban fora modificado entre os portugueses, pois ao pé da letra, tal expressão significava "selvagens sujos" ou "selvagens imundos". Nesse caso, como ele aponta, o sentido de "sujo" e "imundo" não está relacionado ao odor e a aparência, mas num sentido pejorativo, pois os japoneses se consideravam "puros", logo os chineses, coreanos, portugueses e outros, por não serem japoneses, seriam "impuros" ou nesse caso, "sujos". O termo também passou a designar os demais europeus, como os espanhóis, italianos e holandeses que ali visitaram o país durante os séculos XVI e XVII.

Pintura japonesa retratando os portugueses (nanban). Note que os portugueses são retratados com rostos iguais. Pois se do ponto de vista ocidental, os japoneses são todos parecidos, na perspectiva deles, são os ocidentais que são todos parecidos.

Se por um lado os portugueses achavam estranho o hábito de comer peixe cru, de cumprimentarem outra pessoa, curvando o corpo ou com um aceno de cabeça, não podendo apertar a mão, abraçar ou beijar a face, os japoneses ao mesmo tempo também não gostavam disso por parte dos portugueses, diziam que tais práticas era invasoras da privacidade da pessoa, pois na época não se deveria apertar a mão, abraçar ou beijar pessoas desconhecidas e muito menos fazer isso publicamente. 

Os japoneses também criticavam o fato dos portugueses comerem com as mãos, pois embora na Europa já se usasse talhares, não se costumavam levar talhares nas viagens, e ao mesmo tempo, os japoneses criticavam os portugueses por não saberem usar os palitos (hachi). Além disso, eles criticavam o fato dos portugueses não tomarem banho com frequência, de não terem hábito de fazer a barba ou mantê-la bem aparada, embora que os religiosos sempre mantivessem a barba feita; de não saberem falar a língua do país, etc.

Do ponto de vista português, os que não eram clérigos achavam estranho e ridículo terem que usar as roupas japonesas, pois ou usariam túnicas, ou usariam uma blusa de mangas curtas ou longas, e uma saia. Na Europa, com exceção da Escócia na época, a saia naquele tempo já era considerada uma udimentária exclusivamente feminina, logo os homens ficavam constrangidos em terem que usar saias e calças que pareciam saias no Japão. Em outros casos, os japoneses assim como as japonesas usavam um tipo de vestido, comum na época, porém para os portugueses tal roupa, era roupa de mulher. 

Pintura japonesa retratando comerciantes portugueses (nanban). 

Outra questão que fora um problema, era o fato da língua japonesa ser complicada de se apreender e a escrita ainda mais difícil. Diferente de Macau onde os portugueses tinham maior liberdade de falar sua língua, pois poucos eram os chineses que viviam naquela cidade, e diferente do que fora visto no Brasil e nas colônias africanas, onde os portugueses impuseram a força que a população nativa aprendesse sua língua, tal fato é visível hoje, pois tais países falam o português; os japoneses pelo contrário não mostravam interesse em aprender a língua portuguesa, e os que faziam ou era por curiosidade ou porque pretendiam se unir aos missionários. Logo, Francisco Xavier e outros que vieram depois dele, tiveram grande dificuldade de realizar as missas, pregações e orações devido a esse problema do idioma, pois algumas palavras no português inexistiam no idioma japonês ou possuíam outro significado. O padre Baltasar Gago (1515-1583) fora um dos primeiros a trabalhar em uma gramática portuguesa-japonesa para ajudar na pregação. 

A criação de uma terminologia cristã-japonesa

O padre Baltasar Gago entrou para a Companhia de Jesus em 1546, e dois anos depois fora enviado para a Índia. O mesmo chegou a conhecer São Francisco Xavier e a trabalhar com ele, porém 1549 não pôde viajar com ele para o Japão. Em 1552, tendo Francisco e sua missão deixado o Japão, Baltasar junto com os irmãos Pedro de AlcáçovaPedro Da Silva e o intérprete japonês chamado Antônio, chegaram em julho de 1552 em Tanegashima, consistindo na segunda missão religiosa portuguesa ao país. Na semana seguinte eles seguiram para Kagoshima, chegando a esta em 14 de agosto, lá fora bem recebidos pelo daimiô e ficaram hospedados em sua casa, pois o mesmo havia conhecido anteriormente Francisco Xavier. 

Em setembro os quatro chegaram ao feudo de Oita na província de Bungo. O feudo era governado pelo daimiô Otomo Yoshishige, que se mostrou um ótimo anfitrião para os portugueses. 30 anos depois como aponta Pires [1994], o daimiô finalmente se batizou e se converteu ao cristianismo, adotando o nome de Francisco, em homenagem a Francisco Xavier. 

Gago e os demais passariam os próximos anos residindo em diferentes feudos e distritos da província de Bungo. Consta que no ano de 1555, houvessem mil católicos vivendo na província, sendo que 300 destes teriam sido convertidos graças a Baltasar Gago. Não obstante, algumas das contribuições da missão de Gago fora escrever um texto relatando as diferenças entre o Cristianismo e o Budismo, pois alguns acreditavam que ambas as religiões fossem iguais. 

Caracteres para Nanban
Um dos motivos para essa confusão fora o fato que Angiró, antes de se tornar cristão era budista da seita Shingon, por sua vez como realizara trabalhos de interpretação, o mesmo acabou se valendo de seu conhecimento budista de forma a dar significado aos ensinamentos cristãos quando os traduzia para o japonês. Algumas palavras utilizadas por Angiró e pelo próprio Francisco Xavier advieram do budismo como o nome Dainichi, nome de um deus adorado pelos budistas, o qual Francisco Xavier o equiparou a Deus. Outra palavra que gerou confusão fora a palavra Buppô, a qual era utilizada para se referir a doutrina budista, mas passou também a se referir a doutrina cristã, pelo menos naquele momento inicial, quando ainda não existia uma palavra específica para se referir aos cristãos e ao cristianismo no idioma japonês.

"Como o Catecismo que Xavier compôs e a pregação dos primeiros padres e irmãos usavam estas expressões, não admira que o povo considerasse o Cristianismo como uma nova seita do Budismo, recém-chegada do Ocidente. Deste modo, o documento oficial com que o daimiô de Yamaguchi concedeu a propriedade do antigo Daidô-ji aos Jesuítas, em 1552, diz textualmente "Os bonzos () que chegaram do Ocidente para pregar a Lei de Buda (Buppô shôryu no tame) são autorizados a residir neste templo". (PIRES, 1994, p. 51).

Livro de catequese em japonês, século XVI. 

"Alguns neófitos, com efeito, abandonaram a Igreja, dizendo que tinham sido enganados, porque julgava que, tendo aceitado o Cristianismo, haviam adoptado uma religião em harmonia com os ensinamentos de Shaka e Amida. Outros, contudo, permaneceram fiéis a Fé Cristã". (PIRES, 1994, p. 53).

Antes de Gago iniciar seus trabalhos para escrever uma gramática portuguesa-japonesa para a terminologia cristã, Francisco Xavier em sua missão no país (1549-1551) chegara a escolher algumas palavras japonesas para se referir a alguns conceitos cristãos: 
  • Dainichi; Hotoke = Deus
  • Tamashi = Alma
  • Judo = Paraíso
  • Jigoku = Inferno
  • Tenmin = Anjos
  • = Missionários
Posteriormente com a criação de gramáticas, algumas dessas palavras foram mudadas e outras ainda continuaram a serem utilizadas. No entanto, vale ressalvar que hoje em dia, muitas dessas palavras não são mais utilizadas e novos termos passaram a ser empregados a partir do século XX. 

Baltasar Gago nos anos seguintes trabalhou na formulação de uma gramática, no entanto um exemplo para tal assunto diz respeito ao livro A Arte da Língua do Japão (1604), escrito pelo padre João Rodrigues, o qual quase meio século depois, ainda apontava dificuldades para se confeccionar gramáticas terminológicas cristãs-japonesas. João Rodrigues chegou a ser intérprete do dáimio Hideyoshi Toyotomi e do xogum Tokugawa Iyaasu. Sobre essas dificuldades terminológicas, Rodrigues dissera:

"Porque faltam, na língua japonesa, palavras que exprimam muitas ideias contidas no Evangelho, é necessário ou inventar palavras novas (o que é difícil por causa do carácter do idioma japonês) ou copiar as nossas próprias palavras e modificá-las de modo que se assemelhem com deste país. Devido à semelhança do Japonês e o Português, no campo das sílabas e da pronúncia, essas palavras podem adaptar-se do Português e algumas também do latim. Entre essas palavras, porém, há as que dizem respeito a Deus, aos Santos, às virtudes e outras ideias, para as quais não existe expressão adequada em Japonês". (PIRES, 1994, p. 52). 

Na ideia de se adaptar palavras portuguesas para a língua japonesa, João Rodrigues apresentara alguns exemplos que já eram utilizados em sua época: Padre, se dizia Pátere; Natal, se dizia Nataru; Igreja se falava Yequeréjia. Irmão, se falava Iruman, e Cristão passou a ser Kirishitan. De forma a se manter a composição silábica da língua nipônica. 

Gravura japonesa retratando a realização de uma missa.

Entre os anos de 1558 ou 1559, o padre Baltasar Gago na ocasião com a ajuda de Nunes Barreto e de um japonês cego chamado Lourenço, criaram um livro de catecismo português-japonês. Obra a qual serviria de modelo anos mais tarde para o padre João Rodrigues e outros escreverem seus livros. 

"O livro concluído em 1558 ou 1559, ficou conhecido popularmente por Ni-jûgo- Kaigiô, porque era dividido em 25 capítulos. Foi o texto-base para a instrução catequética das primeiras décadas da Missão Jesuítica do Japão. O jesuíta Luís Fróis chama-lhe 'Tratado à maneira de cathecismo'. O primeiro a abraçar a fé, após a sua leitura, foi Koteda Saemono-jô, que tomou o nome de D. Jerônimo"; (PIRES, 1994, p. 53 apud FRANCO, 1719, p. 669". 

A missões de Luís de Almeida (1556-1583)

Luís de Almeida
Luís de Almeida nasceu em Lisboa no ano de 1525, sendo filho de uma rica família de cristãos-novos (termo que designava os judeus convertidos ao cristianismo). Formou-se em 1546 em medicina, recebendo o diploma de médico-cirurgião. Interessado em enriquecer através do comércio de especiarias na Ásia, seguiu viagem para a Índia por volta de 1548. Alguns historiadores cogitam que ele teria viajado no mesmo navio do padre Baltasar Gago, Luís Fróis e João Fernandez. De fato, Almeida chegou a conhecer Gago e Fróis, sendo que o padre Fróis relatou grande parte das missões realizadas por Luís de Almeida no Japão. Entre 1548 e 1553 trabalhou junto com o capitão Duarte da Gama, realizando várias viagens entre a Índia e a China, Luís não conseguira ficar tão rico como esperava, porém conseguiu reunir uma boa quantidade de dinheiro. Em 1553 na companhia de Duarte da Gama, Luís chegou ao feudo de Hirado (atualmente a cidade faz parte da prefeitura de Nagasaki). De Hirado, ele seguiu viagem para Yamagucha onde fora se encontrar com o padre Cosme de Torres. Na ocasião o padre e sua missão estavam em um estado miserável, faltava recursos para manter suas operações na região, pelo fato de Luís possuir dinheiro contribuiu com a missão. Luís posteriormente seguiu viagem com Duarte para Macau, e apenas dois anos depois é que retornou para o Japão.

"Tendo chegado a Hirado em Julho de 1555, Almeida logo se dirigiu a Funai com a incumbência de conseguir que um missionário, segundo o costumem viesse confessar a tripulação. Decidiu então ficar junto do P. Baltasar Gago, a fim de orientar a vida para o maior bem de sua alma". (CARVALHO, 1994, p. 108).

Comovido com as missões missionárias e os enfermos que iam buscar tratamento no chamado "Hospital dos Pobres" ou "Hospital de Nossa Senhora da Piedade do Bungo" organizado por Baltasar Gago, Almeida decidiu permanecer no Japão e ajudar. O padre Fróis conta que Almeida doou 2000 cruzados para a iniciativa do padre Gago, tendo ido Nunes Álvares, seu amigo, a Macau buscar o dinheiro. No mesmo ano Almeida decidiu entrar na Companhia de Jesus, e no ano seguinte fora sagrado noviço da companhia pelo padre Cosme de Torres. A vida missionária de Luís de Almeida estava por começar.

Em 1556, comovido pelas precárias instalações do dispensário que tentava funcionar como um hospital, decidiu investir seu próprio dinheiro para construir um local mais estruturado, ao lado da Residência dos Jesuítas, assim surgiu o Hospital do Bungo, o primeiro do tipo no país.

"Em 1557, procedeu à inauguração do hospital, que constava de dois departamentos: um para feridos e outro para os leprosos e doentes contagiosos. Verificando que o edifício era bastante diminuto para atender à crescente afluência de doentes, imediatamente empreendeu ampliá-lo com instalações suficientes. Simultaneamente ampliou também a Residência". (CARVALHO, 1994, p. 109).

Outro problema enfrentado por Almeida, fora a falta de médicos e enfermeiros, pois muito dos missionários que ajudavam não possuíam formação médica, a solução fora solicitar médico de outras colônias portuguesas, mas acima de tudo treinar os missionários e japoneses que se ofereceram para ajudar no hospital. Como os médicos de fora não vieram, Almeida tivera que se esforçar por criar uma equipe médica na região, pois embora houvessem médicos japoneses, esses desconheciam os métodos portugueses.

"No hospital, Luís Almeida estabeleceu uma botica, copiosamente abastecida de medicinas, que com frequência pedia a Goa e a Macau. Luís Fróis acrescenta que ele 'da China mandava trazer todas as coisas necessárias para a botica". (CARVALHO, 1994, p. 110 apud FRÓIS, 1976, p. 122). 

Almeida em algumas cartas chegou a dizer que a medicina japonesa era atrasada em relação a da Europa e até mesmo da vista na China e na Índia. Outro problema, era a falta de plantas medicinais para se fazer os medicamentos, daí a necessidade de serem importados. Almeida passou os quatro anos seguintes organizando, dirigindo e trabalhando no Hospital do Bungo, tal período contribuiu para que ele aprende-se a falar a língua japonesa, língua essa que Fróis dissera que Almeida aprendera rápido. Em 1561 decidiu dar início a suas peregrinações pelo país, peregrinações religiosas essas que ele manteria pelos vinte anos seguintes.

"Deixando o hospital de Bungo em pleno funcionamento, Luís de Almeida empreendeu a 4 de Junho de 1561 a sua primeira expedição apostólica. Por ordem do Pe. Cosme de Torres, visitou as cristandades de Hakata e das ilhas de Hirado, situadas entre Miyako (Kioto) e Kagoshima. Na cidade de Hakata, começou a exercer a medicina, o que lhe valeu a estima de todos. Dedicava no entanto a maior parte do tempo à pregação catequética. Depois visitou igualmente as cristandades das ilhas de Hirado. Nestes lugares, com a ajuda dos portugueses, cuja nau acabava de chegar, ergueu altares e deixou tudo preparado, para que algum sacerdote ali se possa estabelecer. Este esquema apostolado repetir-se-á no futuro em sucessivas expedições apostólicas". (CARVALHO, 1994, p. 111).

Almeida acabou ficando gravemente doente e chegando a correr risco de vida, no entanto, não especificam que male o tomou na ocasião. Ele acabou retornando em 1572 para Bungo, onde se recuperou, e em seguida passou a coordenar a criação de cinco igrejas nos arredores de Funai. Pelo fato de suas missões terem ocorrido ao longo de vinte e dois anos, seus relatos são extensos, o que me levaria a ter que dedicar um texto exclusivo para poder falar um pouco delas mas detalhadamente, no entanto farei um resumo de suas expedições, pois para os missionários portugueses posteriormente, Almeida depois de Francisco Xavier, fora o mais empenhado e esforçado missionários jesuíta no Japão. 

Entre os anos de 1562 e 1563 empreendeu missões em Yokoesura, depois seguiu para a província de Yamaguchi e a província de Omura, onde em Omura se tornou amigo do daimiô Shinzuke o qual fora batizado e adotou o nome de Dom Luís. Nos meses seguintes, conseguiu batizar mais japoneses, conseguir firmar um acordo comercial com Shinzuke, além de preparar locais para a construção de paróquias e igrejas. Além disso, o próprio Cosme de Torres visitou a província e ficou contente com o trabalho de Almeida. Luís ainda viajou no ano seguinte por outras vilas e feudos da província. No final de 1563 retornou para Funai, mas recebera a triste notícia que Yokoesura fora destruída em uma batalha.

De qualquer forma mais de um anos depois ele voltou a seguir viagem com o padre Luís Fróis, amigo de longa data, onde ambos viajaram para Sakai, lá Almeida permaneceu para cuidar de negócios, e Fróis seguiu para Quioto, porém devido ao frio do inverno, possivelmente Almeida tenha pego uma pneumonia, pois ele relata que passou quase um mês doente. Recuperado a saúde, partiu para visitar alguns feudos e cidades na região, se encontrando com outros missionários como o padre Vilela, até finalmente chegar a Quioto, onde reencontrou Fróis. Na ocasião eles não chegaram a realizar pregações em Quioto, pois realizaram uma breve estadia, porém segundo seu relato, alguns japoneses católicos moravam por ali, os quais entusiasmados com a visita dos missionários serviram de guias turísticos para lhes mostrar as belezas de Quioto e de Nara, a antiga capital do país. Outro fato a mencionar é que os missionários não tiveram acesso a Corte, pois curiosamente essa sempre se mostrou inalcançável para eles. 

Em 1566 passou o ano visitando as Ilhas de Goto, arquipélago localizado na província de Nagasaki, em companhia do Irmão Lourenço, japonês batizado por São Francisco Xavier. Um dos marcos da visita de Almeida nas ilhas fora o fato dele ter tratado o daimiô Gotoo Sumitada e sua família. Isso rendeu boas-vindas ao missionário na região. Porém no final do ano, Almeida novamente adoecera gravemente, vindo a se recompor quase duas semanas depois, porém partira para Shiki, onde o daimiô se mostrou interessado no comércio com Portugal, e assim permitiu que ele fosse batizado e seu povo também, na tentativa de se aproximar dos portugueses. O marco nessa questão fora a criação de uma igreja em Shiki, a primeira na região. 


Em destaque as Ilhas de Gotoo, localizadas na costa de Nagasaki. Local por onde Luís de Almeida missionou durante o ano de 1566 e em outras ocasiões. 

Entre 1567 e 1568 supervisionou a construção da primeira igreja em Nagasaki, concluída apenas em 1569, passando a se chamar Igreja de Todos os Santos. No ano de 1569 viajou para a ilha de Amakusa, onde conseguiu a amizade do senhor de Amakusa, conseguindo permissão para ali enviar-se posteriormente missões. Continuou a viajar por outras cidades e feudos nos anos seguintes, até que entre 1572 e 1574 não há registros de suas atividades, talvez tenha continuado a trabalhar, o permanecera em Funai cuidando do hospital. 

Entre 1575-1577 morou em Arima, onde após ter convertido o irmão do daimiô Arima Sumitada, chamado Arima Yoshinao em 8 de abril de 1576, várias pessoas quiseram se converter também. Segundo CARVALHO [1994] os relatos dizem que apenas em Arima, Luís de Almeida teria realizado oito mil batismos. Nos dois anos seguintes retornou para a província de Kagoshima onde continuou a trabalhar. Em 1580 fora consagrado sacerdote (ele fora consagrado padre, pois até então era um irmão ou frade). Passou os anos seguintes trabalhando em Kagoshima e depois em Amakusa onde veio a falecer em outubro de 1583, deixando um grande legado missionário que fora além de conversões, mas na fundação de paróquias, igrejas, angariação de fundos para as missões, a criação do Hospital do Bungo, a criação de um colégio para formação de médicos, etc.


Hospital Memorial Almeida, localizado na cidade de Oita, Japão.

O bispado do Japão

Em 1558 o papa Paulo IV através da bula Etsi sancta et immaculata, criou as dioceses de Goa, e as novas dioceses de Malaca e Chocim. Nesse caso, a China e o Japão estavam nessa época subordinados a diocese de Malaca. No entanto, ainda faltava se escolher um bispo para cuidar da China e do Japão, mas tal resposta demorou anos para sair. Fora em 1566 que o papa Pio V através da bula Ex litteris, nomeou o padre Belchior Carneiro (1516-1583), como bispo de Niceia (cidade turca) e pároco auxiliar do Patriarca de Etiópia. No entanto, o bispo Belchior Carneiro não chegou a visitar o Japão, porém conseguira chegar a Macau, e lá residiu até o final da vida. Belchior também fora designado como bispo de Macau e do Japão. 

Em 23 de janeiro de 1576 o papa Gregório XIII expediu a bula Super specula, na qual criava a diocese de Macau, a separando da diocese de Malaca, mas a deixando sujeita a autoridade da diocese de Goa. 

"Segundo o texto pontifício, a nova dioceses compreendia a cidade de Macau e as ilhas adjacentes, 'todos os territórios de China e Japão sujeitos ao rei de Portugal', na época Dom Sebastião". (LOPEZ-GAY, 1994, p.80). 

O rei D. Sebastião nomeou D. Diego Nunes Figueira para o cargo de bispo de Macau e do Japão, mas esse acabou renunciando a indicação antes de tomar posse. Em seu lugar fora escolhido D. Leonardo de Sá, membro da Ordem de Cristo. Leonardo aceitou o cargo e em 1581 chegou a Macau, onde passou a trabalhar ao lado do bispo Belchior Carneiro. Na ocasião o rei designara que o bispo Leonardo de Sá deve-se viajar com urgência para o Japão pois o país voltava a viver período difíceis devido as "guerras feudais" que ali se desenrolavam a mais de um século. A questão era que os portugueses que ali viviam e os japoneses cristianizados estavam recebendo ameaças de daimiôs e outros líderes que eram contrários a pregação do cristianismo no país. 

Oda Nobunaga
A situação piorou após a morte do daimiô Oda Nobunaga (1534-1582) o qual desde 1560 vinha "protegendo" os portugueses, pois Nobunaga fora um dos grandes daimiôs a se converter ao Cristianismo, embora tenha feito isso por interesses políticos e não religiosos, pois Nobunaga acreditava que assim conseguiria apoio dos portugueses e dos japoneses cristianizados, e ao mesmo tempo era uma forma de se combater os templos budistas os quais eram opostos a sua política de guerra. Se o Cristianismo prevalece-se na região, isso enfraqueceria os templos budistas, donos de muitas terras, as quais eram cobiçadas por Nobunaga. Porém o sucessor de Nobunaga, seu antigo "braço-direito", Toyotomi Hideyoshi (1536-1598), não possuía a mesma tolerância que Oda Nobunaga acerca dos cristãos, Hideyoshi via o Cristianismo como algo pernicioso a cultura japonesa e ao código de conduta e de vida dos samurais, chamado de Bushido. Assim, em 1587 ele expediu o Édito de Hakata o qual baniu os portugueses da região central do país, os deixando limitados ao sul do país. Na tentativa de contornar tal problema, fora decidido criar de vez um bispado no Japão.

Em 19 de fevereiro de 1588, o papa Sisto V criou o Bispado do Japão no feudo de Funai (faz parte atualmente do território da cidade de Oita) na província de Bungo. De acordo com o relato de um jesuíta da época, o bispado japonês possuía autoridade sobre "66 reinos", que incluíam oito províncias japonesas, o Reino da Coreia, as ilhas de Yezo (atualmente Hokaido), as ilhas de Rykyu (ao sul do Japão) e a ilha de Formosa (atual Taiwan). Na ocasião fora escolhido o jesuíta Sebastião de Moraes (?-1588) para ser o novo bispo do Japão, o primeiro oficialmente com a fundação do bispado japonês, porém o bispo acabou adoecendo enquanto realizava a viagem de Lisboa a Goa, vindo a morrer na costa de Moçambique. 

O papa Sisto V nomeou o padre Pedro Martins (1542-) para assumir o cargo de bispo do Japão. Martins entrou para a Companhia de Jesus em 1556, se mostrando um homem adepto aos estudos, o que lhe rendera o título de "doutor". Em 1585 fora enviado como embaixador de Roma para a Índia, porém seu navio acabou naufragando na costa de Moçambique, dos 12 missionários que seguiam a bordo, 7 morreram na ocasião, e por pouco Martins não fora o oitavo. Acabou chegando em Goa no ano seguinte. 

Em 1589 foi nomeado bispo de Goa, e no mesmo ano recebeu algumas cartas enviadas pelo padre jesuíta italiano Alessandro Valignano (1539-1606) o qual morou alguns anos no Japão e o visitou três vezes, daí o mesmo ser referido como O Visitador. Valignano em suas cartas escrevia a respeito da situação complicada que se passava naquele momento no país, além disso ele dizia que um grupo de dominicanos havia chegado no Japão e estavam se desentendo com os jesuítas, posteriormente franciscanos chegaram ao país. Entre esses dominicanos alguns eram espanhóis e italianos, embora todos soubessem falar o português e poucos sabiam falar o japonês. 

Na ocasião Pedro Martins era bispo de Goa e não do Japão, porém em 1593 chegou em Macau já tendo sido eleito bispo do Japão, sendo o quarto a assumir o cargo. Em Macau, Martins residiu pelo restante do ano em companhia do padre Alessandro Valignano a quem veio conhecer pessoalmente, e o qual no ano seguinte seguiu viagem para a Índia. No entanto, Valignano não deixou uma boa impressão do novo bispo, sobre isso ele se referiu a ele em uma de suas cartas:

"Claramente el obispo es acusado que aspira al obispado de China; no trata bien a los jesuítas; no vive com la austeridad propria de un religioso, y finalmente busca la colaboración y el apoio de los frailes menores, pero de los portugueses,  no de los españoles de Manila". (LOPEZ-GAY, 1994, p. 84).

No entanto, o autor Lopez-Gay ressalva que a opinião de Valignano é questionável acerca da atuação do bispo, pois outros relatos como do padre Lucena, apontam que o bispo tenha agido de forma correta e justa em seu cargo e no trato dos demais. De qualquer forma, mesmo assim a visita de Martins ainda demoraria três anos.

Em 1596 abordo do navio Santo Antônio, o bispo Pedro Martins finalmente chegou ao Japão, sendo o primeiro bispo católico a chegar ao país, como também de fato o primeiro bispo do bispado japonês a visitar o local, já que nenhum de seus antecessores havia feito isso. 

Toyotomi Hideyoshi
Segundo os relatos dos missionários da época e das cartas oficiais expeditas pelo bispo a diocese de Goa, ainda no ano de 1596 já tendo dado início a seus afazeres, o bispo Martins crismou 4 mil japoneses, realizou 20 tonsuras (cerimônia para conceder grau na Ordem religiosa) como também ordenou cinco irmãos como membros da Companhia de Jesus. Entretanto uma das missões de Martins era tentar por fim a perseguição dos japoneses cristianizados e dos missionários no país, sendo assim, o bispo reuniu uma comitiva e fora ainda no mesmo ano falar com o daimiô Toyotomi Hideyoshi. Sobre isso, o padre João Rodrigues, já mencionado anteriormente nesse texto, atuou como intérprete do bispo na reunião com o daimiô. Martins não apenas se apresentou ao daimiô como sendo bispo do Japão, mas como embaixador da Santa Igreja, do vice-rei da Índia e do próprio rei de Portugal. Segundo o relato de João Rodrigues, o daimiô Hideyoshi recebera a comitiva do bispo com honra e gentileza, mas o mesmo não apresentou sinais que iria ceder a paz aos cristãos e aos demais estrangeiros que viviam no sul do Japão (portugueses, espanhóis, italianos, chineses e filipinos). Depois dessa conversa sem muito entendimento por parte do daimiô, o bispo fora conversar com os dominicanos e os franciscanos, por causa dos desentendimentos dessas duas ordens entre si e com os jesuítas. Porém, a situação veio a piorar no ano seguinte. 

Perseguições, exílios e reclusão

De Osaka, Pedro Martins seguiu para Nagasaki, cidade fundada pelos portugueses por volta de 1570, embora governada pelos japoneses desde então. Hideyoshi em fevereiro de 1597 ordenou que o governador de Nagasaki expulsa-se todos os missionários da cidade, na ocasião o bispo se encontrava em Nagasaki quando ocorreu o sangrento acontecimento. Seguindo as ordens do daimiô, o governador ordenou que os missionários fossem expulsos a força da cidade, sendo alguns feridos, espancados, apedrejados, porém a grande questão que marcou aquela data, fora a crucificação de 26 homens, o que ficou conhecido como Os 26 Mártires de Nagasaki ou Os 26 Mártires do Japão

Monumento aos 26 Mártires do Japão, Nagasaki. 

Dos 26 mártires, seis eram franciscanos que haviam vindo de missões nas Filipinas, sendo quatro espanhóis, um mexicano e um indiano; três japoneses jesuítas e 17 japoneses cristianizados, sendo desses dezessete, três eram adolescentes que estavam para ingressar na Ordem Terceira de São Francisco. Os mesmos foram capturados, crucificados e perfurados por lanças, sendo que nesse caso, eles foram mortos pelos ferimentos causados pelas lanças e não propriamente pela crucificação. Sobre tal terrível acontecimento o bispo relatou o seguinte:

"Colocaron las 26 cruces en el suelo, y con cinco argollas de hierro, una en el cuello dos en los brazos y dos en los pies, sujetaron los cuerpos a las cruces. Luego levantaron las cruces con los cuerpos. Todos los mártires daban señales de alegria con cantos y animándose. Fueron profundamente heridos con las lanzas de los ministros de la justicia. Los cristianos que lograron acercarse lloraban. La causa de la muerte estaba escrita en lengua japonesa: 'porque estos hombres no dejaban de predicar la Ley de los cristianos, que yo (Hideyoshi) prohibí en los años passados rigurosamente, mando que sean crucificados en Nagasaki, quedando sus cuerpos en la cruz. Y yo prohibo de nuevo esta Ley bajo la misma pena de muerte". (LOPEZ-GAY, 1994, p. 91). 

Pintura japonesa do final do século XVI ou começo do XVII, retratando o martírio dos 26 cristãos em Nagasaki, em 5 de fevereiro de 1597. 

Alguns dias depois do martírio, o bispo Martins escreveu uma carta para o chefe dos franciscanos nas Filipinas relatando a tragédia ocorrida. Pedro Martins relatou em algumas cartas que tal incidente fora um martírio, que aqueles homens como cristãos devotos morreram crentes em sua fé, e sua morte não deveria ser esquecida. Então o bispo escreveu um documento intitulado, Instrumento autêntico da feliz e gloriosa morte de vinte e seis cristãos, que morreram crucificados por nossa santa fé em Nagasaki, a 5 de fevereiro de 1597.

"Tres motivos movieron al obispo a elaborar este documento: 'lo mucho que importa para la honra y gloria de Dios nuestro Señor y loor de su Iglesia exhaltación de nuestra santa fe católica y aumento de esta cristiandad de Jappón y consuelo de toda la demás cristiandad de otras partes del mundo', un nuevo motivo es cumplir con 'la obligación que tenemos ex officio de sacar dicho Instrumento e mandarlo a Su Santidad para que informado auténticamente de la verdad de estas muertes y causa de ellas, ponga a los dichos crucificados la Iglesia de Dios', y el último motivo es informar a su Magestad para que no se olvide de esta cristiandad que tanto promete, enviando misioneros y ayudas económicas". (LOPEZ-GAY, 1994, p. 93). 

Em março de 1597 o bispo e outros missionários tiveram que deixar o país. Ele seguiu para Macau e no ano seguinte partiu para Goa, mas acabou falecendo durante a viagem de volta a Índia. Em 1627 os 26 mártires foram beatificados em 1862, o papa Pio IX os canonizou, se tornando os primeiros santos japoneses. 

Toyotomi Hideyoshi veio a falecer em 1598, mas sua morte não significou o fim da perseguição aos cristãos. No mesmo ano o sucessor do bispo Pedro Martins, o novo bispo do Japão, Luís Cerqueira (1552-1614) chegou ao país. Cerqueira fora pároco auxiliar do bispo durante sua missão no país (1596-1597), agora em retorno ele se dirigiu para Funai, sede do bispado onde lá governou pelos quinze anos seguintes, mesmo tendo sido ameaçado de morte, e sabendo que alguns cristãos estavam em perigo, Cerqueira mantivera a convicção de permanecer no Japão, para proteger os católicos e continuar com sua pregação. Durante seu mandato, ele criou paróquias, seminários, formou padres japoneses, criou escolas para se ensinar japonês aos missionários e até mesmo latim e português para os japoneses, algo que já vinha sendo tentado alguns anos, pois Angiró aprendera além do português, um pouco de latim.

Carta do vice-rei da Índia Portuguesa, Duarte de Meneses para o dáimio Toyotomi Hideyoshi, datada de abril de 1598. 

No entanto Hideyoshi faleceu no mesmo ano não levando a cabo a proposta de reconciliação com a Igreja e seus missionários, e a revogação de seu édito. Seu sucessor fora Tokugawa Iyaasu (1543-1616). Nos anos seguintes, Iyassu conseguiria finalmente reunificar o Japão após meio século de tentativas, e o Clã Tokugawa passaria a chefiar o país pelos dois séculos seguintes, sendo que o próprio Iyaasu recebera o título de xogum (comandante-general) em 1605, nesse caso, enquanto o imperador detinha o poder monárquico e temporal, o xogum detinha o poder político e militar. 

Entretanto, assim como Hideyoshi, Tokugawa Iyassu não se mostrou favorável ao evangelização no país e tão pouco aos acordos comerciais e religiosos com os europeus, pare eles os nanban eram intrusos naquelas terras e não eram bem-vindos, pois pregavam "mentiras" para os japoneses, através da religião que chamavam de Cristianismo. Além disso, ele também enxergava os mercadores portugueses como inescrupulosos e gananciosos. 

Os anos seguintes foram conturbados para os missionários no Japão, Tokugawa estava determinado a expulsá-los ou pelo menos restringir o acesso destes ao país. Alguns japoneses católicos temendo as perseguições e linchamentos  começaram abandonar o país ainda em 1592. Barreto [1994] conta que cerca de 300 japoneses católicos foram buscar exílio nas Filipinas, lá eles fundaram a cidade de Dilao. Em 1606 o número de exilados crescera para 1500, posteriormente os exilados fundaram as cidades de São Miguel e com o apoio de chineses católicos, a cidade de Pagranjan. Em 1622 ele aponta que pelo menos 3000 japoneses católicos se encontravam exilados nas Filipinas, fora que parte de alguns que deixaram o país foram buscar exílio em Macau. 

Os missionários, comerciantes e japoneses católicos que se mantiveram no país, tiveram que evitar de se expor. No caso das famílias católicas, essas chegaram a ter que mentir, dizendo que não eram cristãs para não serem vítimas da perseguição que se desenvolvia no sul do país. Em outros casos, as paróquias e igrejas chegaram a serem destruídas pelos revoltosos, o que levou os católicos a realizarem as missas em casa ou escondidos em outros locais como cavernas, na floresta, etc. Até mesmo símbolos cristãos, como imagens de Cristo crucificado, cruzes, estátuas de santos, etc., foram destruídos, porém os fiéis encontraram formas de burlar essas destruição, ocultaram os símbolos em outros símbolos.

Estátua de Buda com uma cruz nas costas. Tal fato era uma forma dos cristãos japoneses conseguirem manter seu culto no período de perseguição instaurado no país a partir de 1587. 

Em 1609 os holandeses chegaram ao país interessados nas oportunidades de comércio, chegaram a fundar uma feitoria em Nagasaki, mas acabaram em pouco tempo descobrindo que a situação do país não era nada amigável e oportuna para os estrangeiros. O xogum Tokugawa chegou a expedir decretos para se fiscalizar os portos e limitar o acesso de navios estrangeiros nestes. Os holandeses ainda continuaram a voltar ao país nos anos seguintes, porém acabaram desistindo de prosseguir com a empreitada. Os espanhóis, franceses e ingleses não mostraram interesse em se arriscar a ir comercializar com o Japão.

Xogum Tokugawa Ieyasu
Logo, Portugal devido ao bispado ali fundado, e as missões organizadas desde 1559 se mantivera firme em tentar contornar esses problemas, mas a situação só viria a piorar. Em 1614 o bispo Luís Cerqueira veio a falecer, seu corpo fora transportado para Macau a fim de que fosse enterrado. Seu sucessor Diogo Valente (?-1633), governou a diocese japonesa a partir de Macau. Alguns cronistas chegaram a dizer que o mesmo tivera medo de viajar para o Japão. Embora o novo bispo não chegou a visitar a sede de seu bispado; mas alguns missionários jesuítas, franciscanos e dominicanos, assim como comerciantes ainda continuaram a visitar o país, mesmo que em 1614 o xogum decretou o Édito de Expulsão Cristã, proibindo as pregações no país, a entrada de missionários, e expulsando os católicos que ali residiam. Mesmo com a promulgação desse novo édito, alguns missionários não abandonaram o país e outros continuaram a visitá-lo, sob disfarce. O comércio diminuíra com a China, Filipinas e Coreia, porém não fora totalmente proibido, embora que navios europeus praticamente foram restringidos em aportar nos portos japoneses. 

No ano de 1626 ocorrera o segundo martírio, O Martírio de Fogo. o sucessor de Iyassu, seu filho Tokugawa Hidetada (1579-1632) manteve as políticas de perseguição e banimento do cristianismo e de fechamento do país, tal fato fora marcante quando no ano de 1626 o padre Francisco Pacheco, o qual era governador do bispado do Japão, pois o cargo de bispo fora suprimido pela Igreja devido as dificuldades que o país vivenciava, fora junto com os padres João Baptista Zola e Baltasar de Torres, quatro jesuítas japoneses, um jesuíta coreano e nove japoneses católicos, totalizando quinze pessoas, todos em junho daquele ano foram queimados vivos em fogueiras. O novo martírio fora visto como o ponto final por alguns para se continuar a tentar recuperar o bom entendimento com os japoneses. Em 1867 o papa canonizou os quinze mártires. 

De fato, a Igreja Católica deixou de nomear bispos para o país, o que levou os reis portugueses a nomearem governadores, que de Macau teoricamente supervisionavam a diocese japonesa. Por outro lado, alguns missionários determinados e corajosos continuaram a se infiltrar no país, no entanto, os reis de Portugal já não viam como sendo proveitoso manter o comércio com os japoneses. O açúcar produzido no Brasil e o tráfico negreiro em África, já haviam suplantado o lucro adquirido com o comércio de especiarias na Índia, Malaca, Indonésia e Macau. O Japão não seria no caso comercial, uma grande perda para ser lastimada. 

Amakusa Shiro
As perseguições se mantiveram nos anos seguintes, incluindo novas vítimas nas fogueiras e o aumento de exilados. Em 1637 eclodiu a Rebelião de Shimabara, na península de Shimabara na província de Nagasaki, na ocasião o xogum aumentou absurdamente os impostos feudais, o que levou ao descontentamento dos camponeses, ao mesmo tempo, muitos camponeses de Shimabara e de Amakusa, ilha vizinha, eram católicos, e devido as perseguições que vinham sendo realizadas, alguns desses camponeses foram alvos dessas perseguições, então eles reuniram para protestar contra o governo. O líder da rebelião fora Amakusa Shiro (1621?-1638), um adolescente que embora jovem fora eleito líder por seu carisma e astúcia. A rebelião contou com o apoio dos camponeses e dos samurais locais, os quais eram cristãos, a família governante tentou impedir, mas suas forças foram derrotadas.

Os rebeldes tomaram o Castelo de Hara o qual estava abandonado e ali o reforçaram para servir de fortaleza. As lutas perduraram até abril de 1538, levando o xogum Tokugawa Iemtsu a pedir ajuda a navios holandeses para bombardear o local, algo que os holandeses na esperança de manterem o comércio com o país atenderam o pedido do xogum. Além disso, o xogum enviou um exército de mais de 120 mil homens para esmagar a rebelião. Os rebeldes não foram poupados, foram decapitados e suas cabeças exibidas como uma aviso. O próprio Amakusa fora decapitado e sua cabeça fora exibida em Nagasaki. Além disso, o xogum ordenou uma retaliação, dando ordens para se prender e executar os cristãos da região.

Em 1639, Tokugawa Iemtsu proclamou o Édito de Isolamento do Japão, proibindo a entrada dos portugueses e outros europeus. A Coroa Portuguesa no ano seguinte enviou uma embaixada de 74 pessoas lideradas por quatro embaixadores, mas os quatro embaixadores ao chegarem no Japão foram executados, e das 70 pessoas restantes, apenas 13 foram poupadas e enviadas de volta a Macau, com o aviso de que não voltassem mais. Sete anos depois o embaixador Gonçalo de Sequeira de Sousa retornou ao país, conseguiu sair vivo, mas as negociações fracassaram. De acordo com Teixeira [1994], o último contato que os portugueses tiveram com os japoneses datou de 1685, onde um navio português fora proibido de permanecer no porto de Nagasaki e recebera a mensagem para nunca mais voltar.

Os kakure kirishitan

Embora que definitivamente as "portas" do Japão foram fechadas para os missionários europeus e asiáticos e até mesmo para os comerciantes, os japoneses católicos que permaneceram no país ainda continuaram a manter sua fé e a dar-lhe continuidade. Estes como anteriormente fora dito, continuaram a realizar as escondidas as missas e outras celebrações litúrgicas. Tal fato os levou a serem chamados de kakure kirishitan (cristãos escondidos). O termo é uma criação moderna para se referir aos católicos japoneses após o final do Período Nanban (1543-1640), termo que designa o período que o país mantivera contato com nações europeias e asiáticas, por via religiosa, comercial, política e cultural. 

Estátua da Virgem Maria e do Menino Jesus, disfarçados como a deusa Kannon e uma criança. Para fugir da perseguição imposta no país.

O grande problema que os historiadores apontam acerca da preservação do cristianismo japonês é o fato que este nos dois séculos seguintes fora bem deturpado. Poucos foram os padres e missionários japoneses que foram formados, e muitos destes haviam ou sido mortos ou se exilaram do país. A Bíblia ainda não havia sido traduzida para o japonês, tal tradução só veio a surgir no século XIX em Macau, e quanto aos textos de catequese em japonês, muitos foram destruídos durante as perseguições, logo, alguns japoneses leigos se tornaram "sacerdotes" e passaram a prosseguir com o culto cristão, o mesclando com o budismo a fim de disfarçá-lo das autoridades, e até mesmo buscando apoio doutrinário, pois muitos dos que permaneceram, desconheciam em grande parte a doutrina católica cristã. Logo, os historiadores apontam que havia diferenças de como o Cristianismo era pregado nas províncias japonesas, devido a reclusão desses pequenos grupos de cristãos e a falta de contato entre si. 

No século XIX, com o início da reabertura do país, alguns missionários franceses foram admitidos no país, os mesmos descobriram a existência desses grupos marginalizados, os kakure kirishitan. Em 1846, o papa Pio IX fundou o vicariato japonês, nomeando o missionário francês Théodore-Augustin Forcade como primeiro vigário-apostólico do Japão. A ideia do vicariato era de se criar uma nova diocese no país, pois a Diocese de Funai, fundada em 1588 havia sido destruída há mais de dois séculos. Assim, o vicariato fora estabelecido em Tóquio a nova capital do país. Em 1876, já durante o período da Restauração Meiji, onde o imperador Meiji procurou por fim ao domínio do Clã Tokugawa no país e reabrir o Japão para o mundo, e ao mesmo tempo modernizá-lo, o vicariato fora dividido entre Tóquio e Nagasaki, e posteriormente entre outras áreas. Atualmente desde 1891, existe a Arquidiocese de Tóquio (Katorikku Tōkyō Daishikyōku).

NOTA: Documentos das missões japonesas sugerem que no final do século XVI a população de católicos japoneses fosse estimada entre 200 a 300 mil, Consistindo assim o maior número de católicos asiáticos, pois na China, o cristianismo estava limitado a ilha de Macau e suas adjacências, na Índia, apenas nas cidades onde os portugueses dominavam, havia cristãos, embora nem toda a população houvesse se convertido. Em Malaca a população era reduzida; nas ilhas que hoje formam a Indonésia, o número de cristãos era pequeno, pois grande parte da população era muçulmana, e ainda continua sendo.
NOTA 2: Hoje no Japão cerca de 1% para mais ou para menos, se reconhecem como cristãos. Grande parte da população japonesa não declara sua religião, no entanto, pesquisas apontam que a maioria da população seja budista ou agnóstica e até mesmo ateia. O xintoísmo compreende uma parcela pequena assim como outras religiões no país, atualmente.  
NOTA 3: Ainda no século XVI, algumas embaixadas japonesas visitaram o Vaticano, a fim de firmar laços de união com esse, mas tais empreendimentos particulares não surtiram efeito no Japão após o início das perseguições em 1597. 
NOTA 4: O romance Silêncio (1966), escrito por Shusaku Endo, aborda a respeito dos kakure kirishitan. Por sua vez, seu outro romance, Samurai (1980) retoma a questão do cristianismo, mas agora mostrando um grupo de samurais que viajam para o México e depois Espanha e Itália, para intuitos mercantis. Porém, alguns desses japoneses se convertem ao cristianismo. 
NOTA 5: No mangá/anime Samurai X (Rurouni Kenshin - Meiji Kenkaku Romantan) na Saga dos Cristãos (saga exclusiva do anime), Kenshi e seu grupo confronta um grupo de kakure kirishitan liderados por Shogo Amakusa.
NOTA 6: O padre Luís Fróis escreveu História do Japão, por sua vez João Rodrigues escreveu História da Igreja do Japão. O padre Alessandro Valignano escreveu centenas de cartas e comentários acerca de suas visitas ao Japão. 

Referências Bibliográficas:
YAMASHIRO, José. Japão: passado e presente, São Paulo, HUCITEC, 1978.
SERRÃO, Joaquim Veríssimo. Portugal e o Mundo: Nos século XII a XVI. Editorial Verbo, Lisboa/São Paulo, 1994.
MONIZ, Antônio Manuel de Andrade. A evangelização do Japão na óptica de Fernão Mendes Pinto. In: O Século Cristão do Japão: Actas do colóquio internacional comemorativo dos 450 anos de amizade Portugal-Japão (1543-1993). Lisboa, Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa da Universidade Católica Portuguesa e Instituto de História de Além-Mar da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 1994. 
PIRES, Benjamin Videira. Baltasar Gago, SJ e a terminologia cristão do Japão. In: O Século Cristão do Japão: Actas do colóquio internacional comemorativo dos 450 anos de amizade Portugal-Japão (1543-1993). Lisboa, Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa da Universidade Católica Portuguesa e Instituto de História de Além-Mar da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 1994. 
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CARVALHO, José Vaz de. Luís de Almeida, médico, mercador e missionário no Japão (1525-1583). In: O Século Cristão do Japão: Actas do colóquio internacional comemorativo dos 450 anos de amizade Portugal-Japão (1543-1993). Lisboa, Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa da Universidade Católica Portuguesa e Instituto de História de Além-Mar da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 1994. 
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RADULET, Carmen M. O "Cerimonial" do Pe. Alessandro Valignano: encontro de culturas e missionação no Japão. In: O Século Cristão do Japão: Actas do colóquio internacional comemorativo dos 450 anos de amizade Portugal-Japão (1543-1993). Lisboa, Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa da Universidade Católica Portuguesa e Instituto de História de Além-Mar da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 1994. 

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